ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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16.12.15
MAIS UM AVISO (PORQUE AS COISAS ESTÃO COMO ESTÃO)
Nunca tive muita paciência para o mau trabalho jornalístico, ou jornalístico-opinativo, feito ou por incompetência ou por má fé. Repito: não mudei de posição sobre as presidenciais, e não apoio nenhuma candidato, o que não me impede de participar no debate eleitoral como entender e com a liberdade que entender. Já agora podem colocar na agenda uma sessão de debate sobre "cidadania" organizada pelo SNAP no Barreiro e e um debate sobre "Portugal justo" organizado pela candidatura de Marisa Matias. E haverá mais e de outros lados.
Como se vê pelos relatos jornalísticos de quem esteve presente (no Público e no Expresso ) eu não apoiei a candidatura de Sampaio da Nóvoa na apresentação do livro biográfico de Fernando Madaíl, atitude afirmada por mim e pelo próprio Sampaio da Nóvoa, pelo que é falso o que diz a RTP (que já retirou a notícia e bem), e Henrique Monteiro no Expresso.
Há muita gente a querer ajudar os pequenos inquisidores do PSD.
(url) 13.12.15
AVISO A TEMPO POR CAUSA DO TEMPO (MAIS UM, MAS OS TEMPOS SÃO O QUE SÃO...)
Face ao convite que me foi feito para a Administração de Serralves, devo dizer que só aceitei por ser um lugar não remunerado e sem qualquer prebenda, condição que coloquei ao convidante. Faço parte igualmente de um Conselho de Patronos do Museu Vieira da Silva / Arpad Szenes, do Conselho Consultivo do Museu do Aljube, e do Conselho-Geral da Universidade do Porto. Tudo sem qualquer remuneração.
Espero que quando se der a notícia não se ignore este "aviso". (url) 5.12.15
AVISO A TEMPO POR CAUSA DO TEMPO.
Antes que a comunicação social me torne "propriedade" de qualquer candidatura presidencial, informo que tenho já prevista a participação em debates e colóquios organizados pelas candidaturas de Sampaio da Nóvoa e Marisa Matias e tenho falado pessoalmente sobre a questão presidencial com outros candidatos. Como são conversas privadas ficam privadas. Faço-o com inteiro à vontade, visto que não me furto a discutir Portugal e os portugueses, na medida das minhas capacidades, e considero que estas eleições têm vários candidatos que as dignificam. Não é por ecletismo, a que sou avesso, nem por querer pairar acima das opções políticas concretas. Se entender vir tomar posição pública, toma-la-ei, até lá interessa-me mais a discussão e o debate público que terei o gosto de fazer, para já "ao lado" das candidaturas que me honraram com esse convite.
(url) 23.11.15
DIÁRIO DE UM TEMPO DIFERENTE (23)
Que condições de "uma solução governativa estável, duradoura e credível" foram exigidas a Passos Coelho antes de ser indigitado?
Olhem bem para as condições colocadas pelo Presidente ao PS e vejam bem quais o governo Passos Coelho podia mesmo garantir, tanto mais que algumas nem com maioria absoluta garantiu:
a) aprovação de moções de confiança; [um governo minoritário não o podia garantir] b) aprovação dos Orçamentos do Estado, em particular o Orçamento para 2016; [um governo minoritário não o podia garantir] c) cumprimento das regras de disciplina orçamental aplicadas a todos os países da Zona Euro e subscritas pelo Estado Português, nomeadamente as que resultam do Pacto de Estabilidade e Crescimento, do Tratado Orçamental, do Mecanismo Europeu de Estabilidade e da participação de Portugal na União Económica e Monetária e na União Bancária; [o último défice foi de 7%, e o memorando só foi "cumprido" pela complacência política da troika que o aceitou rever] d) respeito pelos compromissos internacionais de Portugal no âmbito das organizações de defesa colectiva; [este foi o governo que vendeu sectores estratégicos de Portugal a fundos estatais chineses, no caso da REN obrigando a adiar a publicação da respectiva lei] e) papel do Conselho Permanente de Concertação Social, dada a relevância do seu contributo para a coesão social e o desenvolvimento do País; [ver nota anterior] f) estabilidade do sistema financeiro, dado o seu papel fulcral no financiamento da economia portuguesa.[deve querer significar continuar a apoiar a banca com dinheiro dos contribuintes] (url)
DIÁRIO DE UM TEMPO DIFERENTE (22)
Ah! a falta de memória! Este amor pela "concertação social" é mais uma das revisões do passado que se faz nestes dias. Depois de quatro anos de decidir quase tudo o que era relevante antes da concertação social e apresentá-lo como facto consumado, ou de usar na propaganda a concertação social quando lhe convinha, e de atacar muitos dos seus documentos e posições, assim como o seu Presidente Silva Peneda, agora são os seus maiores defensores, como se vê no documento presidencial.
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DIÁRIO DE UM TEMPO DIFERENTE (21)
Pouca gente prejudica mais nos dias de hoje o PS, e por arrastamento a esquerda, do que José Sócrates. O tipo de sessões públicas que tem patrocinado, com a cumplicidade de muita gente do PS, serve apenas para dar má fama ao partido que delas não se demarca. Sócrates está acusado de graves crimes, e só se saberá em tribunal se está inocente ou culpado dos crimes de que é acusado. Porém, conhecem-se suficientes pormenores do seu comportamento cívico, que nem ele, nem os seus advogados contestam, apenas "interpretam", que o torna exactamente aquele tipo de pessoas de que os partidos se deveriam afastar a milhas. Disse sempre isto em relação a pessoas do meu partido que lhe deram e dão má fama por razões que podem não ser crimes mas que são eticamente inaceitáveis na vida pública, para o poder dizer à vontade, e com todo o à vontade, de José Sócrates. E não é só de agora.
