ABRUPTO

29.9.06
 


COISAS DA SÁBADO: ANOS INQUIETOS - TRÊS CIDADES, TRÊS MOVIMENTOS

Anos InquietosRui Bebiano e Maria Manuela Cruzeiro (organização), Anos Inquietos, Vozes do Movimento Estudantil em Coimbra (1961-1974), Porto, Afrontamento, 2006

Embora a crise estudantil de 1962 seja a mais estudada e citada, em grande parte pelo destino e papel de alguns dos seus principais protagonistas, a começar por Jorge Sampaio, a crise de Coimbra não lhe fica atrás. O livro de entrevistas organizado por Rui Bebiano e Maria Manuela Cruzeiro é um dos primeiros a recolher sob a forma oral as histórias de vida de alguns dos protagonistas do movimento estudantil de Coimbra, à volta do seu annus mirabilis de 1969. O livro merece uma outra análise mais atenta, mas dois factores são patentes nas entrevistas, que fornecem um excelente ponto de partida para estudos posteriores: um, o carácter muito sui generis do movimento coimbrão, com poucos pontos de contacto com Lisboa e Porto; outro, a peculiar fragmentação da organização dos estudantes comunistas, sem paralelo com o que se passava em Lisboa e Porto que tinham unidade de direcção.

No seu livro sobre a crise de Coimbra, Celso Cruzeiro revela como era difícil fazer entender aos dirigentes associativos de Lisboa, com uma politização mais explicita e radical, o que se passava em Coimbra. Este testemunho mostra a estranheza peculiar a alguns passos das entrevistas para quem não era de Coimbra (o Conge, os IBM, etc,), e revela uma idiossincrasia especial do movimento. Em Coimbra, havia a universidade, centralizada, sem fragmentação associativa, - a AAC é o centro e quase tudo anda à volta do centro , mesmo quando outras entidades, como o Conselho das Republicas o substitui ou complementa por necessidade - permeado por um cultura estudantil local antiga, com a praxe, as “repúblicas”, e uma hierarquia entre veteranos e caloiros, que seria absurda em Lisboa e Porto. No movimento estudantil de Coimbra são muito fortes, a cidade, a “cidade universitária”, e a memória sob forma de tradições, umas vezes usadas, outras recusadas pelo movimento dos estudantes.

Com este livro avança-se para perceber como o movimento estudantil nacional era diversificado por detrás da sua aparente unidade. Mas falta estudar tudo o resto no movimento estudantil nacional, em particular Lisboa depois de 1962, onde só o episódio da morte de Ribeiro Santos é razoavelmente conhecido e praticamente tudo sobre o Porto, cujo movimento era mais parecido com o de Lisboa, mas mais clandestinizado pela escassez de associações legais . O interesse de relevar estas omissões, de que os seus autores não têm responsabilidade, é porque assim seria possível colocar a crise de Coimbra fora de Coimbra, fora dos quadros narrativos e interpretativos internos a um movimento estudantil muito peculiar.

Esta dificuldade é acentuada, aqui já por escolha dos seus autores, pela falta da dimensão esquerdista, - os “contestas” como depreciativamente eram classificados pelo núcleo comunista, - sem a qual a partir de 1969 não se percebe o movimento estudantil. Esta última opção é mais contestável, porque mantêm uma visão ortodoxa, “proprietária” da crise de Coimbra, que ganharia em ser medida com os seus limites e com episódios de que pouco se fala, como o “pedido de desculpas” posterior de alguns dirigentes associativos a Américo Tomás que gerou grande indignação em Lisboa e Porto. Como diria um “contesta”.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM GABROVO, BULGÁRIA



(Sílvia Mota)
 


EARLY MORNING BLOGS / BIBLIOFILIA

877 - The bookworm

There is a sort of busy worm
That will the fairest books deform,
By gnawing holes throughout them;
Alike, through every leaf they go,
Yet of its merits naught they know,
Nor care they aught about them.

Their tasteless tooth will tear and taint
The Poet, Patriot, Sage or Saint,
Not sparing wit nor learning.
Now, if you'd know the reason why,
The best of reasons I'll supply;
'Tis bread to the poor vermin.

Of pepper, snuff, or 'bacca smoke,
And Russia-calf they make a joke.
Yet, why should sons of science
These puny rankling reptiles dread?
'Tis but to let their books be read,
And bid the worms defiance.

(J. Doraston)

*

Bom dia! Sem Lepisma saccharina, claro.

28.9.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM RUIVÃES, PORTUGAL



O regresso do rebanho de ovelhas a casa, aguardando que a sua dona abra o portão.
Vila de Ruivães, há minutos atrás.

(Paulo Miranda)
 


ESTADO DO ABRUPTO

O Abrupto atingiu cinco milhões de pageviews e três milhões e novecentas mil visitas. Na realidade, os números são um pouco mais altos, mas devido às rupturas dos contadores ocorridas no seu primeiro ano e ao episódio de pirataria (embora haja elementos sobre esse episódio para que aceitei confidencialidade, posso revelar que ele foi resolvido directamente pelos engenheiros do Google, depois de várias tentativas falhadas anteriores do Blogger) os registos não são exactos. Os números de hoje do Sitemeter dão-lhe uma média de 4537 visitas e 5128 pageviews. Todos os anos o Abrupto tem tido mais leitores e mais pageviews do que no ano anterior, da ordem das dezenas de milhar como se pode ver neste gráfico de Setembro a Setembro (e ainda faltam alguns dias). Podia acrescentar-se qualquer outro indicador, que os resultados são muito animadores.



O Abrupto está de boa saúde e recomenda-se. Muito obrigado a todos.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM ROUSSE, BULGÁRIA



(Sílvia Mota)
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 28 de Setembro de 2006


Nenhuma cadeia de televisão nacional, nenhuma estação europeia de "serviço público", nenhuma estação séria em todo o mundo passou o documentário Loose Change com excepção da RTP, a julgar pelas referências no artigo da Wikipedia sobre a divulgação do "documentário" conspirativo (*). Várias se lhe referiram, mas sempre dentro de um contexto infomativo sobre teorias da conspiração, como por exemplo fez a BBC. Na lista fica apenas a RTP, um canal de cabo australiano e outro paquistanês. É bom que se perceba, no meio da desinformação e dos baixos critérios de exigência deontológica do canal público, politicamente motivados, por que razão há um problema jornalístico e editorial na forma como o Loose Change foi tratado. Já agora será que a RTP financia um documentário a mostrar que foram homenzinhos verdes que descobriram o caminho marítimo para a Índia? Tenho provas que o governo sempre ocultou...

  • (*)Portuguese public TV Station RTP showed the documentary on the 10 of September, 2006 in prime time hours, and again in RTP2 on September 17th 2006.
  • Australian Pay TV Channel, The History Channel, showed it during prime time hours on September 11 2006.
  • A Pakistani channel, Geo TV, showed Loose Change - dubbed into Urdu - on the fifth aniversary of 9/11.
*
Eu bem sei que a esmagadora maioria daqueles que dizem acreditar em teorias como a exposta no Loose Change está predisposta, devido aos seus preconceitos e sectarismo, a engolir todo esse tipo de lixo. Mas de qualquer modo deixo aqui um link para um site onde poderão ver desmascaradas as teorias conspirativas acerca do 11/9:.

Tudo isto me faz lembrar a maior indústria de teorias conspirativas do Mundo - a que se ocupa do atentado a John Kennedy, e que foi profusamente servida pelo famigerado filme "JFK", de Oliver Stone. A este propósito dizia um saudável céptico: "a acreditar nas várias teorias mirabolantes acerca da morte de Kennedy mais de 500 pessoas estiveram envolvidas na conspiração, o que faz desta o segredo mais bem guardado do Mundo, pois até hoje nenhuma delas deu com a língua nos dentes".


(Alexandre Burmester)

*

A tradição de se acreditar que o governo, em particular o dos EUA , sonega informação, tem tecnologias incríveis e escondidas em remotos locais como a famosa base 51 guardada por fanáticos e mais um sem número de disparates é recorrente mas sempre capaz de divertir o mais sisudo.
Carl Sagan num dos seus últimos livros escreve longamente sobre este fenómeno, para mim um dos mais fascinantes da raça Humana, a capacidade aparentemente infinita para se acreditar em coisas fantásticas e pouco prováveis deitando fora todo o sentido crítico, aceitando religiosamente todos os factos como verdadeiros e vendo as críticas feitas por pessoas mais cépticas um disparate de quem não se apercebeu da evidência dos factos. No seu livro ele explica como surgiu nos meados do século passado a ideia de que o governo dos EUA “escondia” “coisas”.
Resumindo uma leitura fascinante, pelos vistos os relatórios dos serviços secretos, são divulgados ao público de x em x anos numa tentativa de tornar o processo mais transparente e desta forma afastar este tipo de ideias conspirativas. No entanto os que contém menções a pessoas vivas ou informação confidencial cruzada na altura da divulgação aparecem cortados a marcador preto nos locais sensíveis, dando um aspecto de censura e de mistérios tão estimados aos seguidores da Teoria. Este procedimento aliado á teimosia de não divulgar alguns relatórios sobre o incidente de Roswell, recentemente desclassificados e onde se pode verificar que se tratava de balões atmosféricos e sondas, transformou a tradicional desconfiança em relação ao estado na suspeita de práticas de actividades ilegais e criminosas com um caracter sinistro e malévolo, desde a captura e ocultação de OVNIS e dos seus ocupantes até esta teoria macabra em que se coloca um número elevado de pessoas em lugares chave do governo a orquestrar a morte de milhares de civis inocentes. Nunca compreendi muito bem qual seria o móbil do crime, mas de facto há mistérios que mais vale nem perceber.
Para acabar de vez com a teoria do atentado ao Pentágono existe um site que tem tudo bem explicado , desde o motivo do desaparecimento do avião até outras resposta a perguntas dos famosos “cépticos” da versão oficial.

Fica o link para quem tiver curiosidade de descobrir as diferenças entre uma explicação bem feita e que estranhamente convence á primeira e uma atabalhoada tentativa de fazer com que a ignorância bata certa com a realidade distorcendo a realidade na medida da ignorância.
Mas toda a gente sabe que só se percebe à primeira porque o site é financiado pela CIA em ligação com o ex-KGB e através da frequência do monitor envia sinais telepáticos ficando-se sem sentido crítico, a famosa lavagem cerebral mas á distância. Parece que tem funcionado muito bem por essa net fora....
De notar que o site também tem uma série de curiosidades sobre outros mitos que vão sempre aparecendo pela net, um excelente barómetro da histeria geral.

(RMR)

*

Escrevo este email, motivado essencialmente pelo debate associado ao documentário "Loose Change" e às teorias da conspiração a ele associadas, como uma espécie de desabafo a que está tb associada uma questão, que é a seguinte:

"Como é que um ocidental politicamente moderado, com um nível de
inteligência razoável, formação académica de topo, católico, aberto à teoria da evolução, admirador dos Estados Unidos, e da sua capacidade de desenvolvimento tecnológico, a nível universitário e empresarial, ímpar em todo o mundo, e igualmente da sua sociedade livre e aberta, que apoiou sem questionar a intervenção no Iraque, e que se encontra numa zona do mundo (China), onde no diálogo do dia-a-dia os argumentos utilizados são de nível civilizacional, isto é cultura ocidental (Greco-Romana) versus cultura oriental (Chinesa), mas dizia eu, como é que essa pessoa em face de, documentários como o "Fog of War - Eleven Lessons from the life of Robert S. McNamara", "Fahrenheit 9/11", "Loose Change", ou então de um livro como "20 Grandes Conspirações da História", de Santiago Camacho, pode defender sem dúvidas uma civilização que está em franca decadência e está a perder diariamente e de forma acelerada qualquer autoridade moral para se afirmar no diálogo mundial?"

Para além de todos os "image&sound-bytes" que circulam pelo planeta à velocidade da luz, esta é que creio ser a questão principal. Os argumentos apresentados no "Loose Change", podem ser pouco científicos e nalguns casos até pouco inteligentes na forma como são descritos, mas como é que os mesmos se podem combater, nomeadamente no caso do ataque ao Pentágono, através da disponibilização de uma imagem de uma câmara, que não esclarece nada ainda adensa mais as dúvidas que possam existir...

Apresento as minhas desculpas pelo desabafo, mas na realidade só podemos
ser credíveis quando conseguimos apresentar provas científicas que
confirmam sem dúvidas aquilo que afirmamos, e neste caso do 11 de Setembro e subsequente guerra ao terrorismo, as perguntas sem resposta são tantas e tão diversificadas, que temo pelo futuro da nossa civilização ocidental...

(Rui Martins)


*


Gostava apenas de partilhar consigo a mensagem abaixo, que recebi no meio de muito lixo da Internet. Repare-se na desinformação, nas mentiras, no disparate. Repare-se como tudo se faz passar como se fosse o acordar de algum lúcido que de repente viu a luz em relação à verdade (como se de repente tudo "encaixasse"). Repare-se como se fala da RTP e da BBC (!) para confirmar a verdade da coisa. Repare-se ainda como isto circula na Internet, vindo de funcionários de empresas, de amigos, de pessoas em quem confiamos. Quem passa o mail nem pensa bem no assunto e muito menos verifica o que quer que seja. É passar e já está. Assim se transmite uma estranha falta de discernimento ( i.e., estupidez) disfarçada de inteligência e lucidez.


(Marco Neves)


---------- Forwarded message ----------
From: xxx
To: xxx
Date: Mon, 18 Sep 2006 12:21:26 +0100
Subject: As mentiras dos americanos - para pensar....

>Ontem a RTP transmitiu uma reportagem feita pela BBC sobre a verdade do
>atentado do 11 de Setembro. Nos vídeos que transmitiram a minha reacção
>foi de espanto ao reparar em pequenos detalhes que inicialmente nos
>escaparam, nestes vídeos os repórteres conseguem provar varias
>situações através das filmagens do atentado que nos deixam a pensar:
>
>- Os aviões utilizados nos atentados ainda continuam a voar (foram
>utilizados 2 "clones"), num dos filmes vê-se um dos aviões no aeroporto
>ao meio-dia e meio do dia do atentado, pois tinha aterrado as 10:30
>devido a uma denuncia de atentado a bomba, o filme mostra bem a
>matricula do avião, os referidos aviões continuam no activo e nunca foi
>dado baixa deles na FAA (entidade que controla os voo civis e militares)
>
>- 9 dos supostos terroristas ainda estão vivos e de boa saúde pois
>foram contactados pela BBC, mais de metade queixou-se de lhes terem
>roubado os passaportes.
>
>- O filme onde mostra o Bin laden a assumir a autoria do atentado é
>falso, pois o Bin laden é canhoto e no filme aparece a escrever com a
>direita e com um anel de ouro, coisa que o islamismo não permite.
>
>- O Bin Laden esteve num Hospital americano 3 dias antes do atentado.
>
>- A explosão no pêntagno tinha 5 metros e meio de diâmetro antes da
>parede ruir, um 757 tem uma envergadura de asa de 38 metros, e o motor
>de avião encontrado nos destroços da explosão nunca poderia ser de um
>Boeing, o avião é equipado com 2 motores de 6 toneladas cada e nunca
>poderia ter feito uma descida aquela velocidade pois teria se
>despenhado antes, afirmação feita pela Boeing e Rollys Royce
>(fornecedor de motores para o avião em causa), as
>caixas negras nunca foram encontradas o que é inédito na história da
>aviação.
>
>- Existiam 200 mil milhões de dólares em barras de ouro por baixo do
>World Trade Center, até agora ninguém explicou a sua origem
>
>- Foram descobertas provas por uma empresa alemã de que ficou de
>recuperar o conteúdo de alguns discos dos pc's que estavam no WTC onde
>se efectuaram transferências de valores astronómicos minutos antes do
>atentado.
>
>- O vídeo das torres a ruir mostra uma explosão controlada nos pisos
>inferiores ao embate do avião, segundos depois a torre cai.
>
>- Bombeiros, policias e pessoas que estavam nas torres, ouviram mais
>que uma explosão em cada torre.
>
>- A teoria do aço das torres ter cedido é mentira, a temperatura do
>fogo foi de 1600 graus, o aço das torres tinha certificação para
>temperaturas acima dos 2000 graus.
>
>- Todos os especialistas que contaram a verdade dos factos foram
>despedidos dos seus cargos.
>
>E muito mais situações, se pretenderem podem ver os vídeos em:
>
> www.loosechange911.com/
>
>Isto dá mesmo que pensar.....................

*

Em várias conversas tidas recentemente, apercebi-me que muita gente tomou como boa a informação contida no “documentário” Loose Change. “Se a RTP o passou é porque a coisa é credível” – disseram algumas dessas pessoas.

Sinceramente, penso que já nem sequer vale a pena insistir em contrariar essas pessoas. Se até agora ainda não perceberam o que está errado, não creio que o venham a perceber.

E o que está errado são os factos. Podemos especular sobre factos conhecidos – o que até pode ser um exercício interessante. Podemos até duvidar dos factos que nos são apresentados – sobretudo quando as fontes não nos oferecem confiança. Não podemos é deturpar, manipular, omitir e falsificar factos só para que estes encaixem nas nossas teorias. Se procedermos assim, então não há nada neste mundo que não possa ser provado/desmentido.

O mais grave neste “documentário” não é o ter sido realizado. O mais grave é o ter sido transmitido pela RTP, um órgão de informação que se diz credível. Tomemos um exemplo nacional. A RTP pode passar um documentário a dizer que a morte de Sá Carneiro foi um atentado. A RTP pode passar um documentário a dizer que a morte de Sá Carneiro foi um acidente. O que a RTP não pode fazer é passar um “documentário” que afirme que não foram encontrados corpos em Camarate, que afinal Sá Carneiro está vivo, e que tudo não passou de uma manobra de diversão para que ele pudesse fugir para as Maldivas com Snu Abecassis. Quem não consegue distinguir uma coisa da outra não merece ostentar uma carteira de jornalista, nem ter quaisquer responsabilidades na programação de uma televisão paga por todos nós para (alegadamente) prestar um serviço público.

