ABRUPTO

1.6.03


LER DUAS VEZES 2

Ler duas vezes o Mau Tempo no Canal de Nemésio por Rita Maltez

Por um lado, as sensações que temos ao relermos um livro podem ser diferentes consoante o nosso próprio estado de espirito do momento ou em função de alterações mais estruturais na nossa forma de pensar, ver, elaborar, problematizar e até sentir . E até em função da nossa própria abertura a novas sensações.
Reli há pouco tempo o Mau Tempo no Canal. Talvez 20 anos depois de o ter lido a primeira vez. E desta vez, mais do que a história, e sem prejuizo dela, dei comigo a admirar a forma como é contada, o modo como são magistralmente usadas as palavras. E ia pensando: "Bem .. a história, é vulgar, a pobre rapariga enclausurada na ilha, com sonhos e aspirações, corajosa, voluntariosa, etc , etc.... . A forma de a contar é que é diferente. Isso é que marca a diferença deste livro."
Quando, na minha primeira leitura, o que me agradou foi exactamente o enredo. E confesso que nem lembro de ter reparado na forma. Talvez nem soubesse reparar nela. Fui eu que mudei. (e reeditei, sem querer, o velho problema de saber se o que conta na arte é a forma ou ou conteúdo)”


Ler duas vezes Clareiras no Bosque da Zambrano , Rui Magalhães Paixões e Singularidades , Herberto Helder e Ruy Belo por Maria P.


"Clareiras no bosque" da Zambrano (musa das minhas parcas escritas, o livro não a autora, claro!!) e o apaixonado ensaio do Rui Magalhães "Paixões e Singularidades" (Angelus Novus). Depois a poesia toda do HH e do Ruy Belo, a que volto e revolto e não esgoto. O acto de reler nasce daqueles livros que nos provocam a "entrar pela janela"; que nos deixam a sensação de haver vários graus de leitura a explorar; nesses livros, a primeira leitura é muitas vezes um retirar a tampa, sem, ainda, colocar a mão no doce (ou no amargo). é fabulosa essa sensação de se estar a ler a mesma coisa e parecer que ela é sempre nova, que se renova aos nossos olhos.

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© José Pacheco Pereira
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