(url) 16.11.15
DIÁRIO DE UM TEMPO DIFERENTE (20)
Uma das maiores manipulações da opinião pública que se fazem hoje em Portugal é o modo como são comentados os movimentos da bolsa e dos juros. Hoje, os juros portugueses desceram contrariando outros países europeus em que subiram (a Alemanha p.e.). Comentário nos órgãos de comunicação social: desceram porque a agência canadiana não baixou o rating da dívida a Portugal. Têm mesmo a certeza disso, dado que a decisão da agência foi já há dias e os mercados costumam responder em tempo real? Por que é que entretanto subiram e depois desceram?
Uma coisa eu sei - até agora as previsões de cataclismos que a nossa direita tem feito (e que notoriamente deseja) não se tem verificado, para incómodo de muita gente. Até agora.
Por favor, não nos enganem tão grosseiramente ou então concluam que os "mercados" são indiferentes à queda do governo Passos-Portas. Até agora.
(url) 14.11.15
DIÁRIO DE UM TEMPO DIFERENTE (19)
Muito me estranha, ou talvez não, que não tenha havido um jornalista que tivesse feito a pergunta "quem paga'" a nenhum membro da coligação, nem quando da cornucópia da abundância que correu no ano eleitoral, nem quando o PSD-CDS aceitaram todas aquelas medidas do PS no documento "facilitador", nem no programa de governo chumbado na Assembleia. A pergunta é só feita a um lado, o que é já beneficiar o outro.
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DIÁRIO DE UM TEMPO DIFERENTE (18)
No "risco", como para aí se diz, de "reversão" das medidas do governo da troika, há uma que é a mais importante do que todas as outras. Não pensem que a direita está muito preocupada com o défice ou a dívida, apesar da gritaria dúplice (umas vezes está-se a dar tudo e vem aí um novo resgate, outras vezes, veja-se Portas, não se está a dar o que eles dariam). A preocupação verdadeira é com a legislação laboral e o que lhe é anexo.
E não é, também não se enganem, com medo da CGTP. É com medo de que se modere o desequilíbrio social ocorrido nestes últimos anos da troika entre trabalhadores e patronato. A legislação laboral destina-se exactamente a criar factores de equilíbrio entre duas partes com um poder muito desigual. A alteração da legislação laboral nestes últimos anos, - e esta foi a grande traição da UGT e do silêncio do PS segurista, - acentuou esse desequilibro e abriu a porta ao desemprego, ao abaixamento acentuado de salários, logo ao aumento da pobreza mesmo de quem tem emprego, e à precariedade.
(url) 13.11.15
DIÁRIO DE UM TEMPO DIFERENTE (17)
Pedro Ferraz da Costa foi dizer ao Presidente, com imenso enfado, que vinha aí uma "perspectiva negra", a da "política estafada do consumo interno". É que, ainda por cima, os que consomem não são as pessoas certas, que sabem comprar nas lojas gourmet, frequentar os sítios selectos, vestir com as marcas devidas, sem ostentação, mas sóbrios como um lorde inglês. É de facto um aborrecimento ver feios, porcos e maus a terem mais uns euros para consumir...
(url) 12.11.15
DIÁRIO DE UM TEMPO DIFERENTE (16)
Se a TAP está a dias de não ter gasolina para os aviões e dinheiro para pagar salários, o que não acredito porque já vi usar muitas vezes por este governo argumentos ad terrorem deste tipo para justificar fazer as enormidades que quer, só pode ser por duas razões: ou foi pessimamente gerida nos últimos meses com o beneplácito governamental, ou foi deliberadamente deixada cair no caos para justificar a estranha pressa governamental para a privatizar.
Não é nada de novo, - foi o que foi feito com os Estaleiros de Viana, para logo a seguir surgirem miraculosas encomendas de navios do próprio estado agora feitas aos privados.
Ainda há muita gente do centro-esquerda e da esquerda que não percebeu com quem se está a meter.
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DIÁRIO DE UM TEMPO DIFERENTE (15)
Para quem tinha dúvidas sobre a fusão profunda entre os interesses económicos com o governo PSD-CDS, ocorrida nestes últimos anos, muito para além das coreografias e cortejos atrás de Sócrates, veja-se o comportamento político das confederações patronais sem ambiguidades, sem hesitações, sem consideração pela democracia, mostrando-nos o seu enorme amor pelo governo Passos-Portas, e dizendo-nos que só eles podem governar e só a eles é permitido governar. O processo de radicalização à direita passa por aqui.
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DIÁRIO DE UM TEMPO DIFERENTE (14)
Sobre os números catastrofistas que a comunicação social repete sobre o impacto das medidas dos acordos PS-PCP-BE, não seria bom saber qual a credibilidade de quem está a injectar estes números ou o seu interesse próprio nessas contas, ou seja, não seria exigido que nos dessem as fontes? É que alguns são tão evidentemente martelados que não é desculpável que se publiquem sem se saber como se chegou lá e quem fez essas contas.
Hoje esses números estão no centro do confronto político, não seria de ter toda a prudência?