Já agora: passou há dias na SIC Notícias um documentário sobre o primeiro homem a conseguir engravidar. Passaram entrevistas do próprio e de amigos. Passaram declarações do médico que lhe implantou um útero. Mostraram fotografias do procedimento cirúrgico e creio que até de uma ecografia. Houve mesmo um jornal que chegou a noticiar o caso. A coisa estava bem feita, e muitos teriam acreditado na história se, ao fim de largos minutos, os autores do documentário não tivessem confessado o embuste. Aqui, como no Loose Change, a informação foi propositadamente manipulada para induzir em erro os espectadores. Só que aqui, ao contrário do Loose Change, os autores fizeram-no para alertar os espectadores contra charlatães. Uma coisa é a dúvida legítima, outra é a crendice cega. Uma ajuda ao desenvolvimento da sociedade, a outra empurra-a para a idade das trevas.

(Carlos Carvalho)

*

Acompanha tanto a actividade da NASA que suponho que estará a par de que ... é tudo mentira. A começar pela ida à Lua. Evidência aqui e aqui (este ainda não li todo, mas parece-me que nos ilumina também de sabedoria) ou então aqui (este é maravilhoso, pois segundo percebi, os Russos nunca mentiram, nem falharam, as naves deles atingiram sempre o seu destino, embora saibamos hoje que esconderam todos os seus fracassos. Os americanos pelo contrário, pelos vistos, inventaram todos os seus sucessos). Razão tinha o meu avô que não acreditava naquilo.
Portanto, cuidado, aquelas fotografias de Marte e Saturno que nos anda a mostrar no Abrupto, também devem ser do deserto do Nevada ou visão de algum artista Nova Vaga.

(Mário Almeida )

PS: Vou mandar os nomes dos sites para a RTP. Talvez esta revelação chocante seja noticia de abertura do Telejornal às 20:00.

PS2: Aqui , pelos vistos temos a verdade sobre tudo. Uma verdadeira Bíblia. Extraordinário.

*

Reformulo palavras suas: «Já agora será que a RTP financia um documentário a mostrar que havia armas de destruição maciça que justificaram um atoleiro? Tenho provas que o governo sempre ocultou...»

Julgo que nesta questão um pouco mais de bom senso valeria a pena [a Wikipedia, que pode ser administrada e "actualizada" por qualquer um, agora já não levanta eventuais reservas ideológicas sobre os factos que apresenta?, isto apenas para recordar uma discussão antiga que, se não me falha a memória, também por aqui passou]. Não sou nenhum mentecapto que não saiba "ler" para além do documentário. Mas também sei seguir outros links do artigo da Wikipedia que ajudam a compor outro retrato: os órgãos de comunicação social que falaram do documentário (e que não o podem "publicar") incluem a Time, a Vanity Fair ou a Salon. E outras televisões, como a ABC [que disponibiliza mesmo no seu site um link para o filme!], comentaram o filme (com excertos e dando voz ao realizador)
Nisto tudo, estou com Bruno Sena Martins : «Sem avaliações insultuosas à capacidade intelectual de quem quer que seja , vale lembrar que o negacionismo e o voluntarismo inconsequente se irmanam na história da barbárie.»

(Miguel Marujo)
 


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: VITÓRIA!

http://marsrovers.jpl.nasa.gov/gallery/press/opportunity/20060927b/site_B76_264_navcam_CYL_L-B952R1_br.jpg

As primeiras imagens da cratera Victoria, a que chegou a "Oportunidade", quase mil sols depois de estar em Marte. Velha "Oportunidade" que já devia estar morta há muito tempo e continua a ver por nós, devagar, devagarinho, mas a passo muito seguro. Vamos agora ter a festa científica e a tão importante "propaganda" que, a cada fotografia destas, aumenta a curiosidade criadora do público e "faz" novos cientistas entre os jovens.
 


EARLY MORNING BLOGS

876 - A bookworm

The image “http://www.bodley.ox.ac.uk/dept/preservation/training/pests/damage.jpg” cannot be displayed, because it contains errors.

A moth devoured words. When I heard of that wonder
It struck me as a strange event
That a worm should swallow the song of some man.
A thief gorge in the darkness on a great man's
Speech of distinction. But the thievish stranger
Was not a whit the wiser for swallowing words.

And the answer: A Bookworm.

(Kevin Crossley-Holland , a partir do Old English of The Exeter Book, musicado por Arthur Bliss com o subtítulo de "Hommage modeste à Maurice Ravel")

*

Bom dia!

27.9.06
 


INTENDÊNCIA

Por iniciativa do INDÚSTRIAS CULTURAIS foram colocados em linha dois fragmentos em video da intervenção feita no Instituto Cervantes ( aqui e aqui no YouTube) parcialmente transcrita em O PASSADO É UM PAÍS ESTRANGEIRO.

Actualizadas as notas COISAS DA SÁBADO: BATALHAS DE RETAGUARDA - OS BELGAS E O GOOGLE e RETRATOS DE TRABALHO EM SINTRA, PORTUGAL.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM TROYAN, BULGÁRIA



(Sílvia Mota)
 


O PASSADO É UM PAÍS ESTRANGEIRO

(Fragmento do texto O Passado é um País Estrangeiro - Memória pessoal da Guerra Civil Espanhola nos anos sessenta, lido na sessão de encerramento, no Instituto Cervantes, do Simpósio "Guerra Civil de Espanha: cruzando fronteiras 70 anos depois" organizado pelo Instituto em conjunto com a Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa.)

[NOTA: por iniciativa do INDÚSTRIAS CULTURAIS foram colocados em linha dois excertos em video da intervenção, aqui e aqui no YouTube.]


(...)

Na sua biografia de Ronald Reagan, Edmund Morris escandalizou a comunidade de historiadores americanos ao se colocar ele próprio ficcionalmente a testemunhar eventos da vida do seu biografado. Morris, cuja biografia de Theodore Roosevelt ganhara um Prémio Pulitzer e um American Book Award, era considerado um sólido praticante da história, com métodos tradicionais, que fora escolhido para biógrafo oficial de Reagan. Após uma longa expectativa, visto que Morris se atrasou muito na entrega do original, a sua obra Dutch. A Memory of Ronald Reagan usava esse device polémico que, não afectando o rigor das fontes e dos eventos, perturbava a distância que ia da narrativa, do sujeito da narrativa, ao autor da narrativa. No seu intróito, numa biografia excepcionalmente bem escrita do ponto de vista literário, Morris falava do impulso do biógrafo para o biografado, do autor para o tema, nestes termos:
“Memory. Desire. (…) Before we recede to our respective darkness, I must allow these floating fragments, these dusting of myself to sparkle in his waning light”
O primeiro capítulo abre logo no mesmo tom no seu título: “The Land of Lost Things”, uma variação do início do livro de L. P. Hartley The Go-Between, “The past is a foreign country; they do things differently there.

They do things differently there.”. Yes, they do. O título deste simpósio é “Cruzando fronteiras: 70 Anos Depois”. Que “fronteiras”? As da geografia entre a Espanha em guerra e Portugal quase em paz? Ou as mais difíceis fronteiras do tempo, perturbado por quase dois terços de um século de diferença?

As do tempo, claro, as mais difíceis de atravessar. Como é que eu as atravessei? Como é que na minha geração, geração - palavra que não quer dizer mais do que homens presos no tempo, feitos pelo tempo, - atravessamos essa fronteira da guerra espanhola, ainda tão viva, ainda mais viva do que está hoje, a caminho de morrer fora de Espanha e a caminho de viver em Espanha só pelas metáforas cruéis do “destino manifesto”?

Se cada geração constrói a sua memória da história, como é que essa memória pode ser “limpa” da história que a está de novo a recriar? E isso é particularmente verdadeiro, quando se trata de gerações que vivem em tempos densos e fortes. E a minha geração teve a sorte ou o azar (para os outros) de ter vivido os “tempos interessantes” prometidos pela maldição chinesa. “Que vivas tempos interessantes” , pois vivemos tempos interessantes e até agora tivemos sorte em vivê-los do lado dos vitoriosos. Não sei se será sempre assim, porque os “tempos interessantes” ainda estão longe de acabar.

No meio do caminho da minha vida, a revolução do 25 de Abril e, quinze anos depois, a queda do Muro de Berlim e o fim da URSS e da “guerra fria”, é dose de “tempos interessantes” demais para que não paguemos, mais cedo ou mais tarde, a sua factura. De um modo perverso, é o que está a acontecer. Ora, se a memória da guerra civil espanhola estava viva dentro do caminho e da realidade do 25 de Abril, já o não estava da mesma maneira quando da queda do Muro. Sem a “guerra fria”, ou se se quiser, com o fim da longa guerra civil mundial que atravessou o século XX, desde 1917 até 1989, a memória da guerra espanhola mudou completamente. É hoje mais perplexa do que foi alguma vez no passado e o revisionismo dos historiadores mais jovens, tornando-a aggiornata, retirando-lhe a densidade dramática de uma escolha impossível de se repetir, de se fazer com a clareza do passado. Será que na guerra de Espanha não há “lado bom” nem ”lado mau”, um pouco como na guerra entre o Irão e o Iraque em que se desejava que ambos os lados perdessem, como se isso fosse possível? Ou será que ao se fazer esta pergunta, se está no fundo a justificar Franco, igualando tudo, num relativismo de amálgama, que deixa para trás os dilemas dos que a viveram? Será que os dilemas de 1936, não são possíveis de formular do ponto de vista moral, ou se se quiser, apenas do ponto de vista das “lições” da história, ou seja, da política? Será que a história cuida de dar “lições”? Os historiadores dizem que não na primeira frase, mas acreditam que sim na segunda, senão não escreviam sobre história, mas sim sobre a mecânica dos fluidos.

Não restam dúvidas de que para a minha geração portuguesa, formada nos anos da década de sessenta, à volta da data simbólica do Maio de 68, cresceu a perplexidade sobre o que aconteceu em Espanha, dissolvendo-se a necessidade aguda da memória da guerra entre o 25 de Abril e a queda do Muro. Porquê? Por que é que antes nos lembrávamos, ou melhor, por que é que antes não queríamos esquecer, e hoje nos esquecemos tão naturalmente? Não é muito fácil responder, mesmo quando percebemos quanto era mítica a nossa lembrança espanhola, porque ela nos incomoda no presente, quando já não acreditamos em nenhum dos mitos que alimentamos no passado. “The past is a foreign country”.

(...)
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 27 de Setembro de 2006

Como se faz manipulação de uma notícia: telejornal da hora do almoço da RTP, noticia-se a decisão de Bush de divulgar o relatório dos serviços secretos que tem vindo a ser "soprado" para os jornais em fragmentos selectivos cuidadosamente escolhidos. Sem nos dizer uma linha sobre o que está no relatório, sem dar a intervenção de Bush a não ser truncada, passa-se uma longa intervenção, essa sim com princípio, meio e fim, de um crítico de Bush. Não me lembro de ver jornalistas a criticar a divulgação integral de um documento, quando normalmente o que faziam era exigi-la. Mas agora vale tudo.

O documento desclassificado está aqui. Cada um julgue por si, que é uma liberdade que o proselitismo de alguma comunicação social não nos quer dar.
 


EARLY MORNING BLOGS

875 - Guerra de Civilizações

A crusader’s wife slipped from the garrison
And had an affair with a Saracen;
She was not over-sexed,
Or jealous, or vexed,
She just wanted to make a comparison.

(Ogden Nash)

*

Bom dia!

26.9.06
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 26 de Setembro de 2006


Saber que é preciso para se acreditar em teorias da conspiração (obrigado ao José Carlos Santos).
 


RETRATOS DO TRABALHO EM PORT-LOUIS, MAURÍCIAS



Um artesão a esculpir estátuas de madeira, uma das principais fontes de receita da ilha.

(António e Cristina Marques)
 


EARLY MORNING BLOGS

874 - An Old Person from Gretna

There was an Old Person from Gretna,
Who rushed down the crater of Etna;
When they said, 'Is it hot?'
He replied, 'No, it's not!'
That mendacious Old Person of Gretna.

(Edward Lear)

*

Bom dia!

25.9.06
 


INTENDÊNCIA

Actualizada a nota COMPROMISSOS.
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 25 de Setembro de 2006


Duas breves questões/provocações: uma vez que se afirma tanto que Espanha vive de costas voltadas para Portugal, como explicar que, apesar de ser leitor/espectador bastante atento, nunca tenha encontrado matéria muito relevante (nos média portugueses) acerca das "teorias da conspiração" que em Espanha se vão debatendo em torno dos atentados de 11 de Março? (Notícias do El Mundo sobre o 11 de Março.) Afinal, quem vive voltado de costas para quem? (...) E não será algo duplo o critério que nos faz atentar apenas nos eventuais contornos cinzentos do 11 de Setembro?

(António Delicado)

*

Prémio para título sem pés nem cabeça: "Vida poderá não ser melhor em 2020 mesmo com expansão da Internet".

[NOTA: o título foi entretanto mudado para um muito mais sensato "Expansão da Internet não estará associada à melhoria da qualidade de vida".]
 


COISAS DA SÁBADO: BATALHAS DE RETAGUARDA - OS BELGAS E O GOOGLE
Google

Um Tribunal belga proibiu o Google de incluir títulos de jornais belgas no motor de busca, a pedido de uma associação da imprensa local. Existe de facto um problema crescente de direitos de autor em linha e o Google revela-o e agrava-o. Tudo o que está a mudar com a crescente passagem do mundo dos átomos para o dos bits, vai tornar obsoleta toda a armadura jurídica que hoje defende a posse da propriedade intelectual. Só que não me parece que seja esta a melhor maneira de se defrontar estas questões e o efeito é pura e simplesmente excluir os jornais belgas do mundo global da informação.

É mais uma batalha de retaguarda como as que a UE trava contra a Microsoft, os franceses contra o ITunes (e o iPod) e a digitalização de bibliotecas pelo Google. O mais patético exemplo é a legislação francesa que obriga à utilização de termos técnicos universais, usados comummente em inglês, em francês. Já alguma vez procuraram no Google por um “logiciel” ou por um “ordinateur”?

*
Os franceses usam ainda o "octet" (em vez de "byte") e outras curiosidades semelhantes; mas a mais saborosa de todas talvez seja o "couriel" (em vez de "e-mail"), que vem de "courier électronique"...

(C. Medina Ribeiro)

*

Aproveito o seu post para lhe contar que a biblioteca da Universidade Complutense de Madrid (a segunda maior de Espanha depois da Nacional) vai estar disponível online graças ao acordo a que chegou com o Google. A notícia pode ser lida aqui.

Em relaçao ao termos técnicos sou completamente contra que seja o governo a obrigar este ou aquele termo mas além disso nao vejo qual é o problema. Quantas vezes procurei “ordenador”. O famoso Octet também é utilizado em Inglês como sendo 8 bits (octeto em Español). Nao esquecer que às vezes 1 byte nao sao 8 bits.
Já agora, espero que leia este “correo”.

(F. Bret)
 


COISAS DA SÁBADO: VIOLAÇÃO DA VIDA PRIVADA VAI DE VENTO EM POPA


Who cares? Ninguém, a não ser aqueles que ainda prezam a sua privacidade e não sabem como defendê-la. Mais: a quem é negada a possibilidade de a defender, violando assim o direito que deveria ser concedido a cada um de viver como entende desde que tal não afecte os outros. Muito rapidamente a privacidade como direito vai desaparecendo e no caminho vai-se também degradando a intimidade, que tombará a seguir.

Este caminho de deterioração da qualidade de vida, que nenhuma lei hoje protege com eficácia, tem três motores: o voyeurismo crescente das massas que acrescentam aos seus consumos televisivos o da “vida real” dos outros; uma fauna de intermediários, jornalistas, fotógrafos, “cidadãos-jornalistas” que às escondidas ou ás claras, de máquina fotográfica ou telemóvel, tornam o espaço público e mesmo alguns espaços que deveriam ser privados numa selva de olhares indiscretos, e por fim, o exibicionismo de alguns notáveis da pele, da roupa, do “estar”, que vivem desse pavoneio e abrem caminho a um ambiente de promiscuidade que depois, naturalmente, se cansa deles e vai para o fruto proibido dos que não se exibem. Who cares?
 


RETRATOS DO TRABALHO NA RÉGUA, PORTUGAL



Tanoeiros numa adega na Régua, reapertando os aros de um pipo.

(Gil Regueiro)
 


EARLY MORNING BLOGS

873 - bababadalgharaghtakamminarronnkonnbronntonnerronn
tuonnthunntrovarrhounawnskawntoohoohoordenenthurnuk!

riverrun, past Eve and Adam's, from swerve of shore to bend of bay, brings us by a commodius vicus of recirculation back to Howth Castle and Environs. Sir Tristram, violer d'amores, fr'over the short sea, had passen- core rearrived from North Armorica on this side the scraggy isthmus of Europe Minor to wielderfight his penisolate war: nor had topsawyer's rocks by the stream Oconee exaggerated themselse to Laurens County's gorgios while they went doublin their mumper all the time: nor avoice from afire bellowsed mishe mishe to tauftauf thuartpeatrick not yet, though venissoon after, had a kidscad buttended a bland old isaac: not yet, though all's fair in vanessy, were sosie sesthers wroth with twone nathandjoe. Rot a peck of pa's malt had Jhem or Shen brewed by arclight and rory end to the regginbrow was to be seen ringsome on the aquaface. The fall
(bababadalgharaghtakamminarronnkonnbronntonner-

ronntuonnthunntrovarrhounawnskawntoohoohoordenenthurnuk!) of a once wallstrait oldparr is retaled early in bed and later on life down through all christian minstrelsy. The great fall of the offwall entailed at such short notice the pftjschute of Finnegan, erse solid man, that the humptyhillhead of humself prumptly sends an unquiring one well to the west in quest of his tumptytumtoes: and their upturnpikepointandplace is at the knock out in the park where oranges have been laid to rust upon the green since devlinsfirst loved livvy.

(James Joyce, Finnegans Wake)

*

Bom dia!

24.9.06
 


RETRATOS DE TRABALHO EM SINTRA, PORTUGAL



Cesariana a uma vaca em pé onde se vê ainda a mão do vitelo a querer sair pelo sítio normal...

(António Castanheira)

*
Atendendo à normal fisionomia de um(a) vitelo(a) e ao elevado número de nascimentos/cesarianas a que já assisti, permita que lhe diga que não se trata de ” a mão do vitelo a querer sair pelo sítio normal...”. Trata-se de não um mas dois....São, ou eram, gémeos. Um, acaba se ser “rescatado”, encontrando-se o outro ainda no “sítio normal...”

Enfim, talvez mais um “Saber que é preciso para se acreditar em teorias da conspiração.”

