ABRUPTO

10.10.03


AUTONOMIAS

Não existe hoje, a não ser residualmente, em Portugal, qualquer autonomia entre a esfera do político e do mediático. Quem pretender analisar a vida política sem ao mesmo tempo analisar o papel dos media, dos jornalistas, dos jornalistas como agentes políticos, e dos donos dos media como actores de poder, económico e político, é mau analista.

Não é hoje possível discutir qualquer acto político dissociando-o da sua representação nos media, aquela que é a face visível, e, mais importante ainda, a face “compreensível”, dos eventos. Os factos são dados pela sua representação (cuja é, por sua vez, resultado de escolhas jornalísticas, títulos, planos televisivos, sons na rádio, que são a camada mais opaca e mais difícil de ler pelo público em geral, e por isso a mais manipuladora), e pela “compreensão”, que é hoje cada vez mais misturada no relato factual, a tal ponto que este muitas vezes quase não existe. A “compreensão” é a leitura dos factos dando-lhes um sentido, e não existe qualquer separação de fundo, ou de qualidade, entre um discurso político feita por um jornalista, um político, um médico veterinário, ou um popular. É feito com ideias políticas, mais ou menos elaboradas por outros discursos e saberes, mas assenta em opiniões que têm uma fábrica comum.

(Continua)

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© José Pacheco Pereira
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