ABRUPTO

16.5.03


FILATELIA 2

Comentando o que escrevi sobre filatelia (em discreto agradecimento a Piolheira que sabe do que falo ) , a Memória Inventada diz o seguinte :


"Fiel ao seu nome, o Abrupto por vezes revela-se algo inopinado. Há cinquenta anos, quantos filatelistas haveria no mundo? É uma pergunta de difícil resposta, a pedir muitos avós, mas não lhes parece que a afirmação é algo absurda? Nos anos cinquenta do século passado a Bossa Nova explodia no Brasil e no mundo, o Rock incendiava os EUA e o mundo, Stockhausen ainda não precisava de helicópteros para reinventar a música, Piaf cantava, Sinatra encantava e a Amália ia ao programa do Eddie Fisher, na "América". No início dos anos cinquenta do século passado um senhor chamado Charlie Parker entrava em decadência não sem antes ter escrito parte da história do Jazz com as suas cascatas sonoras. Morreria nessa década, admirado por todos. De resto, todos estes e muitos outros músicos eram, já naquela época, estrelas consagradíssimas que arrastavam multidões."


É pena que neste caso a “memória” seja mesmo “inventada” , porque há uma enorme diferença entre esses anos e a actualidade que não permite “pensar para trás” sem algum honesto conhecimento . Nos anos cinquenta , em Portugal , ter discos , logo gira-discos , ou ainda mais difícil , gravador , era um privilégio de um pequeníssimo número de pessoas , a esmagadora maioria muito pouco jovem . Jazz , era um território de meia dúzia de amadores . Stockhausen só se tornou conhecido muito depois e por um punhado de melómanos que , em meados da década de sessenta , se começou a interessar pela “música de vanguarda” . A maioria da música que chegava aos portugueses tinha como canal a Emissora Nacional e certamente incluía a Amália , a Piaf e o Sinatra , só que num contexto muito diferente daquele em que hoje os vemos .
A Memória Inventada esquece-se de como era fechada, provinciana e mesquinha a vida portuguesa em geral, já para não falar da vida cultural . Não só não existia nada de equivalente a uma cultura juvenil, uma invenção dos anos sessenta , quando os jovens começaram a ter dinheiro para consumir, como o papel de uma longa censura , ininterrupta desde o fim dos anos vinte , impedia os portugueses que não viajavam e que não dominavam línguas estrangeiras de saber o que se passava no mundo . Acompanhar o que se fazia lá fora em tempo próximo do real era pura e simplesmente impossível e também muito caro . E , fundamental para o que eu disse , os instrumentos de disseminação de uma cultura de massas , discos , CDs , vídeos , DVDs , ou os downloads da Internet não existiam e os seus grosseiros equivalentes eram caríssimos .
Noutra altura retorno à razão porque tomei como pretexto a filatelia , então o passatempo não desportivo mais popular do mundo e que ajudava a saber que tinha existido a Estónia (o que muito pouca gente sabia ) ou onde era a Caríntia .

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© José Pacheco Pereira
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