(Um exemplo: acabei de ouvir uma descrição do cataclismo financeiro para o estado se a privatização da TAP for travada, mesmo na hipótese de não haver assinatura final, que, ou vem dos putativos compradores ou do anterior governo, ambos interessados nessa visão das coisas. Repito: não seria de verificar a veracidade contratual desses prejuízos, antes de funcionar como porta-voz de uma das partes? É que, pelos vistos, do modo como as coisas estão, deixou de se verificar nada nos órgãos de comunicação social.)
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DIÁRIO DE UM TEMPO DIFERENTE (13)
Será que aqueles que preferem estragar ainda mais Portugal, entregando-o, meses e meses, a um governo de gestão que não pode governar nada, apenas por raiva de poder haver outro, percebem a dimensão do conflito institucional que vão criar? É que se esquecem deste pequeno problema que é o facto do Parlamento não estar em gestão e poder, com certos limites, "governar"? E que a seguir vão ter que pedir ao Presidente para exercer uma espécie de veto contínuo a tudo que venha da Assembleia?
(url) 11.11.15
DIÁRIO DE UM TEMPO DIFERENTE (12)
Quando é que os jornalistas, que seguem quase unanimemente a linha do "quem paga" como único critério para avaliar o mérito de qualquer medida e repetem à saciedade a mesma pergunta, se interrogam sobre se essa pergunta deve ser a primeira a ser feita, e se deve ser feita do modo que é feita, e se não há toda uma carga ideológica (e uma série de simplismos mais que rudimentares) nessa maneira de colocar a questão?
A resposta é sempre, nós os contribuintes. Portanto, alguém há-de pagar. Mas será que a pergunta nos diz alguma coisa sobre quem são os contribuintes que deviam pagar mais e não pagam, os que fogem aos impostos perante a complacência do estado, ou os que tem isenções fiscais que podem ser cortadas, ou as despesas que são feitas e não deviam ser feitas, ou sobre se há justiça distributiva em quem paga, ou até, se se justifica que se pague mais. Não, não nos diz nada.
É que se for assim, a pergunta "quem paga" quer dizer "isso não se deve fazer", não se devem aumentar salários, pensões, reformas, etc. E como a pergunta não é feita noutras circunstâncias, é uma pergunta profundamente viciada pela miserável ideologia que circula nos nossos dias e que muita gente interiorizou sem pensar no que está a dizer, ou porque é hostil a que se "pague" a alguns e nunca faz a pergunta a outros.
Ora eu conheço mil e um exemplos em que a pergunta "quem paga" tem todo o sentido de se fazer e ninguém a faz.
(url) (url) 10.11.15
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DIÁRIO DE UM TEMPO DIFERENTE (9)
Portas diz que mudou a posição face à Europa em 1998. É falso. Concorri contra ele nas eleições ao Parlamento Europeu em 1999 e sei muito bem quais eram as posições do candidato da palmeta e da pêra-rocha. Será preciso republicar a propaganda do CDS-PP para lhe lembrar o que ele dizia do escudo, da "venda" de Portugal pelo PSD e pelo PS, e o ataque a Mário Soares, também candidato?
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DIÁRIO DE UM TEMPO DIFERENTE (4)
Por que é que, pelo menos os Verdes não batem palmas ao discurso do solitário deputado do PAN que disse muita coisa com que eles concordam? (url)
DIÁRIO DE UM TEMPO DIFERENTE (3)
"Quando Catarina chegar ao aeroporto num avião da Aeroflot..." Mas que indigência política da intervenção do PSD! (url)
DIÁRIO DE UM TEMPO DIFERENTE (2)
O estúpido sectarismo à esquerda faz com que na Assembleia os grupos parlamentares do PS, BE e PCP não batam palmas às intervenções uns dos outros. Será que ainda não perceberam que estão metidos num caminho comum?
(url) 9.11.15
DIÁRIO DE UM TEMPO DIFERENTE (1)
Qual foi o percursor deste acordo? O encontro da Aula Magna.
O "espírito" do encontro, patrocinado por Mário Soares, foi o único nestes últimos quatro anos que teve a presença do PS, do BE e do PCP. Foi o encontro do "contra", o mesmo "contra" que empurrou todos os partidos da esquerda a entenderem-se.
(url) 11.10.15
AMANHÃ: DE ONDE VEM TANTO MAL?
AS FONTES DA INTOLERÂNCIA E A APRENDIZAGEM DA TOLERÂNCIA
Uma jornada de que sou comissário.
Na Fundação Calouste Gulbenkian dia 12 de Outubro 2015 às 9:30
Na Gulbenkian – Auditório 2 – dia 12 de Outubro às 9:30
De onde vem tanto mal?
As fontes da intolerância e a aprendizagem da tolerância
PROGRAMA
9h30 – Sessão de Abertura | Artur Santos Silva
9h45 – Ensinar a tolerância | Joan Rivitz
10h15 – A Intolerância nas escolas portuguesas | David Justino
10h45 – Intervalo
11h00 – SONS E FILMES SOBRE A INTOLERÂNCIA PARA APRENDER A TOLERÂNCIA – (Sessões paralelas para professores – Aud. 2 e Sala 1)
Vendo a intolerância no cinema Intolerância de D. W. Griffith (episódio do Massacre de S. Bartolomeu) | João Lopes
Ouvindo as músicas de guerra – Deutschland Über Alles e os hinos nacionais | Rui Vieira Nery
13h00 – Almoço
15H00 – 17H30 – DE ONDE VEM A NOSSA INTOLERÂNCIA?
