ABRUPTO

24.5.03


A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Poucos livros me deram maior prazer em reler nos últimos tempos do que a A Ilustre Casa de Ramires . Hesitei em escrever “reler” , porque em Portugal toda a gente “relê” mesmo que não tenha lido , mas no meu caso é a humilde verdade . Mas também é verdade que já me lembrava pouco do que tinha lido e , acima de tudo , tinha lido diferente , como muitas vezes se lê noutra idade . Aliás toda a minha experiência é a de que certos livros devem ser lidos duas vezes . A Alice no País das Maravilhas , as Viagens de Gulliver , Robinson Crusoé , os Contos de Andersen , tem uma dimensão na imaginação da infância e adolescência e outra nos sentimentos e no intelecto depois , e nenhuma substitui a outra .
Voltando à Casa . esse retrato póstumo que Eça deixou de Portugal , do seu amor por Portugal , da sua pertença a Portugal , devia ser leitura obrigatória . Tudo é bom , o retrato do Gonçalo Ramires , a cobardia de Ramires , a província e a cidade da pequena política comunicante entre ambas , a novela “histórica” que alguns pensam ser um pastiche irónico de Herculano , mas que é uma notável história de per si , o sonho de Ramires , o segundo sonho colonial de Ramires , e o fabuloso diálogo final identificando Gonçalo , nas suas qualidades e defeitos com Portugal , numa apreciação certeira de uma personagem secundária de quem não se esperava tal intuição .


LER DUAS VEZES – UMA SUGESTÃO

Seria interessante conhecer a experiência de quem leu duas vezes o mesmo livro e sentiu a leitura como algo de muito diferente . Voltarei a escrever sobre isto .

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© José Pacheco Pereira
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