ABRUPTO

2.9.03


NÃO VI E CONTINUO A NÃO VER

Seguem-se algumas breves notas a um comentário que o Terras do Nunca fez ao Early Morning Blogs de hoje . Infelizmente o tempo não dá para ir mais longe.

Terras do Nunca (TN) - "Por exemplo, no jornal em que JPP escreve (quase) todas as semanas, o respectivo director, José Manuel Fernandes, comparou as manifestações anti-globalização aos hooligans do futebol."

JPP - Não é propriamente a mesma coisa , nem é a comparação que eu disse que nunca vi: casseurs anti-globalização, descritos amavelmente como "anarquistas", com os neo-nazis. Mas o José Manuel Fernandes serve para justificar tudo, como se a sua mera existência e o que ele escreve, tivessem mudado num ápice o clima de esquerda que se vive na generalidade dos media portugueses. José Manuel Fernandes é a excepção que confirma a regra, não é a regra.. A própria estranheza e hostilidade com que o José Manuel Fernandes é tratado, mostra como o seu caso é isolado. Na realidade, as suas posições são claramente solitárias , mesmo no Público, e a fúria com que foi tornado um alvo, nos meses do conflito iraquiano, mostra até que ponto muita gente não engole, passe o plebeísmo, que um director de um jornal possa quebrar o consenso, mais esquerdista do que de esquerda, dos media portugueses.

TN - "Na imprensa portuguesa, de resto, ao contrário do que se propagandeia, as teses da direita prevalecem actualmente sobre as da esquerda. Basta ler os editoriais. Eu sei que quanto aos extremos é um pouco diferente. "

JPP - Esta frase só pode ser dita se se considerar que as posições de direita começam imediatamente à esquerda de Manuel Alegre e se calhar incluindo-o. Se, em vez de direita, se nomeasse o bloco central, já se podia discutir com alguma vantagem. Na verdade, as posições institucionais de alguns órgãos de comunicação social escrita, porque na televisão já é diferente, são próximas do bloco central, quando o PSD está no poder. Quando o PS está no poder, são próximas do PS. E, num caso e noutro, são próximas do "soarismo" clássico e não da sua actual vertente esquerdista. Insisto, posições institucionais, porque se se sair dos editoriais e se passar para tudo o resto, as background assumptions estão todas na tradição esquerdista, mais até do que da social-democracia de esquerda.

TN - "Mas se JPP quisesse usar da perspicácia com que tantas vezes nos brinda, perceberia que os elogios à extrema-esquerda chique (leia-se Bloco) que surgem nesses jornais se destinam mais a achincalar a outra esquerda (leia-se PS) e a fazer o jogo da direita actualmente no poder."

JPP - De facto, a minha perspicácia não chega para perceber que os elogios ao BE não são genuinos . A mim sempre me pareceram que são, se descontarmos os de Marcelo Rebelo de Sousa. Se se destinam "a achincalhar o PS" é natural , exactamente porque são genuínos e quem os faz está mais à esquerda do PS , ou então gosta do radical chic do BE . Essas pessoas, mesmo quando votam no PS, tem a boa consciência no BE. A tese de que os elogios ao BE se destinam " a fazer o jogo da direita actualmente no poder", não entra dentro da minha limitada perspicácia, conhecendo-se quem os faz nas diferentes redacções.

TN - "Aliás, quanto a esta questão, convinha que JPP nos desse alguns esclarecimentos. Por exemplo, sobre se considera algumas posições do actual PP de direita ou de extrema-direita. "

JPP - O autor do Terras do Nunca sabe certamente o que tive ocasião de dizer, quando da constituição da coligação governamental e como votei solitário contra ela, exactamente por ter reservas de carácter político e ideológico não quanto ao PP , mas ao partido unipessoal do Dr. Portas. Fi-lo quando a imprensa de esquerda dizia que era "excessivo" falar de extrema direita a propósito do dr. Portas. Evito repeti-lo agora, quando todos arrombam uma porta que já está aberta.

TN - "Tudo o que se tem escrito sobre as relações entre Paulo Portas e a religião é mais do domínio da direita ou da extrema-direita?"

JPP - A fé de cada um merece respeito e privacidade, sob condição de não ser usada como instrumento político. No caso da missa em memória do militar morto em Timor, não estou certo se essa privacidade foi respeitada. Já noutros casos que conheço , como nos comícios em Aveiro, em que o dr. Portas se persignava praticamente em público, esta atitude já me parece condenável. Mas não é aí que está a extrema direita, aí existe apenas oportunismo político. Está , por exemplo, em muitas outras coisas em que ninguém reparou a tempo, como no apoio às milícias populares de justiceiros , num outro Verão de imensos fogos, que a memória curta de uma ou duas semanas ,em que vivemos na comunicação social , já esqueceu.

NOTA - Fica de fora desta controvérsia a questão de fundo sobre se é comparável a extrema esquerda e a extrema direita, suscitada em perguntas como esta do Terras do Nunca - "se se podem fazer equivaler, por exemplo, as posições neo - nazis às de partidos parlamentares como o BE"?.-, porque a resposta implica todo um outro debate , a que voltarei noutra altura. Devo desde já dizer que, formulada a questão doutra maneira, a minha resposta é sim.

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© José Pacheco Pereira
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