Da Dhimmitude (Oriental) à Tolerância (Ocidental) | Marc Nichanian
DO QUOTIDIANO – Nasce-se intolerante? O que é que nos faz intolerantes? | Diogo Pires Aurélio
DA RELIGIÃO – Fontes de intolerância na tradição judaico-cristã | Anselmo Borges
18H00 – Conferência – A Europa e as suas fronteiras – a actual crise dos refugiados e a identidade da Europa | José Pacheco Pereira
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A intolerância está um pouco por todo o lado. Pensamos que, mesmo nas nossas sociedades racionais, ordenadas, iluministas, estamos acima destes excessos. Não estamos. A intolerância é uma constante social e a luta pela tolerância é permanente.
Parte dessa intolerância vem da história e da sua interpretação política, nacional ou étnica. Vem do desporto e da política, dos clubes e partidos entendidos como tribos. Vem da violência inscrita na desigualdade das economias. Vem de culturas que se baseiam em identidades agressivas que excluem os outros. Vem das religiões e dos seus conflitos de fronteira. Vem das pessoas e do seu modo de olhar os outros como sendo alheios e hostis. Vem da ignorância e de ideias grosseiras, mas muitas vezes fáceis e sedutoras. Vem da solidão e do medo.
Dois aspetos nos interessam: de onde vêm a intolerância e como se pode, nas escolas, e nas sociedades, fortalecer a tolerância. A escola e a sociedade não podem aceitar a intolerância com passividade. Uma cultura democrática é também uma cultura tolerante, mas a tolerância não é um bem adquirido e seguro. Tem que ser construída no dia-a-dia.
O nosso objectivo é discutir a tolerância falando da intolerância. Vamos fazê-lo num duplo momento: na perspectiva de como nas escolas e no ensino se pode ensinar e aprender a ser tolerante, conhecendo melhor a devastação humana e social que tem feito a intolerância; e numa melhor compreensão daquilo que nos faz, individual ou colectivamente, ser intolerantes. Compreender as raízes da intolerância na história, na sociedade, na economia, na política é um passo para reforçar esse respeito mútuo que incorpora a diferença e a compreensão.
Não é fácil, mas é possível.
José Pacheco Pereira
(url) 9.10.15
SEMPER FI
Quem pensa que desanimo, esmoreço, modero, suspendo aquilo que tenho dito e vou continuar a dizer, está bem enganado. Pode-se estar sozinho, mas ter a maioria – que não têm – não significa ter razão, que não têm de todo. Tenho para mim o motto dos marines americanos, semper fidelis, fiel aos portugueses que precisam de uma melhor política e de uma melhor representação em democracia, porque são mais pobres ou estão a empobrecer, podem menos ou porque são excluídos, ou mais velhos ou desempregados, aos portugueses que querem andar para a frente e não querem um País a andar para trás, e aqueles que gostam do seu País e não aceitam vê-lo cada dia mais desprovido de poder e dignidade. Semper fi.
O resto está na Sábado.
(url) 7.9.15
AVISO
Circula na Rede um texto "meu" sobre Sócrates, que tem o pequeno problema de não ser meu, de ser falso. Já não é a primeira vez que isso acontece, nem será a última. O que é ridículo é ver gente a correr para o comentar...
(url) 5.9.15
NA MORTE DE MANUEL DIAS DA FONSECA
Manuel Dias da Fonseca é um nome conhecido por muito pouca gente. No Porto e sobretudo em Matosinhos já mais gente o conhece, mais como vereador da Cultura nos tempos em que o foi, do que pela sua obra poética, aliás escassa e discreta. Mas eu conheci-o como uma coisa que já quase não existe, um amante da música, um melómano. Muitas vezes, nos turbulentos anos 60, um grupo de amigos, que me incluía a mim, o Óscar Lopes, o Eugénio de Andrade, o Jorge Peixinho, a Ilse e o Arménio Losa, iam nas tardes de domingo a sua casa em Matosinhos ouvir os discos que só ele tinha e só ele trazia de fora de Portugal. Eu era o mais novo, o que me faz ser o último sobrevivente.
A meio da tarde, havia um bolo feito por sua mãe e chá, ou seja um ambiente que já na altura era do passado, burguês, antigo, culto e ilustrado. Ele sabia muito de música e gostava de pôr discos para os presentes adivinharem quem eram os seus autores. Uma vez, com alguma ironia, tendo em conta parte da composição da sala – "do you know what I mean", como diziam os Monty Python –, a pergunta era se era um homem ou uma mulher que cantava. Parecia uma mulher, mas era um homem, Alfred Deller, contratenor, a cantar Purcell.
Boa música tenhas tu Manuel. Bach, pelo menos, anda por lá
Versão da .
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PARA QUEM AINDA NÃO PERCEBEU NO QUE ESTÁ METIDO
Há uma parte da oposição a este Governo e à coligação que ainda não percebeu no que está metida. Nessa parte avulta o PS, que acha que isto é um filme para 6 anos, ou, vá lá, 12 e está num filme para adultos, ou como se dizia antes, "para adultos com sérias reservas". Não, não é o Bambi, é o Exorcista ou o Saw.
Tenho um bom lugar de observação da linha da frente no combate político com a actual "situação". Sei disso porque há muito tempo que conheço o vale-tudo, de artigos caluniosos a comentários encomendados em massa, até ao célebre cartaz anónimo, que não se sabe quem fez, nem quem pagou. Mas a mensagem é clara: não o ouçam porque é um radical violento. Tenho um processo instaurado pela "massa falida da Tecnoforma". Não digo "tenho sido vítima", porque não sou vítima coisa nenhuma, estou onde quero e faço o que entendo dever fazer. Se chovem paus e pedras, são para mim como elogios.
