ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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8.5.13
POBRE PAÍS
o nosso.
Há uns anos, nos momentos mais complicados de dissolução da URSS,
nada funcionava na Rússia. Todos os dias de manhã, no Hotel Ukraina, o
pequeno almoço era uma saga. Chegava o samovar com o chá e não havia
chávenas lavadas. Chegavam as chávenas, não havia colheres. Chegavam as
colheres e não havia chá outra vez. Os estrangeiros recém-chegados
protestavam em vão. Os russos e os velhos habitantes do Hotel Ukraina,
que já conheciam todas as rotinas, iam buscar chávenas à cozinha,
acumulavam duas ou três chávenas em cima da mesa para armazenar o
precioso chá, etc. Um amigo meu disse-me: “vais ver, ao quinto dia já
estamos como eles, a ir buscar chá à cozinha, muito caladinhos”. Ao
terceiro dia já íamos buscar chá à cozinha.
Não há nada como o hábito e como o sentimento de impotência para que
se aceite tudo. Não há nada como a ecologia envolvente para se achar
tudo normal. O resvalar contínuo para a mediocridade, o abaixamento dos
requisitos mínimos, que antes juraríamos nunca aceitar. Que eram mesmo
inimagináveis. Não, meus amigos, é na cozinha que está o chá, que estão
as chávenas, que está o açúcar. É na cozinha. O que é que querem mais?
Qualidade no serviço? Isso não é aqui. Nem no Hotel Rossya, do outro
lado.
(Escolha de José Carlos Santos.)
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© José Pacheco Pereira
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