(Nelson Muga)
 


EARLY MORNING BLOGS

872 - Lights

When we come home at night and close the door,
Standing together in the shadowy room,
Safe in our own love and the gentle gloom,
Glad of familiar wall and chair and floor,

Glad to leave far below the clanging city;
Looking far downward to the glaring street
Gaudy with light, yet tired with many feet,
In both of us wells up a wordless pity;

Men have tried hard to put away the dark;
A million lighted windows brilliantly
Inlay with squares of gold the winter night,
But to us standing here there comes the stark
Sense of the lives behind each yellow light,
And not one wholly joyous, proud, or free.

(Sara Teasdale)

*

Bom dia!

23.9.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM LISBOA, PORTUGAL



Rodagem de um filme, ou novela, ou série, em Lisboa.

(André Sá)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO

http://www.dhs.alabama.gov/TAP/twin%20towers%20w.%20plane%20aimed.jpgTenho seguido fascinado as diversas teorias (da conspiração e não só) relacionadas com o 11 de Setembro. Fizeram-me pensar nas frases que abrem um livro muito interesante (e difícil de obter): «A budget of paradoxes», de Augustus de Morgan (1806-1871). A tradução é minha.
«Se tivesse diante de mim uma mosca e um elefante, jamais tendo observado outra entidade com qualquer dos dois tamanhos, e se a mosca se dedicasse a convencer-me que era de facto maior do que o elefante, eu talvez me visse numa posição difícil. A criatura aparentemente pequena poderia usar argumentos relativos ao efeito da distância bem como apelar a leis relativas à visão e à audição que eu, caso não fosse conhecedor desses assuntos, poderia ser incapaz de rejeitar. Mas se houvesse mil moscas, todas a zumbir, tanto quanto me podia aperceber, em torno do grande animal, se cada mosca afirmasse por conta própria ser maior que o quadrúpede, se todas avançassem argumentos distintos e frequentemente contraditórios e se cada uma desprezasse e se opusesse às razões das restantes - então poderia ficar descansado. Certamente diria: Minhas amiguinhas, a argumentação de cada uma de vós é destruída pelas das restantes.»

Com efeito, o que é que se pode pensar do entusiasmo que cada nova explicação suscita, quando elas se contradizem entre si? Consideremos, por exemplo, a reacção de George W. Bush no próprio dia dos atentados. As pessoas que viram as imagens do presidente americano filmadas nesse dia numa escola (que se podem ver, por exemplo, no documentário Fahrenheit 9/11, de Michael Moore) manifestam-se geralmente impressionadas com a impressão que ele transmitiu nessa altura de ser uma pessoa totalmente ultrapassada pelos acontecimentos. Mas ao mesmo tempo é bastante popular a teoria de que os atentados foram perpetrados pelo próprio governo americano! Ou seja, o homem é simultaneamente o orquestrador do golpe e fica claramente sem saber o que fazer quando este ocorre! Outra contradição que me impressiona neste assunto consiste em constatar que muitas pessoas defendem que o governo americano negoceie com a Al-Qaeda e defendem ao mesmo tempo que foi esse mesmo governo que levou a cabo os atentados. Mas então, se a Al-Qaeda trabalha para o governo americano, o que é que pretendem? Que aquele governo negocieie consigo próprio?

(José Carlos Santos)

*
Fico sempre espantado quando as pessoas tentam refutar com argumentos “sérios” propostas que são de mera ficção. Esta questão dos atentados de 11/9 faz-me lembrar a seriedade com que se argumentou contra o Código da Vinci. Como concluía o filme Wargames “a melhor maneira de ganhar certos jogos é não jogar” ou ainda parafraseando Marx (Groucho claro) “nunca faria parte de um clube que me aceitasse como sócio”.

(Fernando Frazão)
 


EARLY MORNING BLOGS

871 - .... an Old Man of the West

There was an Old Man of the West,
Who never could get any rest;
So they set him to spin
On his nose and chin,
Which cured that Old Man of the West.

(Edward Lear)

*

Bom dia!

22.9.06
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 22 de Setembro de 2006


Tolerância sem tolerância.

*

Guerra de civilizações: a estranheza do Dubai .
 


COISAS DA SÁBADO: VIDA DE ARISTÓTELES


A biografia de um filósofo muito antigo é difícil de fazer, por célebre que seja como é o caso de Aristóteles. Não há assim tantos testemunhos fidedignos da sua biografia, que ela se possa descrever com correnteza, sem hiatos, sem dúvidas, muitas vezes sem se saber quase nada ou com testemunhos contraditórios. Era alto, ou baixo? Era corpulento ou magro? Gaguejava? Parece que sim. Dedicava-se ou não aos “prazeres lúbricos” com outros homens? Como é que escreveu a sua obra? O que é que efectivamente escreveu? O que é que sobrou do que escreveu? Como é que foi lido na época o que escreveu, etc., etc. A biografia de Aristóteles, de António Pedro Mesquita, recém publicada pelas Edições Sílabo, não é um livro para ser popular, mas é um livro para os homens que desejem ser cultos, comummente cultos. O que nela se aprende não é apenas sobre Aristóteles, mas também sobre a fábrica de uma biografia antiga, as fontes, os textos, os boatos, os fragmentos, as querelas de autoria e de identificação, as versões próximas ou longínquas ao original. Este aspecto, sem desmerecer a qualidade da própria biografia, ensina-nos muito sobre como se investiga a partir de uma realidade que os anos fragmentaram, dispersaram e corromperam, e isso diz-nos muito sobre o que o tempo e a história fazem a uma obra e à memória de um homem.
 


RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL



Trabalho no Porto: terminado o serviço de reanimação de um cidadão, por uma equipa do INEM, na noite passada.

(Gil Coelho)
 


COMPROMISSOS

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Há casos em que a distinção entre “sociedade civil” e mundo político é perversa e enganadora. Um deles, evidente como um enorme reclame de néon, é o do Compromisso Portugal. A iniciativa é política até ao tutano, traduzindo a politização do nosso mundo de gestores (e em menor grau de empresários, menos representados na reunião), mas afirma parar à porta da política, quer-se dizer da política partidária, mecanismo pelo qual nas democracias se conseguem os votos para governar.

O resultado é uma sensação de grande irrealidade. As propostas não são novas, mas isso seria apenas uma questão mediática que em nada invalidava a sua oportunidade. A questão é outra: é que, sabendo-se o que se deseja, nenhuma resposta é dada à questão de como realizá-lo, de como chegar lá. Que forças sociais podem ser mobilizadas, como se traduzem esses movimentos em votos, como se organizam e expressam politicamente para terem eficácia em democracia? Sim, porque em democracia o lobiismo de movimentos proto-políticos que não tem expressão partidária, nem vai às urnas, é apenas e só lobiismo. E o lobiismo, o mexer das influências, quando feito em público, sem sequência, nem consequência, fica mais fraco pela repetição. De cada vez que se repete a mesma coisa, sem acrescentar meios nem apontar instrumentos, a sensação de impotência cresce.

Eu também penso que há excesso de hegemonização da vida política pelos partidos e que é bom que haja outros parceiros activos na vida pública. Mas, a não ser que se queira apenas ser lobiista (e é isso o que muitos destes gestores sabem fazer bem nos meandros do poder, logo convencem-se que isso pode ser transposto para os eleitores) seria melhor usar os recursos disponíveis para intervir na sociedade civil para formar opinião. Formar opinião: invistam em think tanks, em estudos sérios, em jornais e revistas, em conferências, em ensino de excelência não apenas para as empresas mas para a actividade cívica, apoiem iniciativas modelo que mostrem a eficácia das propostas, etc, etc. Apoiem os políticos e os partidos que melhor pensam poder expressar essas propostas. Às claras, para se saber. Sem receios. Ou então façam um partido político e concorram às eleições, uma solução que daria uma grande legitimidade ao movimento e acabaria com algumas ambiguidades sobre as naturais ambições de alguns dos seus proponentes. E acima de tudo dêem o exemplo, a melhor das propagandas.

É um trabalho moroso e que só dá frutos a prazo, mas o único que pode ser eficaz. É que reunirem-se em fileiras cerradas, direitos e compostos, numa imagem sem qualquer modernidade e apelo, como qualquer especialista de marketing vos poderá dizer, com os jornais a divulgarem promessas com a mesma consistência das promessas eleitorais dos políticos, dá a pior das imagens e serve mal muitas das propostas com as quais concordo. Só que o mundo dos portugueses não tem a ordem asséptica das cadeiras do Beato e esse é que é o problema que o Compromisso Portugal não quer pensar, ou não sabe pensar, ou não pode pensar.

*
Escrevo-lhe a propósito da sua posta acerca do Compromisso Portugal. É inegável que a coisa tem defeitos e que as pessoas que o promovem e que nele participam possuem interesses económicos e políticos passíveis de serem afectados pelas propostas que fazem. Ou seja, há conflitos de interesses. Só que, conflitos de interesses temos todos na vida, e não me parece que isso seja motivo para não se opinar sobre determinado assunto. Julgo que as propostas do Compromisso Portugal devem ser discutidas pela proposta em si, e afastando-nos de quem as propõe, como em qualquer discussão de ideias que se quer civilizada.

Em segundo lugar, a exprssão de ideias políticas não deve estar subordinada exclusivamente à lógica partidária, e é muito bom que outras forças se organizem e proponham ideias - novas, velhas, recicladas, isso é com quem as propõe. Depois, que entender, pode criticar, defender ou ignorar. Parece-me até muito saudável que gestores e empresários, sempre conotados com conspirações e jogos de bastidores venham a público dizer o que pensam e que ideias têm para o país - é mais claro e sério.

Se as propostas estão incompletas, se não se explica como se chega lá, se são irrealistas, isso sim já me parece uma discussão válida, desde que baseada nos documentos produzidos e nas declarações feitas pelos promotores e participantes, e não no habitualmente indigente comentário jornalístico. Pessoalmente, do que pude ler e ouvir, pareceu-me que havia umas propostas com mais consistência que outras, pelo que a crítica genérica às propostas me parece simplista.

Depois, na minha opinião, a grande virtude de uma democracia liberal é que cada um possa dar a sua opinião ou contribuir com as suas ideias sem que tenha obrigatoramente que arregimentar tropas e ir a votos. Se assim fosse, toda a opinião publicada ou pública só seria sempre legítima se efectuada pela classe política, a única com a responsabilidade de ir a votos e de implementar as ideias, o que tornaria o debate francamente mais pobre. Nem todas as pessoas com ideias são políticos de profissão ou vocação, e cada ideia deve ser julgada per si, e não por quem a tem. Ou então já estamos noutro campo de discussão, mais próprio da luta política que do debate público de ideias.

Depois, julgo que a crítica de que estes empresários e gestores andam sempre em manobras obscuras a influenciar o poder político é parcialmente injusta. Num país como o nosso, em que o peso do Estado na economia (e na vida dos cidadãos) é asfixiante, é obrigatório que haja tentativas de influência por parte das empresas junto do poder político. Claro que aqueles senhores do Compromisso Portugal não são uns anjinhos bem intencionados, coitadinhos que não querem nada para eles, só para o país. E claro que é errado que haja jogos de bastidores e eles sejam mestres nisso, mas o que me parece é que não são os únicos culpados e que muitas vezes quem mais os critica é quem mantém as coisas como estão (e esta não é uma indirecta para si).

(Nuno Sousa)
 


O QUE É QUE NO DISCURSO DO PAPA INTERPELA O ISLÃO?

Assistimos, hoje, à formação de um mecanismo de censura prévia que se acciona sempre que se falar, seja qual for o modo de se falar, do islão, de Maomé, do Alcorão. Agora foi o Papa, por ser o Papa e por ser o símbolo do mundo "dos cruzados". Nós estamos sempre a minimizar a dimensão religiosa do conflito, mas não somos correspondidos pelos muçulmanos fundamentalistas. Para eles, nós, mesmo que sejamos ateus, agnósticos, indiferentes, não praticantes, ou exactamente por isso, somos "cristãos" em guerra santa. Que melhor imagem para personificar os "cruzados" do que a do Papa, queimado em efígie numa capital árabe como se fosse um cavaleiro templário, com a cruz de Cristo das armaduras sobre as vestes brancas? Muita história, demasiada história.

Na sua conferência académica de Ratisbona, o Papa sabia exactamente o que queria dizer, mas ninguém pode hoje saber como vai ser ouvido. O ruído é, pela sua natureza, impossível de prever, caótico, e nem um Papa tem a omnisciência dos caminhos do acaso. Só se ficar calado. Basta ler e perceber a integralidade do texto para ser claro que nada na sua substância faria prever que suscitaria as reacções que teve. A não ser que se aceite que a mera menção do nome de Maomé por um cristão seja uma blasfémia. Corrijo: Maomé (s.a.w.), ou seja Maomé sallallahu alaihi wa sallam, que "Alá derrame a sua bênção e paz sobre ele" (Maomé), não vá o diabo tecê-las se eu não usar a fórmula canónica.


Quando digo que o Papa sabia exactamente o que queria dizer é porque o texto da conferência de Ratisbona é preciso, analítico e intelectualmente rigoroso. Diz sem ambiguidades o que quer dizer. Oferece poucas dificuldades de interpretação, a não ser pela sua densidade e compreende-se que, por não ser nem uma prelecção com meia dúzia de anedotas e frases assassinas, nem um discurso feito por qualquer especialista de marketing ou de "comunicação política", possa oferecer dificuldades de leitura nas redacções, que, para o entender, salvo as devidas excepções, o reduziram a um soundbite.

Toda a polémica gira à volta da frase de Manuel II Paleólogo, imperador de Bizâncio, que diz a um seu interlocutor muçulmano: "Mostra-me o que Maomé trouxe de novo e encontrarás coisas más e desumanas, como o direito de defender pela espada a fé que pregava." Esta é a frase que ficou como soundbite. Admitindo que tudo ficava por aqui, e poder-se-ia dizer que tal frase era redutora do islão e, acima de tudo, ocultava que também para os cristãos "o direito de defender pela espada a fé" foi durante muito tempo a prática habitual. O Papa estaria a pecar por omissão e duplicidade e por isso mereceria as críticas.

Mesmo que fosse assim, o Papa não deixaria de estar a dizer uma verdade sobre o islão ou sectores muito importantes e populares do islão que o tornaram nos dias de hoje a principal religião da espada. E depois? Não é? Que organizações extremistas praticam hoje o terrorismo global em nome da religião a não ser grupos que se reivindicam do islão? Se quisermos comparar com o que acontece do outro lado do mundo, pouco mais temos que uns grupúsculos americanos que colocam bombas nas clínicas que fazem abortos em nome do "direito à vida". É verdade que muitos muçulmanos nada tem que ver com a Al-Qaeda ou com as proclamações incendiárias dos clérigos xiitas, mas é maior o seu isolamento e, de longe, mais débil a sua voz, quando conseguem com grande coragem efectivamente distanciar-se. Os terroristas da Al-Qaeda estão hoje mais perto da identidade muçulmana do que os grupos violentos antiabortistas estão da identidade cristã. Esta é a verdade que se esperava que os muçulmanos dissessem todos os dias ao mundo, para se poder afirmar que existem "moderados", classificação cheia de ambiguidades e mais condenatória da situação actual do islão do que qualquer outra. O islão deixou-se sitiar pelos seus extremistas, e tal pode não ser definitivo, pode ser uma perversão da religião, mas é bastante grave.

Voltemos ao texto do Papa para além do soundbite. A conferência do Papa é um dos textos mais tolerantes que algum Papa fez até hoje, e talvez tenha sido por isso mesmo que foi atacada. Eu penso que há de facto razões para os fundamentalistas muçulmanos atacarem com violência o documento, exactamente pela sua substância e não pela citação fora do contexto. A frase que devia verdadeiramente irritar os fundamentalistas muçulmanos não é a que citaram, mas outra, do mesmo imperador: "Não agir segundo a razão, não agir segundo o logos, é contrário à vontade de Deus". Esta sim, pode ser entendida como um ataque ao islão de hoje, porque resulta expressamente do desenvolvimento do pensamento do Papa que com ela se identifica.

O que é que o texto papal diz? Que a razão humana, o logos dos gregos, é um elemento indissociável da voz de Deus, e que todas as tentativas de separarem razão e fé, colocando uma contra a outra, são um erro. O Papa identifica essencialmente duas correntes que cometeram esse erro: uma a que afirma a transcendentalização absoluta de Deus; a outra a que resulta da separação iluminista entre fé e razão, que foi transportada para o cientismo contemporâneo.

Muito do que diz o Papa tem que ver com a percepção que tem Manuel II Paleológo de que a violência ao serviço da fé é "desrazoável" e "contrária à natureza de Deus". O próprio Papa diz que esta constatação é a "frase decisiva em toda a argumentação", e que o imperador, um erudito de cultura grega clássica, estava a enunciar um dado fundamental da tradição clássica grega, absolutamente idêntico ao que é a "fé em Deus fundada na Bíblia".

Ora, aqui o Papa critica o islão, não por causa da violência da espada de Maomé, mas sim porque "na doutrina muçulmana Deus é absolutamente transcendente", ou seja, dito em breve e em grosso, não há verdadeira interacção entre Deus e os homens, não há necessidade da razão, a fé é essencialmente aceitação e obediência. O Papa refere, "para ser honesto", que na tradição teológica cristã surgiram tendências do mesmo tipo, mas condena-as na mesma crítica que faz ao islão.

Porque é que o Papa diz isto tudo? Está lá no texto em todas as entrelinhas e nalgumas linhas: ao valorizar a fusão plena da tradição grega do logos com o cristianismo, o Papa está a enunciar a tradição cultural da Europa, da história tumultuosa do seu pensamento e dos fundamentos da sua identidade. Está a falar de religião e de política, de cultura e de pensamento, da União Europeia e da Turquia, do cristianismo e do islão. Isto sim é que devia ser discutido, isto é o que o Papa esperava que fosse discutido. E isto é que interpela o islão, se ele se deixar interpelar.

(No Público de 21 de Setembro)
 


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870 - Ce qui est ferme, est par le temps détruit

http://www.wfu.edu/~drp/17prop.gif
Nouveau venu, qui cherches Rome en Rome
Et rien de Rome en Rome n'aperçois,
Ces vieux palais, ces vieux arcs que tu vois,
Et ces vieux murs, c'est ce que Rome on nomme.

Vois quel orgueil, quelle ruine : et comme
Celle qui mit le monde sous ses lois,
Pour dompter tout, se dompta quelquefois,
Et devint proie au temps, qui tout consomme.

