ABRUPTO

4.9.03


LINHA EDITORIAL?

(Na sequência da nota"Não vi e continuo a não ver")

Sem querer avançar, para já, muito mais na discussão , ela própria um pouco viciada, sobre se os órgãos de comunicação social portugueses são de "direita" ou "esquerda" , duas das mais ambíguas palavras correntes no nosso vocabulário, acrescentaria um ponto que deveria ter colocado previamente e que talvez ajudasse a arrumar o debate. É questão de saber se os nosso órgãos de comunicação social tem uma orientação editorial que possa ser identificada?

Num ou noutro caso, têm, ou pelo menos um embrião de orientação, como se pode perceber no Independente. Mas a regra é não terem, o que explica uma certa esquizofrenia. Esta divide-se em duas variantes: uma, a de, num mesmo jornal, haver diversos editoriais, nalguns casos completamente contraditórios, conforme os seus autores; outra, a de não existir consistência entre a linha definida nos editoriais e o conteúdo de diferentes secções, em particular as de política nacional e internacional.

Uma das razões porque me parece inaceitável, no caso português, julgar a "cor" política de um jornal pelos seus editoriais , é essa inconsistência interior. No caso da guerra do Iraque, por exemplo, os editoriais do Diário de Notícias eram às vezes, pró-coligação, mas o noticiário diário era baseado nos artigos de Robert Fisk, notório opositor da intervenção, e cujos originais saiam num jornal inglês que tinha essa oposição como linha editorial.

É uma fragilidade da nossa comunicação social essa ausência de linhas editoriais claras e eu defendo a prática anglo-saxónica de os media tomarem posições públicas sobre matérias de política corrente. Contrariamente ao que se pensa , isso não prejudica em nada o pluralismo, e só clarifica a relação com o leitor, ouvinte ou telespectador. A TSF, por exemplo, deveria tê-lo feito quando do conflito iraquiano, definindo editorialmente a sua posição contra a intervenção da coligação.

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© José Pacheco Pereira
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