ABRUPTO

23.5.03


FUTEBOL NOS ÚLTIMOS DIAS

Achei que valia a pena citar o que escrevi sobre esta matéria , há pouco mais de um ano (Março 2002) , na ultima campanha eleitoral :

"A redução da campanha eleitoral ao futebol é típica de quem entende Portugal como um país do Terceiro Mundo .Infelizmente muita gente que vive hoje num estado de grande excitação com os eventos recentes é mesmo do Terceiro mundo . Cabeça leviana e de “pensamento débil” , não lê e não se interessa vivamente por nada , nem por coleccionar selos , nem jardinagem , nem pintar modelos de aviões , nem por fazer jogging aos domingos . Ou vivem numa pasmaceira ensonada , vitimas de tudo e de todos ; ou zangados com o mundo todo , a começar no colega de trabalho e acabar nos “políticos” .
O futebol eles percebem . É simples , uns ganham outros perdem , basta contar os golos . Que três é maior que dois ainda faz parte da matemática que se ensina nas escolas . Depois percebem aqueles ânimos exaltados de uns contra os outros , as zangas e as reconciliações , toda aquela barulheira que enche a primeira meia hora dos noticiários televisivos , as mentiras , as peripécias , os cheques que deviam ter entrado e não entram , os negócios imobiliários de milhões , as “chicotadas psicológicas” , soberba designação .Pelos vistos também percebem aqueles exércitos ululantes , vestidos na mesma cor , que agarrados às grades e ao arame farpado em que estão enjaulados , chamam coisas amáveis à mãe dos árbitros e cuja virtude o Estado homenageia pondo lhes um pelotão de policia de choque à frente .
Os órgãos de comunicação social de massas , em particular as televisões , com destaque para a “pública” , acham que este mundo é o mais importante que há e os rios de palavras e imagens que lhe dedicam em horário nobre iriam da Terra a Plutão , numa estimativa conservadora . Mentores e espelho deste terceiro mundismo , os órgãos de comunicação social criam um poderoso centro de gravidade de que dificilmente se escapa instituindo como importante o que é irrelevante , e impedindo qualquer voo para além desta simplicidade asinina mas espectacular , sanguínea , e grandiloquente . Muita gente pensa que Portugal pode ser reduzido a esta imagem e semelhança , mas não é este o pais porque me bato ."






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© José Pacheco Pereira
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