Mas vejo as coisas porque percebo do que, do lado da coligação, se é capaz de fazer quando se lhes toca nos interesses vitais, e estas eleições tocam em demasiadas coisas vitais para não serem travadas com todas as armas, e algumas são bem feias de se ver.
Agressivos de um lado, frouxos do outro.
E vejo os exércitos juntarem-se, com armas e bagagens, muito ódio social, porque é um combate social e político que se vai travar e o ódio mobiliza as hostes, e muita agressividade. Do outro lado, salamaleques, um medo pânico de falar de "mudança", a quase total ausência de críticas ao Governo, o emaranhar-se em explicações e desculpas. Sempre na defensiva, sempre ao lado, sempre a perder.
Uma parte da oposição prefere objectivamente que tudo continue na mesma para manter o bastião da identidade, outra passa o tempo em actividades burocráticas e escolásticas, para o interior das suas contínuas divisões, enquanto o "maior partido da oposição" se entretém a mendigar "confiança" certamente porque não consegue lidar com os rabos de palha que vieram de 2011.
O caso do PS é parecido com aqueles generais franceses de luvas de pelica a almoçar foie gras e champanhe, bem longe da frente, num castelo qualquer, com todo o tempo do mundo, enquanto os seus poilus morriam que nem tordos, ou fugiam para a retaguarda misturando-se com os civis, dependendo de que guerra se tratava.
O modo como está o PS é devastador para toda a oposição, afecta as candidaturas presidenciais, permite o ascenso de candidaturas patrocinadas no seio do PS pela coligação, tem o duplo efeito de esmorecer e radicalizar, ambos processos de isolamento que abrem caminho para a assertividade e o espírito ofensivo da coligação.
A propaganda da coligação, assente num castelo de cartas que ruirá ao mais pequeno vento, como aliás o ex-amigo próximo, o FMI, diz, não é desmontada com clareza e frontalidade, porque os compromissos nacionais e europeus do PS são demasiados. A maioria muito expressiva dos portugueses que recusam este Governo, um dado sempre constante nas sondagens, não encontra no sistema político uma resposta. E, mesmo que existissem novos partidos que dessem corpo a esse descontentamento, a maioria dos partidos representados no parlamento, não quer competição e encarrega-se de os calar na comunicação social, com a colaboração da comunicação social.
Por seu lado, os portugueses que sofreram, sofrem e sofrerão a crise estão cada vez mais invisíveis. Não desapareceram, o seu sofrimento social aumenta com a passagem do tempo, mas não conseguem ultrapassar o ecrã do "sucesso" que 10 mil ministros e secretários de Estado fazem todos os dias. Num dia são as mulheres, noutro dia são as crianças, no terceiro dia são os velhinhos. É só caridade e bondade a rodos. Com a cumplicidade acrítica de muitos que na comunicação social andaram a louvar as virtudes do "ajustamento" e por isso selam o seu destino também com o destino da coligação. O PS, por sua vez, como andou estes anos todos a fugir da contestação social, continua a preferir os salões.
Versão da . (url) 7.8.15
EU RADICAL ME CONFESSO
(Cartaz anónimo colocado nas ruas.)
Por entender que a liberdade é o mais precioso e frágil dos bens.
Por entender que a liberdade quando se tem em plenitude não se dá por ela, quando se começa a perder os homens e as mulheres que a amam percebem-no de imediato: "Onde liberdade não há, abuso dela não pode haver."
A liberdade pertence a todos e exige a igualdade para se realizar: "O valor essencial da liberdade sem a igualdade torna-se aristocrático privilégio de uns quantos."
A liberdade não é uma dádiva, nem uma concessão: "Eu considero que uma liberdade dependente de poder discricionário do Governo não é uma verdadeira liberdade; fica à mercê do poder."
Entendo que a liberdade exige a possibilidade da propriedade: "Defendemos a propriedade privada, na medida em que impõe o respeito da pessoa." Mas não chega: "Em nome da mesma pessoa combatemos os abusos da propriedade, a concentração da riqueza, o domínio do poder económico."
Não há "crescimento" económico numa sociedade fora do contexto das liberdades: "Adoptando-se o modelo de desenvolvimento capitalista sem instituições democráticas, sem liberdade política, caminharemos para um despotismo violento que nem por ser dourado por melhores condições económicas deixará de ser menos insuportável."
Entendo que a independência e a soberania nacional são valores que permitem o exercício da liberdade efectiva dos portugueses. Entendo que "Portugal precisa de apoio internacional generalizado e merece-o. Esse apoio, venha de onde vier, tem de respeitar a nossa independência e uma rigorosa não ingerência nos nossos assuntos."
Entendo que o PSD não é um partido de direita, nem virado à direita, nem às claras, nem às escuras: "Nós, Partido Social Democrata, não temos qualquer afinidade com as forças de direita, nós não somos nem seremos nunca uma força de direita."
Repita -se: "Nós não somos nem seremos nunca uma força de direita." E mais: "Somos um partido de esquerda não marxista e continuaremos a sê-lo."
E mais ainda: "Somos socialistas porque somos sociais-democratas, mas somos socialistas sem subordinação a dogmas marxistas, muito menos leninistas, sem subordinação a dogmas de apropriação colectiva dos meios de produção."