Rome de Rome est le seul monument,
Et Rome Rome a vaincu seulement.
Le Tibre seul, qui vers la mer s'enfuit,

Reste de Rome. Ô mondaine inconstance !
Ce qui est ferme, est par le temps détruit,
Et ce qui fuit, au temps fait résistance.

(Joachim Du Bellay, Les Antiquités de Rome )

*

Bom dia!

21.9.06
 


BIBLIOFILIA: LIVROS SOBRE LIVROS SOBRE LIVROS

http://medias.lefigaro.fr/photos/20060316.LIT000000226_1.jpg http://www.decitre.fr/pi/57/9782868534057TN.gif
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 21 de Setembro de 2006


A caveira e tíbias é o símbolo dos produtos tóxicos.
É tudo tão evidente - a maioria, a maioria esmagadora das pessoas que na imprensa comenta o discurso do Papa, nunca o leu. Conhecem quando muito a meia dúzia de transcrições a pender para o sensacional que a imprensa divulgou. Para quem leu o texto é tão evidente, tão evidente... Pura negligência, é como servir comida estragada. Nós estamos muito preocupados com a "segurança alimentar" e bem pouco com a "comida para o cérebro".

A diferença num comentário de quem leu: "Il faut une bonne dose de sottise, de perversité – ou des deux –, pour trouver dans cette leçon magistrale une offense quelconque à l'égard de quiconque." Assim mesmo: sottise e perversité. E mais uma coisa que os europeus estão rapidamente a esquecer - o que é uma universidade, mesmo com o Papa lá dentro.

*

Aqui está uma boa ideia que fazia melhor pelo Parlamento que todas as reformas apressadas do estatuto dos deputados e do regime de faltas:
"O procurador-geral da República é a pessoa que tem procuração, incumbência e mandato para representar perante a justiça os interesses da comunidade dos cidadãos e do Estado. É um dos pilares da justiça e o seu desempenho pode influenciar fortemente a saúde do Estado de direito. Daí não ser obviamente indiferente o conhecimento ou desconhecimento geral do perfil e das ideias do procurador-geral da República. Não é uma questão de confiança ou desconfiança na dupla escolha da responsabilidade do Governo e do Presidente da República. É uma questão de clareza e respeito pelos cidadãos-eleitores.

O processo de nomeação obedeceu aos preceitos constitucionais. Nada a dizer da óbvia legitimidade do novo procurador. O que falta, como notou esta semana o constitucionalista Gomes Canotilho, é uma audição parlamentar pública que permita perceber melhor o seu pensamento e os seus critérios de actuação. É uma tradição anglo-saxónica, uma boa tradição que importa considerar e que tem precedentes em Portugal. O presidente da Entidade Reguladora da Comunicação Social é ouvido pelos deputados antes da nomeação. O mesmo acontece ao director do Serviço de Informações de Segurança, neste caso ouvido à porta fechada. Não está em causa qualquer escrutínio político, tão-só um conhecimento pormenorizado de um homem a quem são atribuídos amplos poderes."
Insisto: "um conhecimento pormenorizado de um homem a quem são atribuídos amplos poderes."
 


EARLY MORNING BLOGS

869 - Je suis l'Empire à la fin de la décadence...

Je suis l'Empire à la fin de la décadence,
Qui regarde passer les grands Barbares blancs
En composant des acrostiches indolents
D'un style d'or où la langueur du soleil danse.

L'ame seulette a mal au coeur d'un ennui dense,
Là-bas on dit qu'il est de longs combats sanglants.
O n'y pouvoir, étant si faible aux voeux si lents,
O n'y vouloir fleurir un peu cette existence!

O n'y vouloir, ô n'y pouvoir mourir un peu!
Ah! tout est bu! Bathylle, as-tu fini de rire?
Ah! tout est bu, tout est mangé! Plus rien à dire!

Seul un poème un peu niais qu'on jette au feu,
Seul un esclave un peu coureur qui vous néglige,
Seul un ennui d'on ne sait quoi qui vous afflige!

(Paul Verlaine)

*

Bom dia!

20.9.06
 


RETRATOS DO TRABALHO NO FUNCHAL, PORTUGAL



Eis um sítio original para trabalhar com o portátil: A cobertura de uma casa antiga, defrutando de uma soberba vista sobre a baía do Funchal. As novas tecnologias permitem este pequeno luxo, incluindo o acesso à rede "wi-fi" (gratuita) que a Governo da RAM disponibiliza em alguns "spots" da Região, como é o caso. Foto capatada há 10 minutos.

(Tiago Botelho, Economista)
 


COISAS DA SÁBADO: O QUE SE PASSA EM TIMOR?
[East Timor Flag]

Continuamos sem saber, até um dia em que qualquer coisa grave aconteça. Não se percebe o nexo, a sequência, os protagonistas, os eventos, os interesses. Que fazem os nossos “bons”, Xanana e Ramos Horta? Que fazem os nossos “maus”, Aikatiri e Lobato? Que fazem os invasores australianos? Que fazem os nossos GNR? Ainda há “democracia”? Que fazem os portugueses que ficaram? Planeiam vir embora, porque não vale a pena? Planeiam ficar, porque não tem emprego cá? Querem ficar porque gostam da “causa” de Timor? Por onde anda o major Reinado e os seus militares e políticas revoltosos? O que é que fazemos em Timor, se é que fazemos alguma coisa? Já há alguma obra pública feita em Timor com os rios de dinheiro que os “doadores” deram, ou vai tudo para alimentar o aparelho das organizações internacionais e as ONG? Que é feito do dinheiro do petróleo?

A rádio e a televisão públicas tem correspondentes em Timor pagos pelo dinheiro dos contribuintes, nós. Onde estão? Não há notícias sobre Timor que se percebam? Que se percebam, insisto.

*
Informe-se aqui. Desde dia 16 de Maio que relatamos diariamente o que se passa em Timor-Leste, com opiniões e notícias que traduzimos para português, visto que na nossa língua são cada vez menos.

E poderá perceber melhor porque a imprensa fez de Mari Alkatiri um dos "maus"...

Infelizmente, espantamo-nos e envergonhamo-nos todos os dias pelos que pintaram como "bons", a quem durante anos admirámos na luta pela independência. Essa independência, e os valores democráticos que entretanto se estabeleceram em Timor-Leste nos últimos quatro anos, são todos os dias ameaçados por incidentes patrocinados ao mais alto nível. Assistimos a um golpe de Estado palaciano, próprio de um monarca louco, decrépito que não aparece em público, não faz declarações, que continua a apoiar criminosos impunemente, com a ajuda do governo australiano e indonésio.

Timor-Leste já perdeu o seu mito. Vai a caminho de perder a sua soberania.

Sem a coragem do Parlamento Nacional e dos Tribunais (que a tal frente dos partidos da oposição, membros da Igreja e os criminosos exigem dissolver), já seríamos governados por loiros de olhos azuis.

O manifesto deste bando inclui agora a exigência da expulsão de todos os assessores e empresas que pertençam a um país da CPLP...

Líderes da Igreja católica fazem missas para que o Reinado, que se evadiu da prisão com mais 55 reclusos, com a cumplicidade dos australianos, não seja capturado.

A GNR é a única força que consegue manter alguma ordem e esperança em Díli. No resto do país, não há praticamente problemas.

O fundo do petróleo, movimentado apenas com autorização do Parlamento, foi este ano utilizado para alimentar o Orçamento de Estado, ronda os 500 milhões de dólares, e o modelo que o gere foi elogiado por muitos, como o Banco Mundial ou as Nações Unidas,como exemplo de transparência.

O tal do desertor Reinado, provavelmente, anda de helicóptero australiano para visitar o PR em casa, perante o fechar de olhos da missão das Nações Unidas.

Uma maioria silenciosa vive sob a ameaça diária de um bando de terroristas, que pretende evitar a todo o custo as eleições de 2007.

Não cedemos ao terrorismo. Não desistimos.

Não temos "dificuldade em acreditar na superioridade moral da democracia e na superioridade moral da liberdade"....

(Malai Azul)
 


COISAS DA SÁBADO: PACTOS E PODER POLÍTICO (DO PRESIDENTE)



Independentemente da questão sobre o papel dos “consensos” na política democrática, suas vantagens e ambiguidades, o chamado pacto sobre a justiça parece ser o único possível e provável nos tempos mais próximos. O pacto fez-se na justiça porque nessa área o PR tem aquilo que os anglo-saxónicos chamam leverage ou seja vantagem posicional, com o Primeiro-Ministro enquanto não for escolhido o Procurador-Geral da República. O Primeiro-Ministro sabe que sem o acordo do Presidente nenhum nome passa e este usou bem esta circunstância para obrigar o Governo a entender-se com o PSD e a engolir os “nãos” que foi dizendo pelo caminho. Os benefícios são mútuos, embora só a prazo se perceba quem vai beneficiar mais, não tanto do que foi acordado mas do facto de haver um acordo político público.

Apenas convém registar que o Presidente mostrou que sempre que tem um poder o usa de forma extensiva. Mostrou que pode executar o seu programa mesmo naquilo que advém da “persuasão” musculada. Obviamente, qualquer referência ao nome do próximo Procurador não foi nunca referida a pretexto do “pacto”.

(a 14 de Setembro...)
 


EARLY MORNING BLOGS

868 - Old Man of the Hague

There was an Old Man of the Hague,
Whose ideas were excessively vague;
He built a balloon
To examine the moon,
That deluded Old Man of the Hague.

(Edward Lear)

*

Bom dia!

19.9.06
 


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: AS CINCO NAÇÕES CIVILIZADAS

Mark Lardas / Jonathan Smith, Native American Mounted Rifleman 1861–65, Osprey, 2006

Eu não sei se acontece assim com toda a gente, mas uma das minhas alegrias, sim alegrias, (pensando bem: que estranha palavra...) é, de repente, sem ser resultado de uma procura deliberada, conhecer, ficar a conhecer pela primeira vez, conhecimento novo, absoluto, total, alguma coisa de que não sabia nada, nada de nada. Quando muito, uma difusa e vaguíssima ideia, mais errada do que certa nos seus muito vagos contornos. Alegria, pois, quando menos se espera.

Comprei este livro de uma popular colecção de Militaria, mais por curiosidade do que por dedicação. Mas, lá no meio, estava uma pequena história de que não sabia nada, a das Cinco Nações Civilizadas, independentes dos EUA e, numa grande medida, independentes mesmo de facto: as cinco "nações" Cherokee, Chickasaw, Choctaw, Creek e Seminole, reconhecidas por tratados internacionais. Nelas viviam índios que se organizavam como os seus vizinhos brancos, na maior parte convertidos ao cristianismo e com instituições que incluíam o primeiro sistema de educação público na América. Tinham jornais e edição de livros, a Bíblia em particular, nas línguas nativas em transcrição fonética. O seu destino foi quebrado com o facto de, na sua maioria, terem aderido aos Confederados, tendo inclusive declarado guerra formalmente aos estados da União, numa altura em que estas coisas como as declarações de guerra ainda existiam e tinham um papel. Daqui resultaram consequências, como o facto de o estatuto dos prisioneiros de guerra das Nações Civilizadas ser distinto do dos sulistas, que eram entendidos como "rebeldes" enquanto que aqueles eram soldados regulares de uma potência estrangeira. A outra consequência foi o fim das Nações Civilizadas.

http://cherokeehistory.com/standw~1.jpgComo militares, eram considerados bons guerreiros e maus soldados. Bons atiradores, bons para patrulhas de reconhecimento, maus para sentinelas ou manobras defensivas. Nas primeiras batalhas muitos usaram pinturas de guerra, mas depois consideravam-nas antiquadas e caíram em desuso. Ocasionalmente cortavam o seu escalpe. Estavam a meio de tudo, ficaram a meio de nada.

(Na foto o índio Cherokee General Stand Watie, que escrevia no Cherokee Phoenix, tinha escravos, foi o americano nativo com mais graduação no exército confederado e o último a render-se.)
 


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: NOMES PORTUGUESES EM MARTE



A caminho da cratera Victoria, a cratera Beagle.

*

Como o sei, tal como eu, um seguidor atento e apaixonado destes Novos Descobrimentos, destes Novos Mundos que ao Mundo se revelam, gostaria de o informar de que, após sugestão deste seu compatriota que lhe escreve, a equipa que dirige a missão dos rovers Spirit e Opportunity decidiu baptizar os locais a visitar na cratera Victoria, o único navio que concluiu a 1ª viagem de circumnavegação, com nomes de lugares onde este tenha feito escala. É assim, com inevitável orgulho que lhe adianto que, além de um Cabo Frio, já podemos vislumbrar Cabo Verde em Meridiani e, adiante, se tudo correr como o desejado, lá teremos Timor na paisagem marciana.

Deixo-lhe a última actualização da parte do director de missão. E uma passagem do e-mail por mim recebido:

"Also, when you read the update, you'll see that we have adopted your suggestion of naming prominent features along the rim after places visited by the Victoria during the first circumnavigation of the Earth. That was a very nice idea, and it suited the situation perfectly. I really appreciate the suggestion.

Cheers, SS"

484 anos depois Magalhães regressa ao mar.

(Rui Borges)
 


EARLY MORNING BLOGS

867 -An Old Person of Cromer

There was an Old Person of Cromer,
Who stood on one leg to read Homer;
When he found he grew stiff,
He jumped over the cliff,
Which concluded that Person of Cromer.

(Edward Lear)

*

Bom dia!

18.9.06
 


BIBLIOFILIA: UMA MONTRA DE ALFARRABISTA COM A MENINA DOS CINCO OLHOS



Na abertura do novo ano escolar, uma viagem a capas de que muitos ainda se lembram, e às famosas palmatórias. Mais uma grande montra do Chaminé da Mota (No Porto, rua das Flores).

(Gil Coelho)
 


BIBLIOFILIA: MUITOS E BONS LIVROS COMPRADOS

How To Read A Novelmas de todos, o que mais curiosidade para já me suscitou, foi o de John Sutherland, How To Read A Novel, acabado de sair. As críticas que tinha lido não lhe eram muito favoráveis, mas os ingleses são muito duros com o que se escreve, e podem ter razão. Veja-se o que escrevia D. J. Taylor no Independent, verdade seja sobre um mundo tão distante de nós como Marte:

"One reviewer observed of Sutherland's last book, an authorised life of Stephen Spender, that the proceedings were dominated by a soft yet insistent noise: the sound of Lady Spender breathing down the author's neck. If How to Read a Novel has a spiritual soundtrack, it is the sound of popping Chardonnay corks as, all over the country, the gangs of reading group members for whom this will make such an excellent Christmas present get down to business."

Seja como for, começo. O livro arranca com um capítulo sobre o modo como se lê ficção, antes e agora, com tempo ou sem ele, com barulho ou sem ele e, em bom rigor, com criados ou sem eles. Abre com a descrição de Anna Karenina a ler de noite, no comboio, com a neve a bater na janela. Depois há um diálogo do Pulp Fiction. Bom, já me apanhou, o maldito livro. Agora, é continuar a ler.
 


INTENDÊNCIA

Em actualização os ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.
 


PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA

http://web.grinnell.edu/resnet/images/biohazard.gif

"Ponham lá aí um cartaz a dizer que eu sou muito estúpido", é o que os que levam a sério o Loose Change, a começar pelos programadores da RTP que entraram agora num nível provocatório, estão a dizer. Quem acredita que um filme que afirma que nas Torres Gémeas houve uma explosão controlada e não se dá ao trabalho de explicar como é que foram colocados os milhares de cargas explosivas necessárias para o fazer sem ninguém dar por isso (dezenas de homens invisíveis, milhares de locais armadilhados, pelos vistos também invisíveis, centenas de horas de trabalho necessárias), e que nega que dois aviões foram “caídos” sem se dar ao trabalho de explicar onde estão os passageiros que desapareceram sem deixar rastro (estão presos em Guantanamo? Foram levados para uma base secreta e fuzilados? Estão na estação espacial?) e outras mil e uma falsificações rudimentares, devia usar um badge a dizer que é estúpido. Podia até fazer-se uma versão politicamente correcta: “eu ainda sou mais estúpido do que o Presidente Bush”. Ah! Claro que é também possível que os nefandos americanos tenham descoberto o segredo da invisibilidade, uns ecrãs de hipnose colectiva e máquinas para "beam me up" e então está tudo explicado. E depois deram tudo isto ao Bin Laden.

O que se passa com o Loose Change mostra como o fanatismo político anti-americano leva à deterioração do pensamento. E é contagioso, tanto para as mentes simples como para as sofisticadas.

 


A ULTRA-EUROPA: ELEIÇÕES (2)



 


A ULTRA-EUROPA: ELEIÇÕES



 


A ULTRA-EUROPA

Bruxelas - dia sem carros. A festa do políticamente correcto. Pancada no Papa em tudo quanto é media. O filme do Al Gore como Verdade Revelada. Na Waterstones uma nova secção: "bushisms", no humor. Está sol. Na cidade, milhares de pessoas na rua, o que não é mau.

Mas não estão todas na rua nos mesmos sítios. Bruxelas é hoje uma grande metrópole étnica. Zairenses nas sombras do Congo belga, por detrás da Porte Namur. Gregos, espanhóis e portugueses nas ruas de Saint-Gilles. Árabes do Magrebe por todo o lado, menos um.

Menos um. O único sítio em Bruxelas em que não se via um árabe, um véu, uma djellaba, era na feira ecologista perto do metro de Louise. Aí, entre os pavilhões da "economia positiva", a apologia dos alimentos biológicos, a palha e os cavalos a cheirar às remotas quintas do passado que já ninguém conhece, só se viam mães e pais de crianças louras, milhares de filhos e filhas da burocracia europeia, entre mochilas e carrinhos de bebé de luxo e vestuário correcto na sua nonchalance, capacetes de bicicleta de ligas de carbono, bicicletas armadilhadas de gadgets.

Boa consciência correcta, culpa face ao resto do mundo. Culpa até às entranhas. Mas ali não estão os Outros. Será que ninguém se pergunta porquê, tão grande era o contraste da humana geografia?
 


EARLY MORNING BLOGS

866 - An Old Man of Vesuvius

There was an Old Man of Vesuvius,
Who studied the works of Vitruvius;
When the flames burnt his book,
To drinking he took,
That morbid Old Man of Vesuvius.

(Edward Lear)

*

Bom dia!
 


RETRATOS DO TRABALHO NO GERÊS, PORTUGAL



Trabalho de equipas de reportagem de duas estações de televisão, no Parque Nacional da Peneda-Gerês. no dia 13 de Agosto.

