ABRUPTO

5.9.03


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES

Durante uma semana não tive acesso ao correio electrónico enviado para o Abrupto e por isso recebi-o por junto. Talvez pela acumulação é mais nítida a qualidade de muitos comentários e críticas, a que se acrescentam outras notas em diferentes blogues. Agradeço aos seus autores pela indicação que me fazem chegar do que é publicado sobre o Abrupto noutros blogues, com a certeza que todos são lidos e o que dizem tido em conta.

Alguns dos comentários recebidos por carta são a seguir publicados. Por regra identifiquei os seus autores por inicias, pois nem sempre a assinatura do interior correspondia ao endereço do correio. De qualquer modo, se algum dos autores destes comentários me assinalar em que nome os pretende assinar eu substituirei as iniciais.

As entradas estão ordenadas da nota mais recente para a mais antiga.

LINHA EDITORIAL?

Durante o período das inspecções ao Iraque e posterior guerra, vivi em Madrid, onde tive oportunidade de ler os vários jornais lá editados (El País, La Razón, La Vanguardia, El Mundo, etc.). O que fundamentalmente reparei, além do conteúdo, foi um claro posicionamento de cada jornal relativo ao conflito, mais especificamente nos editoriais e artigos de opinião, uns mais à direita, outros mais à esquerda.(…) Mas estes posicionamentos não impedirão um pouco o debate de ideias dentro dos meios de comunicações sociais? Nos jornais até veria a solução, aliás existente, de o debate ser, por exemplo, entre linhas editoriais de dois jornais, fazendo referências mútuas. Mas no caso das rádios e das televisões, já não me parece que funcionasse tão bem.”

(R. R.)

NÃO VI E CONTINUO A NÃO VER

Estive em Génova como em muitos outros desses sítios, não com o bloco nem com o pc nem com a attac, e alguns desses sítios participei nesses motins, e sobre eles digo-lhe apenas que o seu cepticismo em relação aos media deveria abranger todas as descrições do que se passou, se estiver eventualmente interessado posso-lhe fazer chegar a si outros relatos do que aconteceu. Em nenhuma dessas situações foi alguém atacado ou espancado.
Nunca ouvi nem conheci nenhuma história ou relato de um ataque físico a alguma pessoa por ser "burguesa" ou capitalista. Nunca os encontros violentos com a polícia assumiram contornos de tortura ou de violência gratuita (a não ser por parte da policia). Poderá discordar totalmente com a destruição de (e da) propriedade privada enquanto método para criar um mundo mais justo, mas creio que será bastante fácil distinguir violência contra objectos, mercadorias e lojas de violência contra pessoas.”


(leitor identificado)

PARECERES

Também li uma notícia sobre os 300 pareceres. No Expresso desta semana era uma “curta” da última página e o título era exactamente “ Constituição Europeia – Parlamento pede 300 pareceres”. Desde logo me perguntei onde teriam arranjado em Portugal 300 constitucionalistas, ou mesmo 300 professores de direito aptos a dar pareceres. Depois preocupei-me vagamente com o orçamento da Assembleia que ia ficar muito mal tratado. O texto do artigo sossegou-me um pouco e tira alguma, mas só alguma, razão ao seu comentário. Afinal foram pedidos Pareceres à tal sociedade civil – não sei se as cartas foram enviadas para o Canal 2...
Segundo o Expresso os destinatários das cartas são as Universidades, sindicatos, parceiros com assento na Concertação Social, associações de estudantes – ou não fosse o António José Seguro a tomar a iniciativa – associações ambientais, plataformas de mulheres e Conselho Nacional de Juventude, entre outros. Pode ser que afinal não seja assim tão tecnicista e esteja totalmente entregue ás minudências dos professores de direito.”


(T.B.)

RENTRÉE LITTÉRAIRE

Não se pode em caso algum dizer mal de tudo o que é francês (com excepção da obsessão anti-americana dos franceses), e deve-se sobretudo apreciar a qualidade do ensino secundário francês. Neste aprende-se a pensar. No português aprende-se a memorizar. No primeiro adquirem-se conhecimentos essenciais. No segundo impingem-nos factos e dados absolutamente inúteis. Falo com conhecimento de causa. Frequentei o ensino secundário francês e estudei os programas de português do 12º ano de filosofia e história para poder fazer os exames de acesso à faculdade. A diferença era abismal. No ensino francês, em filosofia, por exemplo, estudávamos temas sobre os quais tínhamos de dissertar posteriormente. No ensino português obrigaram-me a estudar obras inteiras de autores, sendo-nos solicitado nos exames que despejássemos a opinião de tal ou tal autor sobre este ou aquele tema. Num pensávamos. No outro recitávamos. Em história, no programa do 12º francês(1993) estudei as consequências da segunda guerra mundial, o período da guerra fria, as descolonizações. Para os exames de acesso à Faculdade portuguesa estudei termos e métodos de história. Seja lá o que isso for.

Escusado será dizer que a adaptação ao ensino português foi verdadeiramente penosa. E isto de uma pessoa que nunca viveu noutro país que não Portugal. É bom que não se diga mal de tudo o que é francês.”


(M. R.)

COSA MENTALE


Não conheço [nunca estive junto a ele] o quadro que retrata o interior da igreja de S. Lourenço em Alkmaar. Nunca estive em Roterdão e a reprodução que apresenta no seu blog é o único registo a que tive acesso.

Pieter Saenredam, contemporâneo de Jan Vermeer, Emmanuel de Witte e Gerard Houckgeest entre outros, fez parte da chamada Dutch Golden Age. Conjuntamente com os dois últimos P Saenredam foi considerado um especialista na arte da perspectiva sendo amiúde considerado o verdadeiro mestre.

Não concordo com a sua visão perspéctica deste quadro. Pior é o facto de ela pôr em causa uma parte do seu belo texto.

Taque 1 – Os homens, se colocados na zona da primeira porta, teriam um terço da altura desta. Parece-me razoável, até para chegar ao ferrolho que se pode ver do lado direito (ferrolho que está ainda mais para cá do plano vertical de referência da parede...).

Taque 2 – Os mesmos homens, se deslocados ao longo da horizontal de referência em que se encontram, fossem levados, por exemplo, para o Claustro, ficariam ali muito bem.

Taque 3 – A derradeira porta, no plano do fundo, é obviamente mais pequena do que aquela de que aqui falei. Mas, mesmo assim, não é demasiado pequena para que os nossos homens ali possam passar. São as leis da perspectiva.

Usei de alguns “truques” no Photo Shop, certo! Mas, penso que assim se torna mais fácil explicar o que tinha para lhe dizer.”
(Comparar a imagem "tratada" com o original junto da nota "Cosa Mentale")

(F.)

(url)

© José Pacheco Pereira
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