ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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5.5.12
COISAS DA SÁBADO: CATÁLOGO DAS NOVAS CULPAS
O estado de
pecado no homem não é um facto, senão apenas a interpretação de um facto, a
saber: de um mal-estar fisiológico, considerado sob o ponto de vista moral e
religioso. O sentir-se alguém
«culpado» e «pecador», não prova que na realidade o esteja, como sentir-se
alguém bem não prova que na realidade esteja bem. Recordem-se os famosos
processos de bruxaria; naquela época os juízes mais humanos acreditavam que
havia culpabilidade; as bruxas também acreditavam; contudo, a culpabilidade não
existia. (Friedrich
Nietzsche)
Ser pobre é uma culpa.
(Significa não ser competitivo, ser preguiçoso, depender dos subsídios,
explorando as novas gerações e hipotecando o seu futuro.)
Ser funcionário
público é uma culpa.
(Viver a expensas dos contribuintes.)
Ser desempregado é
uma culpa.
(Não ser competitivo no mercado de trabalho, não se ser
“empreendedor”.)
Ser desempregado de
longa duração é uma culpa.
(Sinal de preguiça e não-“ajustamento”. Condição
sensível à “pieguice”.)
Ser desempregado com
mais de quarenta anos é uma culpa.
(Não se ter “adaptado” a tempo. Condição
sensível à “pieguice”.)
Ser desempregado com
vinte anos é uma culpa.
(Não ter escolhido uma formação com
“empregabilidade”.)
Ter estudado História
é uma culpa.
(Escolher ser não-empregável.)
Ter estudado
Filosofia é uma culpa.
(Escolher ser não-empregável.)
Ter estudado
Literatura é uma culpa.
(Escolher ser não-empregável.)
Ter estudado
Sociologia é uma culpa.
(Escolher ser não-empregável.)
Ser de “humanidades”
é uma culpa.
(Escolher ser não-empregável.)
Viver mais do que
sessenta e cinco anos é uma culpa.
(Ameaça à segurança social por via das
reformas.)
Exercer os seus
direitos legais à reforma é uma culpa.
(Significa pensar que se tem
direitos quando não se tem nenhum. As carreiras contributivas para a segurança
social são mais úteis para controlar o défice.)
Ter nascido entre
1940 e 1950 é uma culpa.
(Fazer parte da geração maldita dos anos sessenta
que tem todas as ideias erradas.)
Ter nascido entre
1950 e 1960 é uma culpa.
(Fazer parte da geração maldita dos anos setenta,
a segunda em perigosidade depois da dos anos sessenta.)
Ter nascido entre
1960 e 1970 é uma culpa.
(É a geração do “cavaquismo”, como se sabe, um resquício de um PSD “social-democrata” anacrónico.)
Ter nascido entre
1970 e 1980 é uma culpa.
(Idem.)
Estar vivo e adulto
em 2012 é uma culpa.
(Viveu-se “acima das suas posses”.)
Estar vivo no 25 de
Abril de 1974 é uma culpa.
(Veja-se este comunicado da JSD: “”o
sucesso da marca do 25 de Abril e da conquista da democracia será tanto maior
quanto menos depender dos agentes da mudança de 1974..”)
Não pensar que o 25
de Abril é uma “marca”, é uma culpa.
(Sinal de “corporativismo” a favor de
uma marca duvidosa.)
Ter direitos sociais é
uma culpa.
(O que é bom é ser-se contra os direitos, em particular quando a
família é rica.)
Não ter uma família
rica é uma culpa.
(Significa que os pais e os avós já não foram
competitivos, genética errada.)
Ser sindicalizado é
uma culpa.
(Fazer parte das forças do bloqueio antiquadas que resistem ao
“ajustamento”.)
Viver fora de moda é
uma culpa.
(Significa não querer ser competitivo.)
Duvidar do modo como
somos governados é uma culpa.
(Ser-se “socratista” ou “velho do Restelo”.)
(Podia continuar sempre.)
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© José Pacheco Pereira
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