(Carla Carvalho)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM XANGAI, CHINA



Na semana passada, em Shanghai (ultrapassou em 2005 os 20 milhões de habitantes), cenas de trabalho na Nanjing Lu (Rua de Nanjing), talvez o maior centro comercial do mundo, com mais de 600 estabelecimentos de luxo (quase todos estrangeiros) espalhados por 6 quilómetros, grande parte deles reservada a peões. Pode ter, num só dia, a visita de um milhão de consumidores. Num dos grandes armazéns da zona, a dar a provar e a vender chá a estrangeiros.

(Fernando Correia de Oliveira)
 


CICLOS E MITOS (2)

"O Independente" chega ao fim

O mini-debate sobre a "refundação da direita", que se esboçou há cerca de um mês, parece ter-se esvanecido como as rosas de Malherbe. É natural que assim seja, porque era já uma réplica de uma réplica de um pequeno tremor cujo epicentro data da fundação do PP. O tema carece de novidade, não no sentido jornalístico, o que seria menos importante, mas sim pela impossibilidade de algo de novo caber no invólucro da palavra, fora de alguns rearranjos, confinados à área política do CDS/PP, entre o bloqueamento desse partido até ao destino do infatigável PND, envolvendo personagens que ficaram desirmanadas com a queda do governo Santana Lopes, e alguns projectos mediáticos político-culturais nessa "movida".

Para além do Manifesto do dr. Monteiro e a sua interessante mistura de personagens à procura de um autor, sobra a coincidência com o fim do Independente, que revelou a construção mitológica de uma estória destinada a legitimar uma história ideológica bem diferente da que efectivamente aconteceu. O fim do Independente foi "lido" a partir das imagens e projectos dos dias de hoje e não do papel que realmente teve, construindo-se assim uma nostalgia não do objecto perdido no passado, mas do objecto desejado para o presente. Até por isto, por este papel mítico e onírico, a experiência do Independente foi importante na nossa história social, cultural e política.

Em que é que O Independente foi diferente? Que frutos deu o jornal? O que é que mudou? A voz do desejo diz, olhando para o presente, que "fundou a direita moderna", livre nos costumes e sem preconceitos ideológicos. A frase tem todas as ambiguidades, mas pode-se aceitar em parte, numa pequena parte. Não vale a pena concentrar o debate de forma estéril negando a pequena parte em que O Independente também deu esse fruto, mesmo aceitando com largueza de espírito que essa "direita" é aquilo que acha que é.

Vamos ao outro lado, ao fruto bem mais pesado e importante que nasceu do ventre do Independente, o reforço, a "modernização" se se quiser, do populismo usando novas formas mediáticas e instrumentos mais poderosos no plano social e cultural. Esse populismo realizou todas as amálgamas de todos os populismos, quer à "direita", quer à "esquerda", exprimindo um sentimento contra os "políticos", antiparlamentar e anti-sistémico, explorando a desconfiança face aos poderosos, descrevendo-os como corruptos, arranjistas, motivados apenas pelo interesse próprio, despejando sobre eles editoriais inflamados de agressividade moral e denunciando os "escândalos" uns atrás dos outros. Muita coisa que hoje faz o 24 Horas, com mais fundamento jornalístico mas menos legitimação "cultural", poderia ser colocada no Independente com os mesmos títulos e destaques, com o mesmo efeito político e a vantagem da novidade.

Este populismo anti-sistémico agradava a uma faixa muito vasta, que ia desde os saudosistas do salazarismo, para quem a política era a "porca da política", até aos reformados que jogavam dominó numa sede qualquer do PCP na Margem Sul e passavam o tempo a barafustar contra os poderosos e a escrever cartas para o Correio da Manhã. Agradava também, e muito, a uma pequena burguesia urbana que começava a fazer com o "cavaquismo" um upgrade das suas expectativas para padrões europeus e que nas repartições e escritórios se sentia mais solta e lúdica para achar graça a gozar com quem lhes dava o pão. Era uma forma pouco subtil de irem à mão dos chefes e de encontrar no jornal o espelho da inveja socializada que era, e é, o cerne da sua relação com a sociedade.

Por último, O Independente era também atractivo para os pequenos e médio intelectuais cínicos, então quase todos à esquerda, que estavam desiludidos da eficácia dos pilares jornalísticos do velho regime, O Jornal e o Expresso, que não tinham sido capazes de travar a maioria absoluta de Cavaco e queriam vingar-se da humilhação que era serem governados pelos "pessedês", essa gente provinciana e inculta que não lia jornais e parecia não precisar deles. Entre estes intelectuais, estavam muitos jornalistas, um grupo crucial na vida política dos dias de hoje, que passaram a admirar O Independente, em particular se nele não trabalhavam. Diante dos seus olhos cínicos passou invisível o projecto político de Paulo Portas, sem nunca o terem visto, o que mostra como o cinismo dos intelectuais é bem fácil de enganar.

Como é que O Independente conseguiu ser a expressão de todos estes sentimentos? Combinando dois factores, um, em grande parte de responsabilidade de Miguel Esteves Cardoso, que é do domínio do literário e do lúdico; outro, de Paulo Portas e tem a ver com o "programa social" inscrito no Independente. Quanto ao primeiro, ele é reconhecido e incontestado, quanto ao segundo, nele está a chave da eficácia política do Independente e da natureza do populismo que ele gerou. Em tudo isto é bem menos importante a distinção esquerda/direita do que se pensa e esta estava pouco presente nos tempos genéticos do jornal. Politicamente, à data da génese do jornal, se se quiserem usar as designações clássicas, Miguel Esteves Cardoso tinha apoiado o PPM de Ribeiro Telles, um grupo que rompera pela esquerda com os monárquicos tradicionalistas, e Portas, após passar pela JSD, a ala esquerda do PSD cujo jornal se chamava Pelo Socialismo, era um jovem lobo cínico e mordaz, com tiradas inflamadas ridicularizando o poder e os políticos, Portugal e os portugueses, cujas intervenções em vários debates televisivos circulam hoje pela Internet, com afirmações taxativas e irrefutáveis sobre como nunca seria político, nunca estaria no poder e muito menos se imaginaria... ministro do Mar. Hoje, vendo esses vídeos, Portas pareceria um típico intelectual do Bloco de Esquerda, bem longe do "Paulinho das feiras" em que se veio a tornar. Junto com eles, muitos que deram ao Independente o seu prestígio cultural, como é o caso de Vasco Pulido Valente, tinham escrito preto no branco que se havia lados, o deles era a esquerda, o lado dos meninos dos Esteiros de Soeiro Pereira Gomes.

O programa não-escrito do Independente era social, antes de ser político, agia na política pela crítica social e podia definir-se assim (repetindo o que há muitos anos já escrevi): O Independente atacava os "novos ricos", os políticos que vinham de baixo, os parvenus da democracia e poupava sempre os políticos poderosos que entendia caberem na categoria de serem do "velho dinheiro", das "velhas famílias", das "dinastias", como agora se diz dos toureiros. Atacava os deputados da província do PSD, os que não eram advogados lisboetas importantes, nem homens de negócios ilustres, nem socialites reconhecidos, usando todas as suas armas, a começar pela ridicularização social. O objectivo era torná-los o retrato da política portuguesa com os seus vícios, as suas pequenas corrupções reais ou imaginadas com a casinha, com a terrinha, com o carrinho, com as suas famílias rurais desajeitadas, mas acima de tudo com o "mau gosto" do seu trem provinciano de vida, os deputados da "meia branca" deslumbrados pelo Rosa e Teixeira.

Vivendo obcecado pela admiração pelo upstairs, O Independente varria os downstairs, numa atitude que um marxista ou Balzac, para o caso tanto faz, reconheceriam como típica da pequena burguesia urbana, a meio caminho das escadas e que pretende exorcizar a sua origem social renegando-a e fazendo-se passar por aquilo que não é. Por várias razões, que para a semana analisaremos, esta forma de irrequietude social é poderosa para olear o populismo em política... do downstairs.

(No Público de 14 de Setembro de 2006)

17.9.06
 


MAIS UMA CORRIDA. MAIS UMA VIAGEM


a terminar.

(escrito numa "boulangerie islamique", com Internet, com cabinas telefonicas - sem acentos - um cartaz que diz: "Ces numeros sont chers. 078/xxxxxx ..." e onde se ampliam e encaixilham fotografias de casamento, tudo em meia duzia de metros quadrados.)

14.9.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM MURANO - VENEZA, ITÁLIA



Trabalho numa oficina de vidro na ilha de Murano em Maio último.

(José Farinha)
 


EARLY MORNING BLOGS

865 - Ignorance

Strange to know nothing, never to be sure
Of what is true or right or real,
But forced to qualify or so I feel,
Or Well, it does seem so:
Someone must know.

Strange to be ignorant of the way things work:
Their skill at finding what they need,
Their sense of shape, and punctual spread of seed,
And willingness to change;
Yes, it is strange,

Even to wear such knowledge - for our flesh
Surrounds us with its own decisions -
And yet spend all our life on imprecisions,
That when we start to die
Have no idea why.

(Philip Larkin)

*

Bom dia!

13.9.06
 


CORREIO
The image “http://www.caleida.pt/filatelia/imagens/gloss/gloss01h.jpg” cannot be displayed, because it contains errors.
O correio depois do Prós e Contras subiu exponencialmente e tenho cerca de 300 mensagens por responder, a que se somam a muitas outras atrasadas. Vou tentar, mas não sei se consigo. De qualquer modo, desde já, obrigado. E escrevam sempre, todas as mensagens fazem falta.
 


COISAS DA SÁBADO: COM QUE ENTÃO O BE NÃO É A EXTREMA-ESQUERDA?

Uma das gentilezas com que a comunicação social mostra as suas simpatias bloquistas é nunca tratar o BE como uma organização de extrema-esquerda. A UDP, o PSR, e os outros pequenos grupos eram assim tratados no passado, mas depois da fusão-milagre aparecem sempre com uma face mais amável de inovadores do discurso político e “fracturantes” imaginativos. Aquilo é velho como Trotsky e Chomsky, mas resulta sempre.

Louçã desde a sua aventura presidencial, percebeu que o espaço do BE encolheu, e, sempre que se sente apertado, deixa o radical chic (bom, nunca deixa inteiramente como se viu na “cow parade” para os desempregados…) e fala a linguagem pura e dura do anticapitalismo marxista da extrema-esquerda. Foi o que fez na volta do desemprego quando comparou a classe empresarial portuguesa à máfia, e, no seu verbo fácil, se lembrou do Padrinho (ele deve achar os Sopranos muito bushistas e suburbanos):
"Temos o Carrapatoso/Corleone, o Belmiro/Corleone e o Paulo Teixeira/Corleone", que "tal como Corleone fazia aos seus colaboradores, apresentando-lhes propostas que não podiam ser recusadas, sob pena de morte, também os empresários fazem propostas irrecusáveis de rescisões voluntárias aos trabalhadores".
Ora para quem é Corleone, para quem é da máfia, só há uma resposta - se nós levássemos a sério Louçã e o seu BE, o que num acto de bom senso não levamos, titularíamos o seu discurso inflamado, com caixa alta: “Louçã quer prender os empresários portugueses “. Ninguém fará isso, mas que é fiel á letra e ao conteúdo do comício do BE, lá isso é.
 


COISAS DA SÁBADO:
DUAS DITADURAS LATINO-AMERICANAS, FILHAS DO ALTERMUNDIALISMO


http://www.martinoticias.com/media/graphics/morales-chavez.jpgDuas ditaduras estão rapidamente em construção na América Latina. Como não são militares de óculos escuros, ao serviço da CIA, ninguém diz nada. Na Bolívia, o Movimento para o Socialismo do Presidente Evo Morales, fez aprovar de forma anticonstitucional legislação que possibilita ao regime impor tudo o que quiser a pretexto do carácter "originário" da Assembleia Constituinte; na Venezuela, Chávez prepara-se para se declarar Presidente Vitalício. O apoio político a Morales e Chávez tem vindo em Portugal dos que se reclamam do altermundialismo de Porto Alegre, verdadeiro cadinho político desses dois candidatos a ditadores, ou seja, o BE, Boaventura de Sousa Santos, Mário Soares, entre outros. Seria interessante saber o que pensam sobre os seus amigos latino-americanos.

12.9.06
 


RETRATOS DO TRABALHO NA PATAGÓNIA, ARGENTINA



Trabalho de paleontólogo português de dinossáurios na Patagónia argentina (próximo de Plaza Huincul, trabalho de campo).

(Luis Azevedo Rodrigues)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM MURANO - VENEZA, ITÁLIA



Trabalho numa oficina de vidro na ilha de Murano em Maio último.

(José Farinha)
 


RETRATOS DO TRABALHO NO CAMBODJA



Transporte de gado no Cambodja. Consoante o tamanho as motorizadas transportam 1 porco, 2 porcos ou mesmo 3 porcos. Vivos e de patas em riste eles vão a caminho de algures! As motorizadas são autênticas bestas de carga: galinhas, bicicletas, porcos, atrelados com bidons de água, leitões, estátuas de Budas ou 5 pessoas numa mota.

(Antonio Rebordao)
 


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864 - Insoumission

Vivre tranquille en sa maison,
Vertueux ayant bien raison,
Vaut autant boire du poison.

Je ne veux pas de maladie,
Ma fierté n'est pas refroidie,
J'entends la jeune mélodie.

J'entends le bruit de l'eau qui court,
J'entends gronder l'orage lourd,
L'art est long et le temps est court.

Tant mieux, puisqu'il y a des pêches,
Du vin frais et des filles fraîches,
Et l'incendie et ses flammèches.

On naît filles, on naît garçons.
On vit en chantant des chansons,
On meurt en buvant des boissons.

(Charles Cros)

*

Bom dia, já um pouco para o tarde!

11.9.06
 


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863 - The Sound of the Trees


I wonder about the trees.
Why do we wish to bear
Forever the noise of these
More than another noise
So close to our dwelling place?
We suffer them by the day
Till we lose all measure of pace,
And fixity in our joys,
And acquire a listening air.
They are that that talks of going
But never gets away;
And that talks no less for knowing,
As it grows wiser and older,
That now it means to stay.
My feet tug at the floor
And my head sways to my shoulder
Sometimes when I watch trees sway,
From the window or the door.
I shall set forth for somewhere,
I shall make the reckless choice
Some day when they are in voice
And tossing so as to scare
The white clouds over them on.
I shall have less to say,
But I shall be gone.

(Robert Frost)

*

Bom dia!

10.9.06
 


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: AS ARMADILHAS DA HISTÓRIA


Há cinco anos, um grupo que variava entre duzentos e quinhentos homens fugia pelas terras do Leste de Angola, entre as nascentes dos grandes rios, mudando quase todos os dias de local de dormida, caminhando a pé e à noite. O seu principal problema era a fome. Comiam mel silvestre, restos de mandioca, larvas, plantas e frutos com muito baixo poder nutritivo. Como não podiam disparar para não serem localizados pelo barulho dos tiros, só muito raramente tinham carne, e só em dois ou três momentos levavam consigo meia dúzia de vacas. Equipas destinadas a recolher comida andavam dez dias a apanhar o pouco que havia, para voltar quase sempre só com mel, para três dias. O roubo ou o açambarcamento de comida era punido com chicotadas, fosse feito por soldados ou por oficiais. Os guerrilheiros sonhavam com comida. Literalmente. Mais do que os combates, que se davam apenas nos perímetros defensivos avançados, a fome era a sua principal dificuldade. Passara de "táctica" a "estratégica".

Aos nossos olhos de hoje, tudo parecia trocado: papéis, ideias, amizades políticas, "esquerda - direita", geoestratégias. A coluna de guerrilheiros era a Coluna Presidencial, onde marchava o único dirigente guerrilheiro africano que não morreu na cama de um palácio, Jonas Savimbi. Savimbi, talvez o melhor produto de sempre das escolas militares chinesas, lia nos intervalos da marcha, pela enésima vez, os livros de Mao Zedong sobre a "guerra camponesa". Numa das noites, acompanhou atentamente com os seus companheiros o debate Bush - Al Gore, torcendo por Bush. Nas reuniões clandestinas da Direcção da UNITA, realizadas com muita dificuldade no meio da mata, gritava-se o slogan, que era também o da revolução cubana, "Pátria ou Morte Venceremos" e elogiava-se o exemplo de figuras como Lumumba, Che Guevara, Nkruma, e, entre os vivos, Nelson Mandela. O comunicado final de uma dessas reuniões era assinado com o nome de guerra "Jaguar Negro dos Jagas", e os militares guerrilheiros faziam jus a uma panóplia de nomes programáticos como o do general Black Power.

A maioria dos dirigentes que acompanhava Savimbi na sua Longa Marcha final, eram, como ele, um produto das missões protestantes que bordejavam a faixa do Caminho de Ferro de Benguela, onde estações e postos faziam crescer vilas com uma pequena burguesia rural arreigada às tradições africanas de senioridade (Savimbi era um dos Mais Velhos), a uma profunda religiosidade e ao valor da educação como instrumento de promoção pessoal. Eram protestantes, odiavam os desregramentos, a embriaguez, a devassidão. Alguns dos últimos comunicados internos escritos por Savimbi continham anátemas contra esses comportamentos e não era apenas por razões político-militares. O igualitarismo maoista-camponês, o ascetismo revolucionário que impregnava a UNITA e o culto de personalidade de Savimbi, entre o mágico-supersticioso e a "autorictas" africana mais tradicional, eram traços únicos. Não importa se tudo era assim na realidade, mas a vontade de que assim fosse era completamente genuína.

Em perseguição da Coluna Presidencial e com o objectivo explícito de matar aquilo a que chamavam a "UNITA militarista" e Savimbi, ia um poderoso exército treinado por cubanos e soviéticos, apoiado por mercenários portugueses e sul-africanos, quase todos antigos aliados da UNITA, uns ligados a empresas de “segurança” luso-angolanas, em que se misturavam generais do MPLA e militantes da extrema-direita portuguesa. O dinheiro vinha do petróleo angolano explorado por norte-americanos. Os aviões que bombardeavam a coluna eram Migs e Sukoy, os aviões de observação eram Tucanos brasileiros pilotados por brasileiros. No plano internacional, o mais activo opositor da UNITA e que tinha sido, com os sul-africanos, o seu mais poderoso aliado eram os EUA da Administração Clinton.