O que significa que no plano programático e da acção "é indispensável conciliar o liberalismo político com o intervencionismo social e económico".
O PSD não é em primeiro lugar, nem em último, um partido de empresas e empresários que olham para a Economia como se não existissem trabalhadores a não ser como um "custo": "O PPD nunca foi um partido de patrões (...) Desde o início tivemos adesão de larga camada de trabalhadores que se têm multiplicado na sua acção de implantação do partido."
Entendo que não há paz sem justiça social e não o contrário porque: "A paz engloba a justiça social." Sem ela toda a "estabilidade" é fictícia.
Também entendo que nos dias de hoje "A igualdade de oportunidades, independentemente dos meios de fortuna e da posição social, é cada vez mais um mito, designadamente em sectores como a saúde, a habitação e o ensino, onde tudo se degrada a um ritmo alucinante."
Entendo que o poder político se deve sobrepor ao poder económico e não o contrário: "O que há é que impor uma disciplina de actuação do poder económico e dos investimentos, para que ele seja feito com proveito de todos nós e não apenas para os detentores desse poder."
Não reduzo a sociedade e a política aos critérios de "eficiência" tecnocrática: "O desenvolvimento do económico e a aplicação crescente da técnica a todos os ramos geram a obsessão da eficiência."
Entendo que uma boa política social-democrática exige ao mesmo tempo um papel activo do Estado e o combate aos seus abusos. Reconheço a necessidade do investimento público: "O Estado deverá garantir suficiente capacidade humana, técnica e financeira para poder intervir como investidor, realizando projectos de grande dimensão em sectores estratégicos da actividade económica nacional.
Sou contra o abuso fiscal: "É indispensável que o poder de compra seja também defendido pela redução dos impostos."
Entendo que é vital haver uma reforma do Estado que não seja degradar serviços públicos e despedir funcionários ou baixar-lhes salário. "Nós vivemos num País de inutilidade pública, inutilidade pública que custa caríssimo e que afinal, agora, querem que continue a proliferar, obrigando os particulares a suportar todo o peso da crise económica."
Entendo por isso que "o que não posso, porque não tenho esse direito, é calar-me, seja sob que pretexto for".
Se isto é ser, nos dias de hoje, radical, sou radical.
Estou bem acompanhado no meu radicalismo visto que todas as frases entre aspas são de Francisco Sá Carneiro. São frases com principio, meio e fim. Com ideias, contexto e substância. Não são soundbites .
Como ele, não tenho feitio para vítima, por muitas campanhas que se façam. Como ele "nunca me senti tão sozinho e nunca tive tanta certeza de estar tão certo". Certo estava, sozinho é que não.
Versão da .
(url) 17.7.15
O tempo mostrará como a pior herança destes dias de lixo que vivemos já há vários anos será de carácter moral. Moral de moral social, cultural e política, atingida no seu cerne pela emergência de uma forma de egoísmo social que se materializa em profundas divisões entre diferentes grupos na sociedade e pela tendência de se ser egoísta olhando para o lado, para o vizinho, ou para os pais dos colegas do filho na escola, ou para o companheiro de trabalho, para a mesa do café do lado, para o que recebe mais 10 euros do que eu, em vez de se olhar para cima, para o exercício do poder e para as suas opções. Lá em cima, agradece-se.
Populismo
Este populismo egoísta, que atinge as pessoas e as nações, tem sido incentivado pelo discurso do poder e ao fortalecer um populismo que é sempre anti-sistema, isola o poder da competição democrática, estiola as alternativas e tende a perpetuar -se. São cada vez menos, mas cada vez mais poderosos.
Uma das razões de sucesso desta imoralidade triunfante é que ela fornece uma panaceia para o ego ofendido de muita gente. Convencidos de que não podem mudar nada – não há alternativa –, o vizinho serve de bode expiatório. Num país (ou numa Europa) atingido por uma anomia profunda – resultado entre outras coisas do apagamento das diferenças históricas entre uma direita de interesses e uma esquerda que de há muito soçobrou aos mesmos interesses, e refiro-me aos socialistas cujo papel na castração da acção colectiva é enorme –, o que hoje se está a dividir, dificilmente se juntará.
A sementeira do egoísmo
A sementeira deste egoísmo, de que o nosso governo foi exemplo nestes últimos quatro anos, e que a crise grega mostrou também ao nível europeu, cria divisões profundas de que as sociedades e as nações só muito dificilmente se livram. Como será a Europa quando o alvo não for a Grécia? E se for a Finlândia, ou a Itália, ou a França ou Portugal? Claro que haverá duplicidade, mas o mal já está feito.
Deixem lá estar no fundo o que não deve vir ao de cima
Os cínicos podem dizer que este egoísmo sempre esteve lá no fundo. É verdade. Mas sabendo eu que sempre esteve lá no fundo, desejaria que continuasse lá no fundo, para bem da sanidade da nossa vida colectiva e da vida em democracia. Se está lá no fundo, deixem-no estar que está bem. Lá no fundo está toda a selvajaria que o sentido cultural que deu origem à democracia não nega, mas não aceita. Que os homens são lobo dos homens sabemos bem demais, mas não convido uma alcateia a vir comer à mesa.
