ABRUPTO

9.9.03


LIVROS: NÃO HÁ FOME QUE NÃO DÊ FARTURA

Depois de dois meses sem livros bruxelenses, lá se foi uma pequena fortuna na Waterstone's e na Tropismes, gasta com alegria. Entre os livros que comprei, dois têm como objectivo a curto prazo o Abrupto. Um , uma história ilustrada da firma Delhaize, a grande cadeia de supermercados belgas, para escrever uma nota sobre o “meu” Delhaize, no bairro belga onde habito, um supermercado muito especial como vão ver (ler). Outro que não é propriamente para ler, mas folhear, o Stupid Whitemen de Michael Moore, para escrever uma nota sobre o personagem, um clown moderno de que os radicais gostam muito.

Previno desde já que não li nenhum dos livros que aqui nomeio, mas apenas refiro as razões porque os comprei. Este aviso tem algum sentido, porque, com alguma surpresa, vi Marcelo Rebelo de Sousa insistir na última revista Os Meus Livros na ficção de que lê sessenta livros por mês, incluindo dicionários, monografias locais, livros de gestão, histórias infantis. Diz ele na revista, acusando o toque dos cépticos como eu, que sabem o que é ler livros e o tempo que demora, que não tem culpa dos outros lerem pouco porque dormem mais. Ele lerá as listas imensas de livros, que enumera no “li e gostei”, porque dorme pouco. Será que Marcelo acha que é o único que lê e que convence alguém de que, mesmo sem dormir um minuto, se pode ler dois livros por dia? Estamos no domínio das lendas urbanas.

Comprei livros muito diferentes, por razões muito diferentes. Eis alguns deles: na ficção o último livro de Coetzee, intitulado Elizabeth Costello. Desde que li Disgrace , passei a ler tudo de Coetzee, porque Disgrace é uma das grandes novelas contemporâneas. Depois, on the light side, o último livro de Robert Harris, Pompeii. De novo, porque gostei dos anteriores, do Fatherland, do Enigma e do Archangel. Nunca li nada de Harris, e acho que li quase tudo, sem ter a sensação, que costuma ser descrita nos elogios da contracapa, de não conseguir parar.

Na não-ficção, comprei uma tradução francesa de Peter Handke, intitulada Autour du Grand Tribunal sobre os julgamentos do TPI em Haia, e um livro de Haruki Murakami intitulado Underground sobre os ataques com sarin no metro de Tóquio. Não sei se este livro é bom ou mau, mas o subtítulo “The Tokyo gas attack and the Japanese psyche” interessou-me, porque dificilmente tenho mais a impressão da alteridade cultural do que quando vejo qualquer coisa japonesa. Filmes, banda desenhada, anime, desenhos animados. Aquilo é outro mundo com um traço de sado-masoquismo e de violência muito alheio à cultura ocidental. Como não os percebo, interessam-me.

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© José Pacheco Pereira
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