A história que o livro de Alcides Sakala relata, para além do seu testemunho pessoal único*, é a história da História como armadilha. Nada parecia estar no seu “sítio” e, no entanto, nada estava fora do sítio. O mundo pós-guerra fria apanhara nos interstícios da sua mudança homens, organizações, países. A UNITA e a figura épica de Savimbi, eram e são um dos casos mais exemplares do que é ser-se apanhado pelas voltas da história. Completamente apanhado.
* Eu conheci a maioria dos personagens deste livro, a começar pelo Alcides Sakala, de quem tenho as melhores recordações, nos bons e nos piores momentos. Por isso não li com indiferença as quase 450 páginas do seu livro, que ganharia muito em ter um mapa e reflecte algumas vezes o carácter repetitivo da narração da "vida", até porque esta era mesmo repetitiva - dormir, acordar, tentar comer, estar sempre pronto para fugir, frio, calor, humidade, doenças. Mas estes são pequenos defeitos para aquele que é um dos melhores testemunhos publicados sobre a nossa história mais contemporânea.
 


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862 - "Je suis homme et j'ai fait des livres..."

Je suis homme et j'ai fait des livres ; j'ai donc fait aussi des erreurs [Exceptions, si l'on veut, les livres de géométrie et leurs auteurs. Encore s'il n'y a point d'erreurs dans les propositions mêmes, qui nous assurera qu'il n'y en ait point dans l'ordre de déduction, dans le choix, dans la méthode ? Euclide démontre, et parvient à son but mais quel chemin prend-il ? Combien n'erre-t-il pas dans sa route ? La science a beau être infaillible ; l'homme qui la cultive se trompe souvent.]. J'en aperçois moi-même en assez grand nombre : je ne doute pas que d'autres n'en voient beaucoup davantage, et qu'il n'y en ait bien plus encore que ni moi ni d'autres ne voyons point. Si l'on ne dit que cela j'y souscris. Mais quel auteur n'est pas dans le même cas, ou s'ose flatter de n'y pas être ? Là-dessus donc, point de dispute. Si l'on me réfute et qu'on ait raison, l'erreur est corrigée et je me tais. Si l'on me réfute et qu'on ait tort, je me tais encore ; dois-je répondre du fait d'autrui ? En tout état de cause, après avoir entendu les deux parties, le public, est juge, il prononce, le livre triomphe ou tombe, et le procès est fini. Les erreurs des auteurs sont souvent fort indifférentes ; mais il en est aussi de dommageables, même contre l'intention de celui qui les commet. On peut se tromper au préjudice du public comme au sien propre ; on peut nuire innocemment. Les controverses sur les matières de jurisprudence, de morale, de religion tombent fréquemment dans ce cas. Nécessairement un des deux disputants se trompe, et l'erreur sur ces matières important toujours devient faute ; cependant on ne la punit pas quand on la présume involontaire. Un homme n'est pas coupable pour nuire en voulant servir, et si l'on poursuivait criminellement un auteur pour des fautes d'ignorance ou d'inadvertance, pour de mauvaises maximes qu'on pourrait tirer de ses écrits très conséquemment mais contre son gré, quel écrivain pourrait se mettre à l'abri des poursuites ? Il faudrait être inspiré du Saint-Esprit pour se faire auteur et n'avoir que des gens inspirés du Saint-Esprit pour juges.

(Jean Jacques Rousseau, Lettres écrites de la montagne)

*

Bom dia!

9.9.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM S. PEDRO DO SUL, PORTUGAL



(...) um casal de agricultores "rogou" um tractorista para lhes transportar as abóboras, acabadas de colher, da "terra" para casa (em Sul - São Pedro do Sul).

(José Manuel de Figueiredo)
 


CICLOS E MITOS (1)



Quem cá anda há mais tempo já percebeu os ciclos de sobe e desce, da fama e do esquecimento, o eterno retorno de ideias velhas apresentadas como ideias novas. Isto contraria a tentação adâmica de muitos, cuja memória é demasiado curta, ou a ignorância demasiado longa, e que acham que o mundo começou com eles, dedicando-se com estrépito a arrombar portas que muitos outros antes deles abriram com mais dificuldades. O espectáculo de os ver voar direitinhos à porta e passar sem dar por isso pelo imenso espaço aberto devia ser uma lição de humildade, mas normalmente não é.

Um destes ciclos recorrentes é a fortuna do par "esquerda-direita" como classificação dominante e moda identitária. Contrariamente ao que se pensa, o retorno actual do par é relativamente recente, data do período posterior ao fim do comunismo, que permitiu voltar a categorias maniqueístas, logo aparentemente mais simples, de análise. Onde antes era comunista-anticomunista, fascista-antifascista, democrata-antidemocrata, passou a ser esquerda-direita, uma classificação mais genérica e mais vasta, essencialmente histórica antes de ser política. Facilita a vida aos jornalistas e ao pensamento semijornalístico em que estamos mergulhados e por isso faz o seu caminho, embora cada vez menos sirva para classificar qualquer realidade contemporânea, num mundo complexo e com questões distintas do mundo pós-Revolução Francesa e pós-Revolução Industrial, onde a distinção foi gerada e sobreviveu com altos e baixos.

Ora, o que poucos vêem é que o retorno do debate "esquerda-direita", agora transvertido de "fundacional da direita" é mais um sintoma de crise da classificação do que da sua pujança. Sendo antes de mais um remake sem a frescura nem originalidade do debate original, cujo primeiro acto acompanhou a fundação do PP versus CDS, e a do BE, a discussão actual é, na verdade, um reflexo da crise política que se vive na pequena galáxia do CDS-PP, incluindo aí uma ala minoritária do PSD que cresceu nos anos Barroso-Lopes e tem como objectivo consertar um péssimo resultado eleitoral e os problemas de intervenção política do grupo ligado a Paulo Portas. São os impasses políticos desse grupo que estão na origem do actual debate, embora nalguns aspectos este os ultrapasse.

Voltemos atrás, à história ideológica, lexical e taxionómica pós-25 de Abril. Basta revermos os debates políticos na televisão, rádio e jornais, durante quase duas décadas depois do 25 de Abril para entender que mais do que no dualismo ideológico direita-esquerda, a identidade estava centrada nos nomes da identidade partidária: ser-se centrista, social-democrata, socialista ou comunista era a mais comum e suficiente forma de identidade. Se se caminhasse para o dualismo - e não se caminhava por regra -, as dificuldades de posicionamento apareciam de imediato. Nesses anos, apenas pequenos grupos ideológicos à direita se nomeavam como tal, embora preferissem classificar-se de "nacionalistas revolucionários" e alguns mesmo não desdenhassem assumir-se como tributários de várias tradições do pensamento autoritário incluindo o fascismo.

A pouca fluidez do nosso sistema partidário também não corria por esses canais duais: por exemplo, o PRD, os "renovadores" ligados ao General Eanes, não se colocavam no espectro dualista, mas demarcavam-se através de issues, através de linguagens e através de personalidades. O debate absurdo, mas que existiu, sobre se o PCP era de esquerda ou de direita, numa altura em que era vital a demarcação dos socialistas dos comunistas, é outro exemplo. Então os socialistas nem sequer permitiam a pertença à "casa comum" da esquerda dos comunistas e vice-versa, o que mostrava as dificuldades operacionais da nomenclatura. Com excepção do Movimento da Esquerda Socialista e da União da Esquerda para a Democracia Socialista, e a excepção precursora do Clube da Esquerda Liberal, que usava a "esquerda" para contrabalançar o "liberal", a palavra "esquerda" não entrou no sistema político desde a "Esquerda Democrática" na Primeira República. O mesmo acontecia à direita.

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Tal não significava que o dualismo esquerda-direita não fosse importante como factor de identidade política, em particular como manifestação de pertença afectiva, biográfica, geracional, histórica, nem que, se perguntados, os portugueses não se identificassem dentro dele e considerassem que cada lado definia um campo, um território. Só que, depois, na prática, usavam outros nomes para classificar as entidades políticas e tal lhes bastava. Necessitavam de tanta adjectivação ("esquerda socialista", "esquerda revolucionária", "esquerda liberal", "direita revolucionária", etc.) que se percebia que eram mais um ponto de partido do que de chegada. A classificação esquerda-direita era poderosa como posicionamento biográfico e factor de identidade, mas permanecia por nomear, permanecia sem explicitude, e, quando tal acontecia, remetia mais para os extremos do que para o mainstream. Quem se dizia de direita aparecia como sendo de extrema-direita e quem se afirmava de "esquerda-qualquer coisa" já se sabia que não era nem socialista soarista, nem comunista cunhalista. Com o tempo, à medida que o eleitorado se "soltava" e esbatia no seu comportamento a identidade partidária, alternando o voto "ao centro" entre o PS e o PSD, o fenómeno da demarcação ideológica também perdeu força.

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Foi neste contexto que a aparição desse outro par de gémeos, o PP e o BE, nos extremos do espectro político, ambos muito influentes na comunicação social, tornou de novo dominante a classificação direita-esquerda. A ambos interessava uma classificação identitária forte e que fizesse simultaneamente a ruptura e a integração. Vinham das margens, mas desejavam a integração no mainstream político em categorias reconhecidas, em que cada um parecesse como guardião da identidade do seu "lado" - o PP da direita, o BE da esquerda. Cada um se definia como sendo a encarnação da verdadeira identidade do seu lado: o PP como a verdadeira direita face ao CDS e o BE como a verdadeira esquerda face ao PS. Devido à história do sistema político português depois do 25 de Abril, a mecânica era diferente em cada um dos extremos: o PP radicalizava à direita e o BE desradicalizava à esquerda; o PP pretendia ocupar um espaço que considerava vazio, o da direita, o BE pretendia deslocar-se da extrema-esquerda, para se afirmar como a esquerda face ao PS. A novidade do BE em relação aos grupos de extrema-esquerda que o constituíam era essencialmente essa, a de se definir como a "esquerda" do PS e não a "esquerda" do PCP.

Um dos mitos a que hoje se atribui papel "fundacional" na versão actual da distinção "esquerda-direita" é ao jornal O Independente. É em grande parte uma reconstrução a posteriori, porque aquilo a que o jornal deu origem, mais do que a uma nova direita foi a um populismo agressivo, antiparlamentar, anti-sistémico que tanto serviu o PP como o PCP, tanto serviu o radicalismo do PP de Manuel Monteiro-Paulo Portas e a sua variante boçal do "Paulinho das Feiras" como o justicialismo esquerdizante dos que desejavam uma "república dos juízes" em Portugal. Ambos foram filhos de O Independente, irmanados no combate aos mesmos inimigos, aliados que se reconheciam mais do que se pensa e do que a história revisionista e mítica dos dias de hoje quer reconhecer. Do papel dos mitos de O Independente no ciclo destes ciclos, falaremos a seguir.

(Público, 7/9/2006)
 


EARLY MORNING BLOGS

861 - What If a Much of a Which of a Wind

what if a much of a which of a wind
gives the truth to summer's lie;
bloodies with dizzying leaves the sun
and yanks immortal stars awry?
Blow king to beggar and queen to seem
(blow friend to fiend: blow space to time)
--when skies are hanged and oceans drowned,
the single secret will still be man

what if a keen of a lean wind flays
screaming hills with sleet and snow:
strangles valleys by ropes of thing
and stifles forests in white ago?
Blow hope to terror; blow seeing to blind
(blow pity to envy and soul to mind)
--whose hearts are mountains, roots are trees,
it's they shall cry hello to the spring

what if a dawn of a doom of a dream
bites this universe in two,
peels forever out of his grave
and sprinkles nowhere with me and you?
Blow soon to never and never to twice
(blow life to isn't: blow death to was)
--all nothing's only our hugest home;
the most who die, the more we live

(e.e. cummings)

*

Bom dia!

8.9.06
 


EARLY MORNING BLOGS

860 - Sagesse I - I

Bon chevalier masqué qui chevauche en silence,
Le malheur a percé mon vieux coeur de sa lance.

Le sang de mon vieux coeur n'a fait qu'un jet vermeil
Puis s'est évaporé sur les fleurs, au soleil.

L'ombre éteignit mes yeux, un cri vint à ma bouche
Et mon vieux coeur est mort dans un frisson farouche.

Alors le chevalier Malheur s'est rapproché,
Il a mis pied à terre et sa main m'a touché.

Son doigt ganté de fer entra dans ma blessure
Tandis qu'il attestait sa loi d'une voix dure.

Et voici qu'au contact glacé du doigt de fer
Un coeur me renaissait, tout un coeur pur et fier.

Et voici que, fervent d'une candeur divine,
Tout un coeur jeune et bon battit dans ma poitrine.

Or, je restais tremblant, ivre, incrédule un peu,
Comme un homme qui voit des visions de Dieu.

Mais le bon chevalier, remonté sur sa bête,
En s'éloignant me fit un signe de la tête

Et me cria (j'entends encore cette voix) :
" Au moins, prudence ! Car c'est bon pour une fois. "

(Paul Verlaine)

*

Bom dia!

7.9.06
 


RETRATOS DO TRABALHO NO FUNCHAL, PORTUGAL


Dois homens executam a arriscada tarefa de subsituição de cartazes publicitários no gigantesco balão de hélio que se encontra na baía do Funchal. Foto tirada há minutos (17h15). Este balão tem um cesto na base para levar os turistas aos céus da Madeira, de onde se contempla uma magnífica vista, pela módica quantia de 15 euros. A foto documenta o início dos trabalhos, altura em que nenhum sistema de segurança protegia os audazes trabalhadores.

(Tiago Botelho)
 


FÉRIAS / FIM DE FÉRIAS
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Por todo o lado já se nota uma nova agitação. Temas e questões começam a aparecer todos os dias, o deserto comunicacional de Agosto dá lugar a uma crescente agitação nos blogues, nos jornais, na televisão. Está tudo mais que disponível para uma nova polémica, uma nova irritação, uma nova exigência, um novo protesto. A coisa é curiosa porque não há verdadeiramente nada de diferente entre Agosto e Setembro a não ser no número de pessoas que estão na praia ou nos seus empregos. O país é o mesmo, o mundo é o mesmo, os problemas são os mesmos. Já estamos é viciados pela excitação e, passado o mês terapêutico de abstinência, precisamos de barulho para meter nas veias. Rápido. Forte. De boa qualidade.
 


INTENDÊNCIA

Actualizada a nota UM DIA DE COMÍCIO.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM BARCELONA, ESPANHA



(...) foto do tipo de trabalho que fiz em Barcelona. penso que seria interessante ter esta foto (...) , pois mostra um tipo de trabalho diferente dos trabalhos tradicionais. Para além de fazer um pouco de bricolage projectei a parte mecânica desse Robot humanoide que vê na imagem. A pessoa que está na foto não sou eu, mas sim o meu chefe (Davide Faconti).

(Alcides Strecht Monteiro)
 


EARLY MORNING BLOGS

859 -The Fascination of What's Difficult

The fascination of what's difficult
Has dried the sap out of my veins, and rent
Spontaneous joy and natural content
Out of my heart. There's something ails our colt
That must, as if it had not holy blood
Nor on Olympus leaped from cloud to cloud,
Shiver under the lash, strain, sweat and jolt
As though it dragged road-metal. My curse on plays
That have to be set up in fifty ways,
On the day's war with every knave and dolt,
Theatre business, management of men.
I swear before the dawn comes round again
I'll find the stable and pull out the bolt.


(W.B. Yeats)

*

Bom dia!
 


UM DIA DE COMÍCIO

Hoje, viveu-se um dia de permanente comício em muitos órgãos de comunicação social. Desde a TSF pela manhã, até à "Opinião Pública" da SIC Notícias de tarde, culminando no Clube dos Jornalistas na 2, sem qualquer esforço de "edição", sem sequer qualquer esboço de controvérsia, assistiu-se a uma diatribe propagandística completamente à solta, como se estivéssemos em Cuba ou na Venezuela de Chavez e fossem o PCP e o BE a mandar nas televisões. Corrijo: hoje mandaram nas televisões, diante do silêncio comprometido e das deserções de muitos. Todo o discurso, pesado e denso, de múltiplas proclamações, grandes indignações, grandes adjectivos, grandes diabolizações, foi desde o anti-americanismo obcecado, que não hesita nas maiores inverdades e mentiras, até à proclamação indignada contra as tenebrosas violações dos direitos humanos, por esse Novo Estado Fascista que são os EUA.

O Clube dos Jornalistas sintetizou tudo quando, a pretexto do 11 de Setembro de Nova Iorque e Washington, passou imagens do golpe chileno de Pinochet, "dizendo-nos" com as imagens que este é o facto original e puro, o resto são manipulações ímpias. Isto aconteceuThe image “http://redescolar.ilce.edu.mx/redescolar/act_permanentes/historia/html/11_sep_73/mone.gif” cannot be displayed, because it contains errors., isto não. Isto deve-se pensar, isto serve apenas para nos manipular, para cercear as nossas liberdades, para servir os obscuros interesses militares e económicos do Império. A realidade do terrorismo dissipa-se, o terrorismo torna-se invisivel, hipotético, "pretextual" como nas melhores teorias conspirativas. Num noticiário da SIC referia-se de passagem que, no Irão, milhares de voluntários se ofereceram, em resposta ao apelo de alguns parlamentares iranianos, para servir de suicidas. Mas como era possível sequer reparar nesta notícia, incorporá-la no discurso? Não era. O terrorismo, mesmo ali diante dos nossos olhos, desaparecia, esbatia-se, dissolvia-se, normalizava-se. Tornava-se impensável. Só o Monstro americano existe, o resto são também imagens espelhares do mesmo Monstro. Estamos feitos.

*

Como se indignou com programa do clube de jornalistas queria perguntar-lhe se viu a edição sobre o recente conflito Israel-Hezbollah. Não creio que tenha visto, caso contrário teria achado este bastante benigno.

Se não viu peça a cassete a alguém (infelizmente não gravei), acredito que não dará o seu tempo por perdido. Foi a maior acção de propaganda anti-sionista que alguma vez vi numa televisão, e falavam como se de justiceiros se tratassem face ao favorecimento de Israel por parte dos média. Foram feitas acusações graves ao jornal Público e ao seu director. E tudo isto sem qualquer contraditório: todos os convidados eram enviesadamente e fanaticamente anti-sionistas. A ver.

