ABRUPTO

30.5.03


OBJECTOS EM EXTINÇÃO 6

Continuam as contribuições para o catálogo dos objectos em extinção . António lembra-se dos teclados das máquinas de escrever , que , aliás . migraram para os computadores :

De facto acabaram as máquinas de escrever, mas, mais grave ainda, desapareceu o teclado lusitano "HCESAROPZ" que, por força das circunstâncias informáticas, foi substituído pelo anglo-saxónico "QWERT". Não sei se isto é uma perda irremediável para a cultura lusíada e ignoro o que se passou no Brasil. Sei apenas que, aqui na França, continuamos a utilizar, sem problemas, o teclado "AZERTY".

Ivone Mendes recorda-se de outros objectos , alguns já aqui referidos , mas a lista vale pela sua globalidade , na lembrança sentimental de um mundo a desaparecer debaixo dos nossos olhos :


“-televisão a preto e branco
-telefonias a válvulas
-as válvulas das telefonias e, mais tarde das televisões (fundiam-se e substituíam-se, lembra-se?)
-discos de 78 rotações (não sou desse tempo mas é a minha mãe ainda viva!)
-grafonolas.
-pick-ups (tive um destes gira discos portáteis cor de rosa clarinho que era um sucesso nas festas todas!)
-canetas de tinta permanente que se enchiam nos frascos (no exame da quarta classe recebi uma linda, nacarada!)
-o exame da quarta classe
-as quartas de manteiga
-sabão azul e branco a peso
-o açúcar a peso tirado de dentro de sacos de estopa
-enfim... quase tudo o que era de mercearia podia ser comprado a peso
-os marçanos que nos entregavam as compras em casa
-o pão à porta dentro do saco de pano que dizia bordado em letra inglesa: Pão
-a menina dos olhos (nunca experimentei mas vi quem tivesse experimentado!) [Nota de JPP : penso que será a palmatória ]
-lâminas gilette e respectivo aparelho que tinha um parafuso em cima que se desapertava para colocar a lâmina que cumpria a sua função dos dois lados. “



Nelson Alexandre comenta o que escrevi sobre a durabilidade e as suas causas de alguns objectos mais antigos :

“À primeira leitura, pareceu-me evidente essa relação dos objectos ("... cadeiras , mesas , camas , pratos , copos , alguns talheres , a colher em particular. ") com a forma física do nosso corpo e com a nossa cultura alimentar. Mas só numa primeira análise. Porque, se deixarmos de lado a nossa cultura ocidental e olharmos a Oriente, todos esses referências culturais mudam e com elas, a forma dos objectos usados e mesmo a maneira como usamos o corpo em relação a eles; não muda, é claro, a forma física do nosso corpo. Pelo que, se calhar não serão tanto "objectos muito dependentes da forma física do nosso corpo , do modo como ele pousa , ou se alimenta" mas ligados a resistências culturais intrinsecas em relação a aquilo que será a nossa alimentação. A grande revolução dos objectos sempre teve como força impulsionadora a tecnologia. Só os avanços técnologicos permitiram que os objectos fossem evoluindo, resolvendo necessidades e, ao mesmo tempo, criando "janelas de possibilidades" para outras necessidades. Obviamente só uma profunda mudança nos nossos hábitos alimentares poderá criar a necessidade para o aparecimento de novos utensilios, por outro lado, a evolução tecnológica poderá trazer a faca de cortar a laser, certamente mais higiénica. E aí, passaremos a discutir uma outra questão pertinente, será um objecto definido pela sua forma, ou pela sua função? “

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© José Pacheco Pereira
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