Nunca foi tão claro o que é uma política de interesses
Eu não gosto da facilidade classificatória da esquerda e da direita, evito usá-la, mas não lhe posso escapar porque o que tem de pouco teoricamente rigoroso tem de facilidade descritiva. Pois, a grande herança destes anos de poder da direita em Portugal e na Europa é este espírito egoísta da divisão, entre velhos e novos (talvez a mais escandalosa), entre empregados e desempregados, entre trabalhadores do Estado e do privado, entre ricos e pobres, entre "piegas" e submissos, entre indignados e colaboracionistas, entre nações que têm dinheiro e nações que precisam dele. Nunca foi tão claro o que é uma política de interesses. Nunca foi tão clara a diferença entre cidadão e servo. A isto Marx chamava "luta de classes". A direita ressuscitou-o com esplendor para arregimentar as suas tropas.
Tratado de Versalhes
O único paralelo que conheço para o que está a ser feito aos gregos é Versalhes e as reparações impostas à Alemanha em 1919. A democracia de Weimar sempre foi frágil porque a situação social do povo alemão era um terreno propício a todos os radicalismos e comunistas e nazis exploraram isso até aos limites. Os nazis ganharam entre outras coisas porque o acordo imposto aos alemães no final da guerra implicava que a indústria alemã trabalhava para pagar as reparações, principalmente aos franceses. Nós também cá tivemos uma parte em locomotivas e em guindastes nos portos. Os nazis ganharam porque parte da Alemanha foi ocupada e as potências ocupantes extorquiram o máximo que puderam.
Um país ocupado
Se o acordo tão celebrado for adiante, o que ainda está longe de ser certo, a Alemanha e gente como Dijsselbloem vão governar a Grécia contra os gregos, a partir de Bruxelas, Frankfurt e Berlim. Não custa imaginar como o Syriza virá a ser lembrado como exemplo de moderação, face à nova extrema-esquerda que irá surgir. E a extrema-direita grega, uma das mais virulentas da Europa, não precisa de mudar, basta-lhe crescer. Os alemães e os seus gnomos podem vingar-se, como estão a vingar-se, do "não" grego, mas os europeus genuínos sabem que o mal está feito e vai muito para além do que está a acontecer à Grécia.
O projecto europeu morreu.
Da .
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A HUMILHAÇÃO
Será que os nossos eminentes governantes europeus não sabem que poucas coisas são tão perigosas para a paz como a humilhação?
E que se pensam, como os nossos alegres patetas que embandeiram em arco com o que se está a passar, que o que estão a humilhar é o Syriza estão bem enganados. São os gregos e é a Grécia.
Somos nós, Portugal.
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A RESISTÊNCIA DOS "ESTRANHOS COMPANHEIROS DE CAMA"
Já tenho usado algumas vezes a frase da Tempestade de Shakespeare sobre os “estranhos companheiros de cama” gerados pela “miséria” dos dias que atravessamos.
A citação em inglês é "misery acquaints a man with strange bedfellows" e refere-se a uma altura em que Trinculo, para se proteger da tempestade, se mete debaixo do manto de Caliban. Trinculo achava que Caliban era uma espécie de peixe, antes de lhe reconhecer forma humana, e Caliban olhava com desconfiança Trinculo que lhe parecia um espírito atormentado. “Estranhos companheiros de cama”.
Existe hoje na vida política portuguesa uma série de “estranhos companheiros de cama”, cuja voz pública tem sido muitas vezes, aliás quase sempre, das mais duras contra a situação, contra o governo da coligação PSD-CDS. Incluo-me nesse grupo de pessoas e escrevo sobre elas não porque ninguém sinta qualquer necessidade de o justificar, bem pelo contrário, mas porque este fenómeno político é uma característica dos nossos dias e merece ser analisado. Muitas das críticas com mais sucesso ao actual poder, todas percursoras e algumas que se tornaram virais, vieram desse grupo de pessoas e não de outras em que, pelo seu posicionamento político, teriam sido mais previsíveis.
Num comício sobre a Grécia, falei ao lado de dois membros do Bloco de Esquerda, Louçã e Marisa Matias, de um economista comunista Eugénio Rosa, de um socialista Manuel Alegre, da escritora Hélia Correia e do democrata-cristão Freitas do Amaral. Algumas das palavras mais duras nessa sessão sobre o “estado da Europa” vieram da mensagem de Freitas do Amaral. Durante a semana, Bagão Félix e Manuela Ferreira Leite, pronunciaram críticas muito duras ao governo, como aliás fazem já há alguns anos. Em matérias mais específicas, como por exemplo, as questões de soberania ou a situação das Forças Armadas, Adriano Moreira e Loureiro dos Santos, não tem poupado a acção governativa, com críticas de fundo e de grande gravidade. Podia continuar com vários exemplos de outros homens e mulheres, que estão longe de serem revolucionários, radicais, extremistas mas cuja voz se ergueu com indignação face ao mal que está ser feito ao país, com intolerância face ao erro e com um espírito analítico certeiro. “Quem fala assim não é gago”, é uma frase que se lhes pode aplicar.
