ABRUPTO

2.9.03


RENTRÉE LITTÉRAIRE

Os franceses tem uma rentrée littéraire com pompa e circunstância. Este ano, em Setembro, estão previstas 700 obras de ficção, originais e traduzidas, e 600 ensaios (números da Lire ). É obra, isto é que é escrever! E no entanto... passeando os olhos por algumas destas novidades já publicadas, nada me suscita um entusiasmo particular. Pode ser que esteja a ser injusto, porque há aspectos da edição francesa muito interessantes, - por exemplo, na filosofia, nas ciências sociais, em certas áreas de história, como na história antiga e medieval -, mas ao ver as estantes de novidades pejadas de romances e textos sobre a actualidade, tão confrangedoramente superficiais, nada me anima às compras. O anti - americanismo na não - ficção é tão obsessivo que todos os livros parecem iguais. E eu não preciso de um pretexto muito forte para comprar um livro...

Uma das razões deste meu desinteresse pela própria literatura fíccional, que , insisto, pode ser injusto num ou noutro caso, tem a ver com o carácter claustrofobico da vida intelectual francesa, a sua falta de abertura ao exterior, o seu pequeno dinamismo , que não me dá indicadores de qualidade. A crítica literária agressiva, a controvérsia, é o que me aponta, no meio das centenas de livros, o que vale a pena ler. Em França , a não ser nos ocasionais escândalos , como o de Catherine Millet, está-se um pouco como em Portugal , é tudo bom. É uma diferença abissal com o corrosivo meio literário anglo - saxónico , como se vê, nestes dias, com as controvérsias violentas á volta de Martin Amis e do Booker Prize.

SÓ PARA SE PERCEBER

a diferença, e para não parecer que digo mal de tudo o que é francês, veja-se a lista de livros que um aluno de francês do equivalente ao 11o. ano português, tem como leituras obrigatórias este ano: de Shakespeare, Hamlet, Otelo, e Macbeth , a Metamorfose de Kafka, Andromaca de Racine, Escola das Mulheres de Moliére, Pierre e Jean de Maupassant, o Estrangeiro de Camus, Huis Clos e As Moscas de Sartre.

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© José Pacheco Pereira
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