ABRUPTO

18.9.03


NOVA EUROPA, VELHA EUROPA 2

Um bom exemplo da confusão sobre questões europeias, uma no cravo e outra na ferradura, é o artigo de Louçã intitulado pomposamente “Carta Aberta ao Presidente da República e ao Primeiro-ministro Contra o Medo da Europa”. Nele quer-se estar com Deus e com o Diabo, o que é um pouco o que esta corrente política faz na Europa. Os “verdes” e os trotsquistas, em muitos países europeus, são ultra-ortodoxos a favor da Constituição Europeia ( como no PE ), mas na Suécia foram contra o euro. Em Portugal , onde nunca tinham ligado muito à Europa, a que eram mais hostis do que amigos, descobriram-se agora europeístas por anti-americanismo durante o conflito do Iraque.

No meio destas flutuações tácticas, a proposta de Louçã é irresponsável e meramente tribunícia. Ele propõe, num tom majestático, nem mais nem menos que um referendo imediato sobre estas “pequenas” matérias:

Por isso vos proponho, senhor Presidente e senhor primeiro-ministro, que o referendo se realize o mais cedo possível para escolher sobre questões fundamentais, como a condição de um processo constituinte democrático, a primazia da Constituição portuguesa ou europeia, o modelo presidencial do Conselho Europeu, os princípios da política orçamental europeia, os objectivos de protecção social ou as opções militares da União.”

Se um referendo se realizasse nestes termos seria uma fraude democrática total, porque os eleitores seriam chamados a pronunciar-se sobre tudo… ou seja, sobre nada. A não ser que o objectivo de Louçã seja desde já garantir o sim à Constituição Europeia e o “medo” que ele tem é que se crie uma conjuntura favorável ao não. E lá se vai a “velha Europa”…

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© José Pacheco Pereira
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