ABRUPTO

9.1.05


GRANDES NOMES: PASSEIO / QUINTA DAS VIRTUDES

Um dos sítios onde o Porto é mais Porto. Mário Cláudio escreveu assim sobre a casa da Quinta:

"Com a Casa por aprontar, ainda, mas habitável, presa a seu escabroso alcantil, apreciava José Pinto de Meirelles exibir, à vista, nem sempre excitada, de visitantes de passagem ou de hóspedes de raiz, a planta do que fora o projecto inicial. Representava ela, no que à fachada norte respeitava, um corpo de linhas neoclássicas, de duas águas bem desenvolvidas, com uma projecção central, que um frontão encimava, no qual as armas da família se inscreviam. E, muito pormenorizadamente, a gestos bastante largos, que faziam com que, sobre o desenho desdobrado, se espalhasse uma pouca de rapé, da caixinha que sustentava, entre os dedos, justificava-se José Pinto de não haver cristalizado sua vontade primeira, em tão grandiosa construção. Perante o exame daquela rejeitada amplitude arquitectónica, dir-se-ia ter perpassado, porventura, em seu espírito, o sonho de uma certa opulência, que o Porto, de resto, não toleraria, de coches estacionados, em longuíssima fileira, diante do lanço de oito degraus, de que emergiam os convidados, para um onírico baile, nos salões comunicantes do plano nobre. Coisa insólita, porém, era a de jamais atribuir ele a impugnação de tanta, nunca vista prodigalidade, ao demasiado custo do empreendimento, senão a conveniências, que não lograva explicar, calma e satisfatoriamente, da perspectiva panorâmica e da higiene dos filhos. Repontavam-lhe os interlocutores, com a esperança de que, num remoto futuro, talvez, se possibilitasse, a um qualquer Meirelles, de gosto perfeito, a concretização do sonho de seu antepassado. "

(Sugestão de José Carlos Santos.)

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© José Pacheco Pereira
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