ABRUPTO

19.9.03


TWILIGHT ZONE (Actualizado)

Quando passou, em Portugal, a primeira série da Twilight Zone, ainda os aparelhos de televisão eram raros e ver televisão era uma actividade colectiva e reverencial, que tinha lugar numa sala especial, onde muitas vezes os vizinhos vinham a seguir ao jantar, sentando-se calados diante do ecrã a preto e branco. Eu fiquei imediatamente preso pela série, tão diferente era do habitual, tão interessantes as suas histórias para um entusiasta de ficção científica, que lia todos os livros da Argonauta em que punha a mão em cima.

Então, ou se via um programa, ou nunca mais se voltava a ver. Nessa altura, nada era repetível e ninguém imaginava que o fosse, antes de haver gravadores de vídeo. “Faltar” a um episódio, ou a um programa, era perdê-lo para sempre; daí o meu receio de ter alguma coisa que me impedisse de ver a Twilight Zone. Foi a primeira série que me prendeu à televisão. Até hoje.

Um episódio que nunca mais esqueci e de que me recordo como de uma história tristíssima, foi “Time enough at last”, filmado em 1959. Conta a história de um apaixonado por livros, a quem ninguém permitia ter tempo para ler, nem a mulher, nem o patrão, ninguém. Um dia, por acaso, escapa solitário a um holocausto nuclear, e encontra-se com todo o tempo e todos os livros para ler. Num contentamento infinito dobra-se para apanhar um monte de livros, para abraçar todos os livros do mundo … e deixa cair e partir os óculos, sem os quais não consegue ler. Pior que o suplício de Tântalo.

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Comentários dos leitores:

"Estamos no mesmo escalão etário e as minhas reminiscências do mesmíssimo episodio do Twilight Zone são tão absolutamente próximas das suas (…) «Sacor Moligrafite apresenta...» costumava dizer o Pedro Moutinho, todo satisfeito, antes de começar a ler as cartas de protesto de inúmeros telespectadores indignados pelo episodio precedente..." ( ASMarques)

"Quando a série passou em Portugal ainda era muito novo. No entanto, fruto das repetições, também eu tomei contacto com a série. E o facto curioso, que me levou a escrever este email foi ser precisamente esse um dos episódios que nunca mais esquecerei. Recentemente tive a oportunidade de rever o episódio na SIC Radical fruto de mera sorte. Nas duas vezes em que vi o episódio fiquei com a mesma sensação que é bastante difícil de descrever. Diria que me deixou bastante triste e angustiado, o que é bastante estranho pois trata-se apenas de um programa de televisão. Mas naquele momento final eu era o protagonista da série e tinham acabado de me tirar tudo o que havia no mundo. Era arrepiante." (Bruno Costa)


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© José Pacheco Pereira
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