ABRUPTO

22.5.03


TERTÚLIA COM A MONTANHA MÁGICA 2

Pergunta-se na Montanha

Chegados aqui, podemos voltar ao princípio: que novo século queremos?”

Quando Castorp desceu da Montanha encontrou na planície forças mais poderosas em acção do que as que moviam o ímpeto de Settembrini ou Naphta nas suas discussões . Essas forças eram “filhas” da “educação” que lá em cima Castorp teve no mundo “mágico” da Montanha ( interessante me parece agora a palavra “mágica” , bem pouco de Mann … ) : o nacionalismo , o comunismo , o nazismo já estavam dentro quer do jesuíta quer do mação .
Se nós hoje descêssemos da Montanha , onde a “educação” provavelmente seria mais pobre , encontramos também forças terríveis em acção , talvez com menos “ismos” , a não ser o “fundamentalismo” que é mais uma atitude do que um sistema . Se olharmos para o século XXI encontramos uma confluência de movimentos . desejos , vontades , actos num sentido que talvez nunca tenha sido tão perigoso.

Penso , de há muito , que o século XXI vai ter um problema muito sério com a proliferação de armamento nuclear , químico e biológico . São cada vez armas mais acessíveis e no caso do armamento biológico , potencialmente destrutivas do tecido social , muito antes de deixarem o seu cortejo de mortos . O que se está a passar com o SARS é apenas um pequeno exemplo , exagerado pela cobertura mediática , mas mesmo assim devastador . Se alguém atacar com a varíola , então ver-se-á como é .

Havendo os meios , há também os executantes . este novo surto de terrorismo apocalíptico , que , auto-destruindo-se , quer levar consigo o maior número de pessoas , encontra nestas armas um instrumento perfeito . A conjugação destes dois factores , armas e vontade implacável de as usar , gera riscos infinitos . Já não lidamos com guerras macro , mas sim com guerras micro . O small is beautifull chegou á mais antiga e persistente actividade humana . Se Castorp descesse hoje e não em 1913 ou 1914 , era esse o “baile trágico” que teria de dançar .

Diz a Montanha Mágica

É possível, hoje, século XXI, a ressurreição de Cristo? É aqui, caro JPP, que parece divergirmos, pois achamos que já existe esse mundo novo, e ao contrário dos primeiros cristãos que se escondiam nas catacumbas, pois não tinham outra solução, hoje esse Amor existe, e manifesta-se livremente tanto na sociedade em geral (será uma minoria? Não sabemos.), como em vários domínios específicos, como por exemplo, o das artes. “

Não sei . Nem nas artes . Pode muita coisa já ter acabado e nós não termos dado por ela e estarmos num oceano de esterilidade convencidos que a força da poiesis continua .


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© José Pacheco Pereira
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