ABRUPTO

21.9.03


ANATOMIA DE UM SARILHO

Meto-me hoje no que pode ser um sarilho monumental. Desde fins de Junho que estava combinado com a SIC (primeiro com a SIC Notícias e depois com a SIC) um pequeno espaço sobre “produtos”. “Produtos” dos media, da comunicação, da política, da cultura. etc. Como é meu hábito, não divulguei o que se passava e a SIC também não o fez, pelo que só agora se soube. Assisti, em seguida, a algumas notícias sobre as peripécias dos comentadores da televisão, com alguma íntima ironia.

Ao aceitar fazê-lo no noticiário de domingo, por sugestão da SIC , é inevitável que tal pareça um confronto com Marcelo Rebelo de Sousa na TVI , que domina indiscutivelmente esse espaço da programação. A sua fórmula, sejam quais forem as reservas que se tenham, tem sucesso por mérito próprio e definiu um certo standard do comentário político. Para tudo o que se pareça com comentário político, este é o espaço mais armadilhado da televisão portuguesa.

Não tenho qualquer intenção competitiva, por dois motivos principais. Por um lado, porque, naquele esquema, dificilmente alguém fará melhor, muito menos eu. Marcelo é, ao mesmo tempo, o criador e o melhor executor da sua criação. É um comunicador nato e usa os mecanismos apropriados. Pode discutir-se o conteúdo, mas não o domínio da fórmula que é total e tailor made.

O segundo motivo é que o que quero fazer é diferente. Não é completamente diferente, mas aponta noutro sentido. É mais parecido com o que pretendi e pretendo fazer com o Abrupto. No entanto, não beneficio aqui da vantagem do Flashback e de Marcelo, que é o reconhecimento pelos ouvintes e telespectadores do modelo e da habituação, o que é uma enorme vantagem da continuidade e da repetição. Por isso, vai ser árduo ao princípio, e pode ficar sempre assim.

Não faço nenhuma verdadeira distinção de fundo, embora as haja de método e de tom, entre o que escrevo nos jornais, escrevo no blogue, digo na rádio ou na televisão. A mim o que me interessa é argumentar, persuadir e se possível convencer, porque não sou indiferente ao que penso e àquilo sobre que tenho opiniões, não sou indiferente aos resultados das palavras na acção, considero que há um sentido cívico neste tipo de intervenções. Vamos ver se resulta.

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© José Pacheco Pereira
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