ABRUPTO |
![]() semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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15.10.03
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(JPP)
No folclore popular (e patriótico) grego, há vários poemas sobre os últimos dias de Bizâncio cristã. Num deles, conta-se a derradeira visita do imperador Constantino XI à maior igreja da cristandade, a da divina sabedoria, Ayasofya. Perante o imperador prostrado, os ícones choravam, e mesmo a Virgem, que encima do alto a nave da igreja, estava perturbada. O poema promete “Está calma, querida Senhora, está calma, e não chores por eles Porque, mesmo que passem os anos, e passem os séculos, tudo será teu de novo.” No dia seguinte, Bizâncio era turca e o vencedor fez algo que até então nunca tinha sido feito: transformou a igreja das igrejas em mesquita. Na primeira sexta-feira, o dia da “comunidade”, veio orar a Alá e o gigantesco edifício foi expurgado da idolatria cristã. Os mosaicos de ouro foram tapados com gesso, as cruzes de mármore das balaustradas foram picadas. Com os anos, as inscrições caligráficas em honra do profeta taparam os anjos, cuja face foi substituída por uma estrela, tornando-se em monstros abstractos, presidindo sem sentido a cada canto da mesquita. Pouco a pouco, pequenos acrescentos típicos da arquitectura religiosa otomana foram ocupando o interior da igreja: o sítio de onde o íman fala, um mihrab, etc. Mas é no exterior que os novos minaretes mais semelhanças lhe dão com uma mesquita. E no entanto…nem o longo poder otomano apagou um ar, um silêncio qualquer, uma presença indefinida, uma nostalgia, um lamento, uma lembrança. Não queria lá estar à noite, porque demasiada gente invisível habita aquelas colunas. ![]() ![]() (url)
© José Pacheco Pereira
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