Também por isso são alvo de uma enorme raiva, impropérios, insinuações, acusações que transpiram do lado situacionista, no terreno anónimo dos comentários não moderados, que não são senão reproduções das conversas obscenas que certamente se travam nos bares da moda e nas reuniões partidárias das “jotas”. São os “velhos do restelo”, até porque na maioria não são novos, que se opõem à gloriosa caminhada governativa émula das Descobertas, não se percebe bem para quê, nem com que gente valorosa e destemida. São os “treinadores de bancada”, na linguagem futebolística que se lhes cola como um fato de treino, os que “só dizem mal”, “que falam, falam” mas não fazem nada. São os “ressabiados” porque não lhes foram dadas sinecuras, lugares, posições, quiçá negócios, a que julgavam ter direito. Esta crítica é muito interessante porque é espelhar, quem a faz vê-se ao seu próprio espelho
O que verdadeiramente não suportam é a independência alheia. “Jovens” de quarenta anos, cuja carreira, se reduz a cargos partidários e as respectivas nomeações como “boys”, escrevem e vociferam tudo isto. E afirmam com jactância que ninguém ouve os “velhos do Restelo”. Estão bem enganados, em termos de audiências, partilhas, e influência, são no chamado “espaço mediáticos” dos mais ouvidos, vistos e influentes. Falo dos outros e não de mim, mas também não me queixo.
A tempestade que criou estes “estranhos companheiros de cama” explica a sua emergência e o manto que os cobre. Em partidos como o PSD e o CDS, mas em particular no PSD, houve uma clara deslocação à direita, violando programas e práticas identitárias, já para não falar do legado genético do seu fundador Francisco Sá Carneiro. Esta deslocação de um partido que foi criado pelo desejo fundador de ser o partido da social-democracia portuguesa, consciente de que num país como Portugal a “justiça social” era uma obrigação de consciência e de acção, levou à sua descaracterização. E pior ainda, à mudança do seu papel reformador na sociedade.
O PSD que está no governo e que manda no partido, com as suas obscuras obediências maçónicas, com o seu linguajar tecnocrático, com a sua noção de que a “economia” são os “empreendedores” e não os trabalhadores, com os seus sonhos de criar um homem novo ao modelo de Singapura, com o seu desprezo pequeno burguês… pela burguesia, pela sua vontade de agradar aos poderosos do mundo, pela subserviência face ao estrangeiro, encheu-se de pessoas cujo currículo é constituído pelos cargos internos no partido e pelos cargos públicos a que ser do partido dá acesso. A sua repulsa e indignação pela corrupção é escassa para não dizer nula, e personagens cujos negócios são clientelares, para não dizer mais, são elogiados em público, servem de conselheiros e são nomeados para cargos de relevo. O que é que se espera que gente como Manuela Ferreira Leite, que é de outra escola da vida, diga?
E que posições tem defendido estes “estranhos companheiros de cama” que justifica serem tratados pelos boys como sendo, pelo menos, cripto-comunistas? Falam de facto de coisas perigosas e subversivas, como do patriotismo e da soberania, falam de um Portugal que não se exibe apenas á lapela. Falam da democracia e do risco do voto dos portugueses não servir para nada, visto que o nosso parlamento tem cada vez menos poderes. Falam dos portugueses que não andam de conferências de jornais económicos, a programas de televisão a explicar que as eleições são um “risco” para a economia. Falam dos outros portugueses, dos enfermeiros e dos professores, dos médicos e dos jovens arquitectos sem trabalho, dos pescadores, dos agricultores, dos operários (sim, ainda existem), dos funcionários do estado, insultados e encurralados, da pobreza que se esconde e da que se vê. Falam das desigualdades que crescem, da pobreza envergonhada que existe na classe média, do confisco fiscal, das prepotências da administração, da indiferença face aos mais velhos, aos reformados e pensionistas. Falam muitas vezes com a voz da tradição cristã, da doutrina social da Igreja, dos que foram deixados cair no desemprego, das mulheres que antes eram operárias e ganhavam o seu sustento e hoje são donas de casa, falam dos “piegas” que perderam a casa, o carro, e pior que tudo, a dignidade de uma vida decente.
Deviam estar calados, porque isto é “neo-realismo”. Estes são os portugueses de que não se deve falar. E fazem-no para defenderem nacionalizações, para atacarem a economia de mercado, a propriedade? Não. Falam muitas vezes porque são conservadores e genuínos liberais, gostam do seu país e gostam dos portugueses, da democracia e da liberdade. Eu sei, tudo isto é hoje revolucionário.
Mas há mais. Sentem, como se numa mais que sensível pele, a hipocrisia dominante, ao ver aqueles que destruíram muita da política de Mariano Gago, a elogiar o seu papel na ciência em Portugal, ou quem afastou Maria Barroso da Cruz Vermelha a elogiar as suas virtudes como “grande senhora”. E sabem porque tem sucesso e influência? Porque a sua indignação é genuína e não mede as suas palavras num país de salamaleques, e não falam por conveniência própria nem por obediência partidária. Se fossem mais cordatos e mais convenientes, teriam certamente honras, lugares e prebendas.
Por tudo isto, quando chove e venta e troveja, a manta de Caliban é bem-vinda. É meio peixe? Talvez, mas como não conto ir nadar para o mar dele e ela não conta vir para o meu, une-nos a manta que nos protege da tempestade. E enquanto chove e venta e troveja são os “meus estranhos companheiros de cama” contra a chuva, o vento e a trovoada. Penso, aliás como Churchill, que se o Diabo entende atacar Hitler, sou capaz de dizer umas palavras amáveis sobre o Inferno na Câmara dos Comuns.
É este espírito que “os estranhos companheiros de cama” têm tido a coragem de trazer para a vida pública portuguesa em que tudo desune e nada junta, mesmo quando o adversário usa de todas as armas. É por isso que, a seu tempo, ficarão como resistentes desta tempestade e não gente que foi à primeira chuvinha abrigar-se nas mansões menores do poder.
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© José Pacheco Pereira
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