ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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11.7.03
EARLY MORNING BLOGS 6
Continua a manter-se uma acentuada diminuição dos blogues nictalopes. O Dicionário do Diabo voltou à produção nocturna naquele tom em que Mexia é melhor quando , numa mesma frase, faz um upgrade ( de um facto ou mérito alheio) e um downgrade (na apropriação própria do facto ou observação). Exemplos recentes a dois tempos: Upgrade : HOMENAGEM A JVP: Gosto muito do José Vaz Pereira, cinéfilo e bibliófilo de extremo bom gosto e boa educação. Mas ontem a minha admiração pelo José aumentou: encontro-o numa livraria e reparo que os funcionários ao passar dizem: «bom dia, sr. Vaz Pereira». Downgrade : Não me importava de ter uma lápide no meu túmulo que rezasse assim: P.M. Nas Livrarias Conheciam-no Pelo Nome. Upgrade: FASHION: As últimas três raparigas realmente bonitas que avistei traziam todas roupa da Mango. Downgrade: Como não percebo nada do fenómeno, peço às leitoras versadas em roupinhas um comentário: será isto por acaso? Resulta porque produz fragilidade e um vácuo e a natureza tem horror ao vácuo. O Monologo é um dos raros diários genuínos em blogue, em que o que aconteceu, o trivial, o aborrecido, o quotidiano fatigante, rompe à força pelo meio do que se quer dizer, quando nem sempre se quer dizer o que aconteceu. NO TEMPO EM QUE O PENSAMENTO ERA TODO INCORRECTO Saíram uns livrinhos (o diminutivo, uma praga portuguesa, aqui justifica-se porque são pequenos) muito bem feitos, traduzidos, anotados, escolhidos, exemplo como deve ser uma colecção, editada por Elementos Sudoeste. Nunca os tinha visto no caos actual da distribuição livreira. que obriga a visitar várias livrarias muito diferentes para ter uma vaga ideia do que está a sair e mesmo assim, de vez em quando, encontra-se alguma coisa de obrigatório que já saiu há um ano e não apareceu em lado nenhum. Comprei as edições de Max Scheler, A Concepção Filosófica do Mundo , Pascal, Do Espírito Geométrico e da Arte de Persuadir, e Maquiavel, A Vida de Castruccio Castracani da Lucca. Este último, organizado e traduzido por Carlos Eduardo Soveral, colecciona alguns pequenos textos de Maquiavel sobre o poder como praxis e não theoria , ou seja pela astúcia, pela intriga, pela espada, pelo veneno, pela força, uma lembrança preciosa da origem do poder, do poder político. A biografia de Castruccio tem aquela virtude dos textos clássicos que é o de nos poder dizer com a clareza inicial, coisas que repetimos depois sempre muito pior. Veja-se, como lição preciosa para os nossos snobes que andavam embevecidos com as virtudes do “velho dinheiro” e gostavam de apoucar os “de baixo”, como Maquiavel lembra que “todos ou a maior parte dos que neste mundo levaram a cabo grandíssimos feitos e , entre os demais do seu estado se tornaram excelentes , tenham tido principio e nascimento baixos e obscuros, ou fora de todo o favor da fortuna ; porque todos ou foram expostos às feras ou tiveram pai tão vil que, na vergonha disso, se fizeram filhos de Jove ou de qualquer outro deus” Castruccio dizia que se pudesse “vencer por fraude”, o preferia a “vencer por força” , “porque dizia que é a vitória, não o modo dela, o que traz a glória”. Quanto ao politicamente incorrecto aqui vai um exemplo referido ao próprio Castruccio : “Nenhum foi mais audaz a entrar nos perigos, nem mais cauto a sair deles: e costumava dizer que devem os homens tentar todas as coisas e com nenhuma se atemorizar, e que Deus é amador dos homens fortes, porque se vê que sempre castiga os impotentes com os potentes.” (url)
© José Pacheco Pereira
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