ABRUPTO

23.5.03


PAÍS BASCO , A DOIS DIAS DE ELEIÇÕES

Recebi de Edmundo Moreira Tavares um e-mail muito interessante sobre a situação no país basco , que aqui publico , numa grande parte , com autorização do autor. Insere-se na tentativa que tenho feito , – sem grandes resultados , a dois dias de eleições , onde mais uma vez uma parte dos bascos vão votar sem liberdade plena - , para suscitar uma maior atenção a esse problema tão nosso vizinho .


A situação que descreve, [ em notas afixadas no Abrupto em 14 e 16 de Maio ] de condicionamento da opinião "espanholista" é uma realidade que, inclusivamente, vai mais além dos exemplos políticos que apresenta. Há bastiões "abertzales" onde o "espanholismo" vive, pode-se dizer, em estado de acantonamento por intimidação, senão mesmo em autêntica clandestinidade cívica. É assim em aldeias do Norte de Navarra, da maior parte de Guipúzcoa ou do extremo leste de Vizcaya. Consultando os resultados eleitorais verifica-se que, não obstante uma séria erosão de votantes, as"capas legais" da ETA ainda têm resultados espantosos.

Diga-se que esse é um universo onde sempre se falou basco e onde o "espanholismo" sociológico teve sempre expressão limitada. Contudo, o elemento essencial do radicalismo independentista nem está tanto aí. Como observa, está no PNV-EAJ (Partido Nacionalista Vasco) e no EA (Eusko Alkartasuna) - partidos burgueses teoricamente "moderados" que dominam, em conjunto, para aí 2/3 da geografia eleitoral, de uma forma transversal. Esta é a base social de apoio do independentismo histórico, havendo uma incontornável cumplicidade entre ela e os jovens radicais, de onde emerge a ETA. Forçando a nota, é um pouco como o que se passa entre Arafat e o Hamas...

As aspas que coloquei em"moderados" advém de que, quanto ao objectivo (explícito), não há divergência com os radicais "abertzales". Com efeito, o objectivo é a independência e há também a mesma lógica de exclusão em relação ao"espanholismo". A burguesia indígena, desde a mais atávica à mais progressista, partilha desta ideia "soberanista" e exclusivista. O bom clero, o diligente professorado, até o pequeno empresariado empreendedor, partilham esta sensibilidade e acorrem a votar diligentemente de eleição em eleição no PNV-EAJ ou no EA, suceda o que suceder.

Esta é uma sólida base social. Logo, estes partidos "moderados" não podem ir mais além do que formais homilias condenatórias e paternais ralhetes sobre os jovens"abertzales"... Toda a "sua gente", lá bem no fundo, simpatiza com essa juventude...O mais curioso é que, sem ignorar a opressão franquista, o nacionalismo basco assenta as suas bases em alguns equívocos.

1 - Ao longo dos tempos pré-industriais não houve significativa tensão entre os bascos e o estado espanhol - de um modo geral, houve até muito menos do que noutras regiões. As primeiras tensões (e fortes) deram-se com a chegada da industrialização, mas, na sua expressão política, estiveram muito longe de assumir uma forma "anti-espanhola", foram antes manifestações de feroz tradicionalismo, perfeitamente integráveis numa ideia nacionalista espanhola radical (Carlismo).

2 - Uma parte dos símbolos e iconografia nacionalista (bandeira, designações territoriais) não é originária de uma genuína cultura basca, supostamente rural e hermética, mas de um trabalho artificioso dos jovens nacionalistas urbanos de primeira geração - finais do século XIX, inícios do século XX.

3 - A ideologia fundadora do nacionalismo basco (Sabino Arana Goiri, finais do século XIX) constitui uma teoria racista de cariz positivista. Pertence ao mesmo ramo das que estiveram na base da ideologia nazi. Sustenta uma individualidade rácica, cultural basca, apartada das componentes estruturantes da Espanha moderna. Deve-se notar, contudo, que muitas as linhas de investigação, sobretudo através da língua, convergem no sentido deque alguns elementos da matriz linguística castelhana, no que esta divergedas suas parceiras românicas, são originárias do basco ! É bem sabido que as origens do castelhano são, sob o ponto de vista geográfico, íntimas daquilo a que os independentistas desinam como "Euskal Herria" (Terra dos Bascos): Extremo Norte da actual Província de Burgos e La Rioja."

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© José Pacheco Pereira
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