ABRUPTO

27.5.03


OBJECTOS EM EXTINÇÃO 4

1. Frederico Hartley recorda-se assim dos objectos em perdição :

Ao ler o post Objectos senti-me invadir por uma estranha melancolia e rapidamente passaram por mim uma miriade de utensilios que (à semelhança do lince ibérico) estão de tal forma em risco de extinção que chegamos a duvidar que eles alguma vez tivessem existido. E isto com a agravante de eu ter apenas 26 anos... mas vamos ao que interessa (aos objectos portanto) Os LPS, os singles de vinil; o meu ZX Spectrum 48 K de memória; as declarações de amor rabiscadas em papelinhos e passadas debaixo da mesa na aula de matemática (substituidas por sms com muitos K à mistura num código que eu acho absolutamente indecifrável); as cartas, os postais e os telefonemas em cabines telefónicas em horários previa e meticulosamente combinados quando as férias grandes nos apartavam da luz dos nossos olhos e nos remetiam para um silêncio e uma distância dificil de contornar; a máquina cor-de-laranja de fazer iogurtes consumidos ao pequeno almoço antes de ir para a praia; as cópias passadas literalmente a papel quimico; e poderia continuar mas já tive a minha dose de nostalgia, acho que vou fazer uma corrida de caricas com o meu primo ou ver os desenhos animados apresentados pelo Vasco Granja, intercalados pelos anuncios da pasta medicinal Couto, o Restaurador Olex, a bic laranja escrita fina ou a bic cristal escrita normal.”

2. A questão dos objectos em extinção , que tanto interesse tem suscitado em muitos dos que para este blog escrevem e nos outros blogs ( um dos últimos foi a Linha dos Nodos ) , não é apenas uma mera lista . O objectivo é perceber se somos capazes de entender essa fluidez do tempo a passar à nossa volta . Não é em primeiro lugar um exercício de nostalgia , embora também possa ser , nem um catálogo da evolução tecnológica .
Se olharmos em volta para as coisas que nos são familiares, a pouco a pouco a desaparecer das partes visíveis da casa , da roupa , do corpo , e a imperceptivelmente mudarem para as dispensas ou os sótãos , perdida a sua função útil , percebemos melhor que a força invisível do tempo atravessa tudo à nossa volta . Se pudéssemos fazer um filme da nossa vida , dos seus lugares , da sua ecologia , que em minutos resumisse 100 anos – e a prazo isso será possível com o projecto do MyLifeBits a caminho do Windows (voltarei a falar disso ) - teríamos então algo de parecido com os efeitos especiais de alguns filmes de ficção cientifica . Recordo , por exemplo , uma velha versão cinematográfica da máquina do tempo de H.G.Wells , em que isso acontecia – a partir de uma casa vitoriana para os campos verdes da distopia futura . Aliás a própria máquina também desaparece como os nossos objectos

"I seemed to see a ghostly, indistinct figure sitting in a whirling mass of black and brass for a moment—a figure so transparent that the bench behind with its sheets of drawings was absolutely distinct; but this phantasm vanished as I rubbed my eyes. The Time Machine had gone."


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© José Pacheco Pereira
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