(paulo salvador)

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São tantos os exemplos de informação tendenciosa e manipulação noticiosa que o tema começa a estar estafado. Mas nunca é demais denunciá-lo. No dia da paralisação dos aviões em Londres, a jornalista Alberta Fernandes apresentou a notícia repetindo várias vezes “a alegada ameaça terrorista” sempre com um trejeito nos lábios para que alguém mais distraído notasse o seu cepticismo esclarecido. No dia em que a televisão transmitiu a reportagem da CNN com o membro do Hezbollah histérico a mostrar os prédios de “civis” atacados em Beirute, José Alberto Carvalho também se revelou consternado e solidário para com o “civil”. São apenas alguns exemplos e muitos mais haverá que desconheço porque passei a exercer o “inalienável direito de carregar no OFF” ou de ver o canal Panda.

(Helena Mota)

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Estes últimos comentários sobre os EUA e Israel fazem reaparecer na minha cabeça uma sensação que não posso deixar partilhar. Vou usar o exemplo dos EUA mas refiro-me a isto de uma forma geral em relação às suas posições publicas. Note-se então o exemplo: há hoje numa grande parte da sociedade um sentimento anti-americano. JPP opõe-se a ele. Tudo natural. Mas a sensação com que fico é que para se opor ao extremismo de um lado, JPP tende a tomar partido do outro. O facto de não estar de acordo com a perspectiva que muitos europeus têm dos EUA ou, de achar que a comunidade internacional não ajudou Israel como devia, não pode (não deve) fazer com se torne complacente para com o que há a criticar. Nunca o ouvi criticar de forma clara, o facto de terem morrido mais civeis inocentes do que "combatentes irregulares" (já o ouvi a usar a expressão e acho-a adequada). Eu não acho que JPP considere isso irrelevante, o que acho é que esteve demasiado ocupado a defender Israel das críticas que lhe eram feitas. Ficou tão mentalmente tão ocupado nisso que o resto não... surgiu. Imagine alguém acusa um seu conhecido por mentir em determinada situação em que sabe que ele não mentiu, é natural que o defenda. Não se pode é definir por oposição aos acusadores, perdoando futuras mentiras.
Os comentários e actos políticos Responsáveis não podem ser como o aquele jogo em que 2 grupos de pessoas puxam uma corda pelas suas pontas... tentando vencer o outro grupo ao extremar a sua posição. Se acha exageradas e irresponsáveis certas posições sobre os EUA, critique-as e exponha-as, mas não deixe que isso tolde o seu juízo. Eu também não gosto da onda de anti-americanismo de esquerda, mas julgo que o melhor é tentar não tomar partido de um lados só para me opor ao outro. Acho que compreende bem o que estou a dizer. "Não gosto do que este lado diz, por isso vou defender (quase) incondicionalmente o outro"...
Outra hipótese é que eu, talvez por "wishufull thinking", esteja enganado e que (por exemplo) JPP ache mesmo que os EUA têm muito pouco para se lhes criticar, e que a guerra recente, teve custos civis perfeitamente razoáveis. Tanto nisso como em outras situações em que define a sua posição como oposta à de outros.

(Filipe Grácio)

*

É uma verdadeira avalanche de propaganda. Da TSF já não se espera objectividade , ainda mais de um qualquer programa como “O Fórum TSF” cujos participantes parecem ser únicos em Portugal ( são sempre os mesmos…parece a Bancada Central nesse aspecto … e curiosamente todos baldeados á Soeiro P. Gomes) .Mas enfim só ouve quem quer e fala quem pode. Vale a denuncia e a indignação.
Quanto ao “ Clube de Jornalistas” da 2 de ontem , que falaria do 11 de Setembro , no âmbito de uma semana na 2 acerca desse acontecimento que mudou o Mundo, sinceramente quando soube que era este o programa sobre o 11 de Setembro e não outro qualquer , temi pela objectividade do mesmo até pelo facto de na apresentação do mesmo aparecia a sombra de um tal de José Goulão , “cidadão honorário” da Palestina , o que se não confirmou, quem lá estava era o Dr. Rui Pereira , e os jornalistas Luis Costa Ribas e Cesário Borga. Quando apurei que era sobre o papel do jornalista no 11 de Setembro e 11 de Março e sua cobertura, com aquele painel fiquei logo desconfiado ( tirando o Dr Rui Pereira ) …ainda mais quando o moderador se pôs inicialmente a fazer umas considerações tendenciosas. Acabei por ouvir cinco minutos…chegou.
Quando á cobertura do 11 de Setembro…do mais irónico que me lembro de cobertura jornalística e propagandistica no meio daquele terror todo é o Hissam Besseisso representante da AP em Portugal acolitado pelo Luís Fazenda e José Goulão, a dizer e a transpirar abundantemente que o 11 de Setembro era obra da Mossad ou dos judeus. Paralelamente ia-se apreciando a reacção da rua árabe, com aquela senhora de lenço na cabeça a dar á língua a gritar , ao estilo das mulheres sudanesas a cortar as partes intimas dos prisioneiros da força britânica do General Gordon nos idos dos sec XIX.

(António Carrilho)

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Partilho inteiramente do seu ponto de vista. Também vi o Clube de Jornalistas, e fiquei arrepiado! Sob a coordenação do pivot, de cujo nome não me recordo, o programa foi um autêntico comício do PCP-BE (com a participação expecial da eurodeputada Ana Gomes, a nova Passionaria). A exaltação desse mesmo pivot quando, por exemplo, Costa Ribas se atreveu a dizer que a não existência de legislação específica ou carteira de jornalista nos EUA era uma boa coisa, fez lembrar as imagens do PREC. A deturpação da história atinge níveis preocupantes: qualquer dia dir-se-á que o 11 de Setembro aconteceu por causa da invasão do Iraque.


Poder-se ia, a propósito de terrorismo e de jornalismo, ter referido a presença de membros das FARC - organização reconhecida pela UE como terrorista - na festa do Avante, sem qualquer referência, que eu tenha visto, na televisão; ou também o facto de o presidente Bush ter admitido a existência de prisões "ilegais", prisões essas muito provavelmente criadas pelos seus antecessores, o que revelou um acto de grande coragem; ou a pura e simples "adivinhação" do que foram as missões supostamente da CIA, por parte de grande número de comentadores da nossa Esquerda, etc.

Para finalizar, como explicar as aspas na palavra "todos" no seguinte título de uma notícia do Diário Digital, que transcrevo de seguida?
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EUA: Pentágono proíbe tortura a «todos» os prisioneiros

O Pentágono publicou esta quarta-feira uma nova directiva determinando que os militares norte-americanos respeitem o artigo 3 das Convenções de Genebra, que proíbe a tortura, no tratamento de «todos» os prisioneiros.
«Todos os detidos devem ser tratados humanamente e de acordo com as leis norte-americanas, as leis da guerra», refere a directiva.

A directriz é publicada no mesmo dia em que o presidente George W. Bush vai propor uma nova legislação para julgar os prisioneiros de Guantanamo.

Segundo a directiva, os militares norte-americanos «devem aplicar, qualquer que seja o estatuto legal do prisioneiro, as regras contidas no artigo 3 das Convenções de Genebra de 1949».

O artigo 3 das Convenções de Genebra proíbe «os tratamentos cruéis e a tortura». Determina igualmente que os soldados capturados devem «em qualquer circunstância ser tratados humanamente sem distinção de raça, cor, religião, sexo, origem, rendimento ou qualquer outro critério».

Segundo responsáveis norte-americanos, o novo manual do exército proíbe algumas técnicas de interrogatório de prisioneiros utilizadas pelos Estados Unidos desde os atentados de 11 de Setembro e acrescenta algumas que o Departamento de Defesa considera necessárias.

As regras aplicam-se a todos ramos das forças armadas e não apenas ao exército, não incluindo a CIA, que também foi investigada por maus-tratos de prisioneiros no Iraque e no Afeganistão e por alegadamente manter suspeitos em prisões secretas em vários locais do mundo desde 11 de Setembro de 2001.

Desde pouco depois destes ataques que se têm registado protestos acerca dos direitos dos prisioneiros.

Organizações de direitos humanos e alguns países têm pressionado a administração Bush para fechar a prisão na base naval norte-americana em Guantanamo Bay, Cuba, quase desde que ela foi aberta em 2002 para prisioneiros da campanha contra a Al-Qaeda no Afeganistão.

O escrutínio ao tratamento dos prisioneiros pelos Estados Unidos aumentou em
2004 com a revelação de fotografias de soldados norte-americanos agredindo, intimidando e abusando sexualmente de detidos em Abu Ghraib no Iraque.

Em Julho, o secretário adjunto da Defesa norte-americano, Gordon England, publicou uma nota interna afirmando que o exército dos Estados Unidos trataria os prisioneiros da «guerra contra o terrorismo» de acordo com o artigo 3 das Convenções de Genebra.

A nota seguiu-se à decisão, no final de Junho, do Supremo Tribunal dos Estados Unidos de invalidar os tribunais de excepção de Guantanamo. O Supremo Tribunal considerou que o artigo 3 das Convenções de Genebra se aplicava ao conflito com a Al-Qaeda.

Guantanamo tem actualmente cerca de 450 prisioneiros da «guerra contra o terrorismo», mas apenas 10 foram até agora acusados.

A Casa Branca anunciou hoje que o presidente George W. Bush vai propor, num discurso previsto para as 13:45 (18:45 em Lisboa), uma nova legislação para julgar os prisioneiros de Guantanamo.

O presidente deverá enviar ao congresso o projecto de lei da sua administração ainda hoje, precisou o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow.

Segundo Snow, trata-se de reagir à decisão de 29 de Junho do Supremo Tribunal, mas a legislação não prevê a «mudança de estatuto de Guantanamo».

Diário Digital / Lusa

06-09-2006 19:17:17
(Ricardo Peres)

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Esta leitora tem toda a razão. Lembra-me que nem todos vivem no mesmo contínuo comunicacional e, por isso, tudo o que se escreve pode parecer críptico, abstracto e alheio. Lembra também limitações da escrita nos blogues que têm a ver com as características do meio. Não é um problema facilmente resolúvel para quem escreve nos blogues que têm mecanismos de imediaticidade e referência que podem torná-los incompreensíveis fora do mesmo espaço de comunicação, mas pode e deve ser tido em conta. A carta da leitora vai publicada sem a habitual cor azul para que se percebam os seus comentários que vinham originalmente também em azul.

Para quem, como eu, não vive em Portugal e apenas tem acesso à RTP Internacional o que hoje conta no seu post não se percebe. Este é, em meu entender, um dos grandes problemas dos weblogs. Não existindo edição outra que a feita em causa própria, raramente se encontra a preocupação de contar uma "história" com cabeça, tronco e membros. Quem está de fora e, como é o meu caso, ainda mais de fora, os weblogs parecem um mundo estranho onde tudo o que é escrito parece começar a meio. Bem sei que o weblog funciona num registo que vai do diário confessional ao mero registo de uma impressão em modo de fragmento. No entanto, para quem, como o José Pacheco Pereira faz do weblog um espaço diverso do convencional, parece-me que muitas vezes as suas palavras mais se assemelham a recados internos, private jokes ou simplesmente estilhaços como é, afinal, a prática comum deste tipo de comunicação.

O exemplo do seu post de hoje é o paradigma do que acima descrevi e que me deixou e continua a deixar em branco. Junto lhe envio as suas palavras para que a minha opinião faça ainda mais sentido. Ora siga-me:

Hoje, viveu-se um dia de permanente comício em muitos órgãos de comunicação social. Desde a TSF pela manhã, até à "Opinião Pública" da SIC Notícias de tarde, culminando no Clube dos Jornalistas na 2, sem qualquer esforço de "edição", sem sequer qualquer esboço de controvérsia, assistiu-se a uma diatribe propagandística (até aqui não consegui ainda compreender de que diatribe nos fala) completamente à solta, como se estivéssemos em Cuba ou na Venezuela de Chavez e fossem o PCP e o BE a mandar nas televisões. (continuo na mesma. com a mesma pergunta: que diatribe?) Corrijo: hoje mandaram nas televisões, diante do silêncio comprometido e das deserções de muitos. (que muitos? que silêncio comprometido?) Todo o discurso, pesado e denso, de múltiplas proclamações, grandes indignações, grandes adjectivos, grandes diabolizações, foi desde o anti-americanismo obcecado, que não hesita nas maiores inverdades e mentiras, até à proclamação indignada contra as tenebrosas violações dos direitos humanos, por esse Novo Estado Fascista que são os EUA. (aqui percebo que devem, mas repare que é um devem, ter falado dos Estados Unidos da forma como descreve. O que terão dito? Um exemplo? Continuo a ler... querendo perceber do que nos fala mas sem nada que o sustente)

O Clube dos Jornalistas sintetizou tudo quando, a pretexto do 11 de Setembro de Nova Iorque e Washington, passou imagens do golpe chileno de Pinochet, "dizendo-nos" com as imagens que este é o facto original e puro, o resto são manipulações ímpias. (compreendo aqui que se passou alguma coisa num programa da RTP2 mas, em concreto, continuo na mesma. Foram, eventualmente?! passadas duas imagens, estas? e relacionadas da forma como... mas qual forma? o que foi dito? Eram realmentes estas as duas imagens passadas??) Isto aconteceu The image , isto não http://www.reformation.org/evil-twin-towers.jpg. Isto deve-se pensar, isto serve apenas para nos manipular, para cercear as nossas liberdades, para servir os obscuros interesses militares e económicos do Império. A realidade do terrorismo dissipa-se, o terrorismo torna-se invisivel, hipotético, "pretextual" como nas melhores teorias conspirativas. (o que disseram nesse programa foi, penso estar a perceber mas o texto é tão falho de informação que não garanto nada, penso que nesse programa terão dito que não houve 11 de Setembro ou que um acontecimento decorreu do outro ou ainda que, o quê?) Num noticiário da SIC(uma vez aqui chegada julgo compreender que fez zapping. da RTP2 passou para a SIC.) Referia-se de passagem que, no Irão, milhares de voluntários se ofereceram, em resposta ao apelo de alguns parlamentares iranianos, para servir de suicidas. Mas como era possível sequer reparar nesta notícia, incorporá-la no discurso? (era impossível incorporar esta notícia da SIC em que discurso? No da RTP2? no seu? no da SIC? Ainda não percebi, até aqui, o que sucedeu ao certo) Não era. O terrorismo, mesmo ali diante dos nossos olhos, desaparecia, esbatia-se, dissolvia-se, normalizava-se. (Aqui está a falar da SIC ou da RTP2?) Tornava-se impensável. Só o Monstro americano existe, o resto são também imagens espelhares do mesmo Monstro. Estamos feitos.

Para mim torna-se cada vez mais insustentavel ler jornais ou weblogs. Sobretudo os portugueses, é destes que falo. Parecem-me saídos do mesmo caldeirão de equívocos e enganos e/ou dificuldades de comunicação. Uns, creio, de causa prosaica e outros nem por isso. Uma coisa é certa, para quem se dedica apenas a ler o que outros escrevem a vida não está nada fácil. Enfim, para ser menos dura... e para o citar: "estamos feitos!"

(Teresa Santos)

*
Sobre o comentário da Srª D. Teresa Santos, devo dizer-lhe que contráriamente não acho que ela tenha alguma razão, nem mesmo atenuante, já que vivendo no estrangeiro (vago), tem acesso a notícias, como confessa através da RTP-I que apesar dos muitos eventuais defeitos deve relatar minimamente o que se passa em Portugal, além do mais vivendo no estrangeiro e dando de barato ao tempo a que isso dura, deverá falar a língua de acolhimento, acedendo assim a uma generalidade de fontes noticiosas através dos meios de comunicação local (a menos que estejamos a falar de um estrangeiro algures saariano, amazónico ou quejando).

Não vi o programa citado, nem mesmo televisão nesse dia e contudo entendi perfeitamente todo o seu post, bem como as intenções e intencionalidades que se percebem do texto.

Quanto à Srª D. Teresa Santos……..alô Marte !

(Castello Branco)

6.9.06
 


BIBLIOFILIA: LIVROS SOBRE LIVROS



 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 6 de Setembro de 2006


Na SIC Notícias no "opinião pública" está em pleno um comício do PCP e do BE (mais do PCP do que do BE) a pretexto dos "voos da CIA".

*

De manhã, ao pequeno almoço, muita gente a ler jornais. Os jornais eram o Metro e o Destak, dois gratuitos. O problema bem grave para a imprensa que custa dinheiro, é que a leitura dos dois gratuitos, que também fiz, me dá o essencial das notícias com mais do que um mínimo de qualidade. Leio o Destak e o Metro e posso dizer que li os jornais.

Partilho a sua opinião acerca do jornal Metro. No meu café matinal costumo encontrar os jornais "comuns" ocupados, pelo que me habituei a ler o Metro que, por ser distribuido gratuitamente, encontram-se sempre bastantes exemplares disponiveis. A qualidade das notícias nacionais, internacionais e até de algumas colunas de opinião, ultrapassam, não poucas vezes, a dos nossos jornais comerciais.
A quem nunca leu, aconselho.

(Luis Vaz de Carvalho)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM S. MARTINHO DO PORTO, PORTUGAL



Vendedora de bolos.

Desconfio que há por aí gente que quando vir esta fotografia não deixará certamente de sorrir. Há-de lembrar-se das bolas de Berlim, dos pastéis de nata, das tranças e de tantos outros bolos que terá comido em muitos Verões de S. Martinho.
Noutros tempos, a vendedora (quase todos a tratam pelo nome) trazia a caixa branca à cabeça. Com o peso dos anos veio o peso da caixa e há uns anos apareceu com este carrinho. A bola de Berlim não precisa da buzina para se fazer anunciar. A roupa branca e as crianças a correr para o carro chegam muito bem para ver a lata ao longe. A muitas conhece-lhes o nome, como já conheceu o dos pais. Pacientemente, vai puxando os tabuleiros e mostrando os bolos: "Areia não, meninos!". Despedimo-nos dela no final da praia, quase sempre "até para o ano".

(Isabel Goulão)

5.9.06
 


EARLY MORNING BLOGS

858 - Poema manuscrito nas folhas brancas de um livro e lá esquecido

Não teimes, não insistas, não repitas,
mas vive como quem, teimando, insiste,
e, porque insiste, como que repete.
Esse das sombras o silêncio fluido
escoando-se por ti quando não passas,
parado que ouves, não mais é que o tempo
de hoje em que vives só alheias vidas,
de ti alheadas qual de ti vividas.

Por outro tempo te criaste impuro,
difuso e firme, no clamor de versos
que os tempos de hoje reconstroem como
delidas cartas um fogacho acendem.
Outro que seja, é teu, pois o escutaste
na dor de apenas ser, na dor de ouvir
quão desatentos menos homens são
os homens todos. Teu, sem que teu seja,
que destes e dos outros se fará
serena ciência de possuírem tudo
o que juntares para ser roubado,
quando, parado no silêncio fluido,
se escoava nele o próprio estar na vida,
atento como estavas, poeta como eras
daquele ser não-sendo que eram todos
em ti, dentro de ti, à tua volta.

(Jorge de Sena)

*

Bom dia!

4.9.06
 


INTENDÊNCIA

Actualização em curso dos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.
 


TRABALHO DE LOUCOS


Há coisas que ninguém com bom senso faz, e uma delas é escrever uma enciclopédia ou um dicionário. É, pela sua natureza, um trabalho colectivo e mesmo o célebre Dr. Johnson tinha uns "negros" para o ajudar. Eu, que estou a escrever um dicionário que na prática é uma enciclopédia, sei bem até que ponto é do domínio da loucura meter-me nisto. Acho que não vai acabar bem, as "entradas" ganham vida própria e um dia assaltam-me à esquina de qualquer estante. Nenhum software comercial para mortais comuns verdadeiramente suporta o tamanho, a conjugação entre dados formatados e texto livre e o hardware, de centenas de gigabites (não, ainda está longe dos terabites, mas lá chegará...) que sai da caixa electrónica e passa para livros e fichas colocados por ordem alfabética (das entradas) , serpenteia das estantes para caixas e livros e pilhas de artigos e jornais. Distantes patronos para quem olho com reverência e humildade? Lineu, Humboldt, o dr. Johnson, os enciclopedistas...

Há pelo menos um dilema que não tenho: não tenho que escolher nada, é suposto que lá esteja tudo, nomes, organizações, jornais, eventos, factos e factóides, palavras, jargão, cruzando-se entre si numa rede quase infinita. A rede dá-me quase tanto trabalho como as entradas. Cada uma faz o milagre da multiplicação dos pães e gera muitas outras, logo tudo cresce exponencialmente. É biológico, não é químico, nem mecânico. Quanto mais se sabe, mais falta saber, como naquelas histórias borgeanas sobre o mapa perfeito, que tem o tamanho do território a representar ou o olhar dos fractais para a linha da costa, do conforto da fotografia aérea, com a costa talhada a rigor, para passar para a terra, rocha a rocha, e depois duna a duna, areia a areia...



(Pequena parte da letra M, entre Maio 68, Marcuse e Música.)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: NADA DE NOVO SOBRE A TERRA

-Mire vuestra merced -respondió Sancho- que aquellos que allí se parecen no son gigantes, sino molinos de viento, y lo que en ellos parecen brazos son las aspas, que, volteadas del viento, hacen andar la piedra del molino.

-Bien parece -respondió don Quijote- que no estás cursado en esto de las
aventuras: ellos son gigantes; y si tienes miedo, quítate de ahí, y ponte
en oración en el espacio que yo voy a entrar con ellos en fiera y desigual
batalla.
(...)

-¿Cómo dices eso? -respondió don Quijote-. ¿No oyes el relinchar de los caballos, el tocar de los clarines, el ruido de los atambores?

-No oigo otra cosa -respondió Sancho- sino muchos balidos de ovejas y carneros.
(...)

Y, diciendo esto, puso las espuelas a Rocinante, y, puesta la lanza en el ristre, bajó de la costezuela como un rayo. Diole voces Sancho, diciéndole:

-¡Vuélvase vuestra merced, señor don Quijote, que voto a Dios que son carneros y ovejas las que va a embestir! ¡Vuélvase, desdichado del padre que me engendró! ¿Qué locura es ésta? Mire que no hay gigante ni caballero alguno, ni gatos, ni armas, ni escudos partidos ni enteros, ni veros azules ni endiablados. ¿Qué es lo que hace? ¡Pecador soy yo a Dios!

(foto e transcrição do Quixote por Fernando Igreja.)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM CABANES - VILA POUCA DE AGUIAR, PORTUGAL



Desfolhada,2 de Setembro de 2006.

(Fernando Igreja)
 


EARLY MORNING BLOGS

857 - Reading Moby-Dick at 30,000 Feet

At this height, Kansas
is just a concept,
a checkerboard design of wheat and corn

no larger than the foldout section
of my neighbor's travel magazine.
At this stage of the journey

I would estimate the distance
between myself and my own feelings
is roughly the same as the mileage

from Seattle to New York,
so I can lean back into the upholstered interval
between Muzak and lunch,

a little bored, a little old and strange.
I remember, as a dreamy
backyard kind of kid,

tilting up my head to watch
those planes engrave the sky
in lines so steady and so straight

they implied the enormous concentration
of good men,
but now my eyes flicker

from the in-flight movie
to the stewardess's pantyline,
then back into my book,

where men throw harpoons at something
much bigger and probably
better than themselves,

wanting to kill it,
wanting to see great clouds of blood erupt
to prove that they exist.

Imagine being born and growing up,
rushing through the world for sixty years
at unimaginable speeds.

Imagine a century like a room so large,
a corridor so long
you could travel for a lifetime

and never find the door,
until you had forgotten
that such a thing as doors exist.

Better to be on board the Pequod,
with a mad one-legged captain
living for revenge.

Better to feel the salt wind
spitting in your face,
to hold your sharpened weapon high,

to see the glisten
of the beast beneath the waves.
What a relief it would be

to hear someone in the crew
cry out like a gull,

Oh Captain, Captain!
Where are we going now?

(Tony Hoagland)

*

Bom dia!

3.9.06
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 3 de Setembro de 2006


http://z.about.com/d/hartford/1/0/q/cow11.jpgA julgar por uma "acção" do BE em Pevidém, a propósito do desemprego, percebe-se como o BE conhece mal o país, os operários e os desempregados. Um dos desempregados de Pevidem quando viu uns meninos a saltarem dentro de umas vacas de cartão, numa "cow parade" de "vacas magras", sentiu-se ridicularizado e protestava alto e bom som contra as "fantochadas". Para ele, que não vivia em Lisboa nem em Bruxelas, que não fazia ideia do que seja uma "cow parade", o bailado das vacas só podia ser "gozo" com a sua condição e dificuldades. O BE, urbano e, na propaganda, infanto-juvenil, está bem para a actual era dos engraçadinhos, mas não sabe nada do país real. A não ser que o objectivo tenha sido umas imagens garantidas para o telejornal, para competir com o futebol e a Festa do Avante!, com os desempregados como pano de fundo, cenário, massa de manobra, rebanho.
 


EARLY MORNING BLOGS

856 - L' éternité

Elle est retrouvée!
Quoi? L' éternité.
C est la mer mêlée
Au soleil

Mon âme éternelle,
Observe ton voeu
Malgré la nuit seule
Et le jour en feu.

Donc tu te dégages
Des humains suffrages,
Des communs élans!
Tu voles selon...

— Jamais l' ésperance.
Pas d' orietur
Science et patience,
Le suplice est sur.

Plus de lendemain,
Braises de satin,
Votre ardeur
C' ést le devoir.

Elle est retrouvée!
— Quoi? — L' éternité.
C' est la mer mêlée
Au soleil.

(Arthur Rimbaud)

*


Bom dia!

2.9.06
 


RETRATOS DO TRABALHO NA NAZARÉ, PORTUGAL



Vendedora de peixe seco. Ela mesma expõe o peixe ao sol - Nazaré. Agosto de 2006.

(sandra costa)
 


BIBLIOFILIA: GRANDES CAPAS DE QUANDO O MUNDO ERA SIMPLES


Eleições coloniais.
 


FONTES PARA A HISTÓRIA DO ENGRAÇADISMO NACIONAL



Ordinariamente, chamam-se, à francesa — espirituosos - uns sujeitos dotados de génio motejador, aplaudidos com a gargalhada, e aborrecidos àqueles mesmos que os aplaudem. São os caricaturistas da graciosidade. 0 "espirituoso", à moderna, abrange os variados ofícios que, antes da nacionalização daquele estrangeirismo, pertenciam parcialmente aos seguintes personagens, uns de casa, outros importados:

Chocarreiro — trejeiteador — arlequim — palhaço — proxinela — polichinelo — maninelo — truão — jogral — goliardo —histrião — farsista — farsola — vegete — bobo — pierrot — momo — bufão — folião, etc.


Esta riqueza de sinonímia denota que o Bobo medieval bracejou na Península Ibérica vergônteas e enxertias em tanta cópia que foi preciso dar nome às espécies.
Ora, o "espirituoso" tem de todas. A antiga jogralidade, que era mester vil, acendrada nos secretos crisóis do progresso social, chegou a nós afidalgada em "espirito", e com o foro maior de faculdade poderosa, caústica, implacável. Ainda assim o estreme espirito portugues, por mais que o afiem e agucem, é sempre rombo e lerdo: não se emancipa da velha escola das farsas: é chalaça.

(Camilo Castelo Branco, Novelas do Minho)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM BOCAREY, FILIPINAS



Fotografia tirada em Abril de 2006.
Início da construção de um castelo de areia. Normalmente é um trabalho quase familiar, com muitas crianças a ajudar (trabalho infantil?...). O castelo pode ser "encomendado" ou, se é feito sem encomenda, é pedida uma contribuição se se quiser tirar uma fotografia ( de noite o castelo é "enfeitado"com velas e o resultado é muito bonito).

(Daniela Silva)
 


EARLY MORNING BLOGS

855 - Memento homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris.


O pó futuro, em que nos havemos de converter, é visível à vista, mas o pó presente, o pó que somos, como poderemos entender essa verdade? A resposta a essa dúvida será a matéria do presente discurso.

Duas coisas prega hoje a Igreja a todos os mortais, ambas grandes, ambas tristes, ambas temerosas, ambas certas. Mas uma de tal maneira certa e evidente, que não é necessário entendimento para crer: outra de tal maneira certa e dificultosa, que nenhum entendimento basta para a alcançar. Uma é presente, outra futura, mas a futura vêem-na os olhos, a presente não a alcança o entendimento. E que duas coisas enigmáticas são estas? Pulvis es, tu in pulverem reverteris: Sois pó, e em pó vos haveis de converter. - Sois pó, é a presente; em pó vos haveis de converter, é a futura. O pó futuro, o pó em que nos havemos de converter, vêem-no os olhos; o pó presente, o pó que somos, nem os olhos o vêem, nem o entendimento o alcança. Que me diga a Igreja que hei de ser pó: In pulverem reverteris, não é necessário fé nem entendimento para o crer. Naquelas sepulturas, ou abertas ou cerradas, o estão vendo os olhos. Que dizem aquelas letras? Que cobrem aquelas pedras? As letras dizem pó, as pedras cobrem pó, e tudo o que ali há é o nada que havemos de ser: tudo pó.

(Padre António Vieira)

*

Bom dia!

1.9.06
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 1 de Setembro de 2006


O Jornal de Letras é muitas vezes o mais aborrecido dos jornais, retrato dos gostos culturais da geração de 1962 e de um establishment cultural em implosão, cada vez com menos influência e "vida". O jornal vive de subsídios indirectos do Estado, através de compras institucionais que o tornam o jornal oficioso dos leitorados e do Instituto Camões por todo o mundo e, em Portugal, um jornal para professores. Acontece, o tempo é sempre cruel.

No fio dos seus dedos encontram-se às vezes, coisas únicas, coisas que só poderiam estar ali. O último número dedicado à guerra civil de Espanha (o jornal não está em linha e nunca pareceu interessar-se sequer em ter um mínimo de informações na rede, com excepção de uma ligação secundária no lugar da Visão) inclui um interessante ensaio de António Pedro Pita sobre o papel da guerra na arte e literatura portuguesas, de leitura obrigatória para quem só acede a estas questões através do revisionismo histórico que hoje faz moda.

Mas este número tem outro mérito, um artigo de Luisa Dacosta sobre a morte de Manuel Lopes, que conheci sempre como o "senhor Manuel da Póvoa". O senhor Manuel da Póvoa foi o responsável pela Biblioteca da Póvoa e o animador de muitas iniciativas locais, como a construção e lançamento da lancha poveira, a que dedicou muitas das suas precárias energias. Era daquelas raras pessoas que se não existisse lá, onde viveu e morreu, tudo seria diferente. Estava condenado à morte muito tempo antes de morrer, tinha mau feitio e uma dedicação sem limites às suas múltiplas obras. Tinha tudo contra ele, porque o senhor Manuel da Póvoa era anão. Só o Jornal de Letras se lembrou dele numa publicação nacional. Há algo de errado nas famas de hoje. Muito errado.

[Actualizado: por gentileza de Isabel Goulão, acrescento mais algumas referências a Manuel Lopes: de José Milhazes, e de uma notícia do Público em que se refere a doação da sua casa e dos seus livros à Câmara da Póvoa do Varzim.]
 


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: QUANDO AS SOMBRAS ILUMINAM

http://marsrovers.jpl.nasa.gov/gallery/press/spirit/20060830a/P2763_L4_montage-A945R1_br.jpg

O mesmo sítio e o passar do tempo. O passar dos dias (dos sols, neste caso), o passar da luz, o passar das sombras. O "Espírito" também lá está olhando, no frio do Inverno marciano, as outras sombras. Que guarda ele no seu interior eléctrico a não ser a luz passageira do sol de Marte, pousada nas suas asas agora quietas para não se gastarem? O "espírito" claro, meia dúzia de precários fotões, o pequeno fio de vida que o alimenta. Para ver as sombras.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM BUDAPESTE, HUNGRIA



Poda de uma árvore num jardim público no centro de Budapeste há dois dias.

(Luís Miguel Reino)
 


COISAS DA SÁBADO: O MANIFESTO DA DIREITA E UM DEUS IRÓNICO


Manuel Monteiro e o PND divulgaram um documento a que chamaram Proposta para um Manifesto da Direita em Portugal. O documento foi recebido com a habitual comiseração com que as iniciativas de Manuel Monteiro são recebidas, mas merece uma atenção mais cuidada. A começar, porque essa comiseração é um reflexo comunicacional do banimento com que o PP de Portas pretende ostracizar Monteiro, mais do que uma consideração do real mérito do documento.

Se não fosse Monteiro o autor, mas sim Portas, o documento teria certamente outro tratamento e seria saudado de outra maneira, em vez de ocultado. O que é, em primeiro lugar, interessante no manifesto é que ele é uma síntese das ideias que deram origem ao PP, e que circulam nos corredores de uma “nova direita” ligada ao grupo de Portas no CDS-PP (Grupo parlamentar, blogues, revista Atlântico, etc.), e que Paulo Portas não pode hoje enunciar, mas Monteiro pode. É um caso de punição divina em que um Deus cruel e irónico misturou protagonistas e ideias, dando a cada um a fala do outro, e a impossibilidade de falar a própria.

Monteiro diz aquilo que disse (e pensa) Portas, porque ele, Monteiro, nasceu com essa fala a que deu o seu corpo político. Portas não pode dizer aquilo que diz Monteiro porque o uso daquela fala, com que fez o PP, era para ele instrumental em relação a uma ambição maior, a de tomar conta do PSD. Enquanto para Monteiro o PND é a encarnação actual e virgem do projecto do PP, que ele tomou e toma a sério, para Portas o PP servia para demarcar-se do velho CDS e do PSD e para colocar na ordem os dirigentes do PSD que se opunham a uma “frente de direita”, os “cavaquistas” que foram o seu alvo preferencial no Independente, o cadinho do PP.

Para prosseguir esse objectivo, Portas vendeu o seu corpo político a tudo, - ao PS, ao PSD, à Constituição Europeia, ao estatismo anti-liberal, –, mas não o conseguiu e ficou num limbo de onde não sabe sair. Tem um partido na mão, mantendo Ribeiro e Castro numa teia de que não se consegue livrar, mas hesita em querer ou não o CDS-PP porque não sabe o que lhe é mais útil, a única consideração que conta. Por isso, a Proposta para um Manifesto da Direita em Portugal lhe é particularmente incomoda e tudo fará para que não seja levada a sério. É como se uma parte do passado se recusasse a ir embora e viesse todos os dias para morder o presente.

Como esse banimento aqui não se aplica, voltaremos ao Manifesto.

*
Portas, Monteiro e Conan Doyle

Uma troca de identidades (como a que JPP refere para Paulo Portas e Manuel Monteiro) é descrita num dos poucos contos de teor humorístico que Conan Doyle escreveu - «A grande experiencia de Keinplatz» (incluído no livro «O pé do Diabo», colecção Argonauta Nº 399):

Von Baumgarten, um austero professor de Psicologia, auto-hipnotiza-se depois de ter induzido em transe um irreverente aluno (que acedeu sujeitar-se à experiência em troca da promessa da mão da filha do mestre).

Ao fim de algum tempo de absoluto silêncio, as duas almas regressam aos corpos, mas trocadas - tudo se passando na presença dos mais distintos sábios da Europa que ficam atónitos com a sabedoria do pretenso jovem e com os dislates do "grande mestre"...

(C. Medina Ribeiro)
 


EARLY MORNING BLOGS

854 - The Unknown Citizen


(To JS/07/M/378/ This Marble Monument Is Erected by the State)

He was found by the Bureau of Statistics to be
One against whom there was no official complaint,
And all the reports on his conduct agree
That, in the modern sense of an old-fashioned word, he was a saint,
For in everything he did he served the Greater Community.
Except for the War till the day he retired
He worked in a factory and never got fired
But satisfied his employers, Fudge Motors Inc.
Yet he wasn't a scab or odd in his views,
For his Union reports that he paid his dues,
(Our report on his Union shows it was sound)
And our Social Psychology workers found
That he was popular with his mates and liked a drink.
The Press are convinced that he bought a paper every day
And that his reactions to advertisements were normal in every way.
Policies taken out in his name prove that he was fully insured,
And his Health-card shows he was once in hospital but left it cured.
Both Producers Research and High-Grade Living declare
He was fully sensible to the advantages of the Installment Plan
And had everything necessary to the Modern Man,
A phonograph, a radio, a car and a frigidaire.
Our researchers into Public Opinion are content
That he held the proper opinions for the time of year;
When there was peace, he was for peace: when there was war, he went.
He was married and added five children to the population,
Which our Eugenist says was the right number for a parent of his generation.
And our teachers report that he never interfered with their education.
Was he free? Was he happy? The question is absurd:
Had anything been wrong, we should certainly have heard.

(W.H. Auden)

*

Bom dia!

© José Pacheco Pereira
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