ABRUPTO

29.9.06
 


COISAS DA S�BADO: ANOS INQUIETOS - TR�S CIDADES, TR�S MOVIMENTOS

Anos InquietosRui Bebiano e Maria Manuela Cruzeiro (organiza��o), Anos Inquietos, Vozes do Movimento Estudantil em Coimbra (1961-1974), Porto, Afrontamento, 2006

Embora a crise estudantil de 1962 seja a mais estudada e citada, em grande parte pelo destino e papel de alguns dos seus principais protagonistas, a come�ar por Jorge Sampaio, a crise de Coimbra n�o lhe fica atr�s. O livro de entrevistas organizado por Rui Bebiano e Maria Manuela Cruzeiro � um dos primeiros a recolher sob a forma oral as hist�rias de vida de alguns dos protagonistas do movimento estudantil de Coimbra, � volta do seu annus mirabilis de 1969. O livro merece uma outra an�lise mais atenta, mas dois factores s�o patentes nas entrevistas, que fornecem um excelente ponto de partida para estudos posteriores: um, o car�cter muito sui generis do movimento coimbr�o, com poucos pontos de contacto com Lisboa e Porto; outro, a peculiar fragmenta��o da organiza��o dos estudantes comunistas, sem paralelo com o que se passava em Lisboa e Porto que tinham unidade de direc��o.

No seu livro sobre a crise de Coimbra, Celso Cruzeiro revela como era dif�cil fazer entender aos dirigentes associativos de Lisboa, com uma politiza��o mais explicita e radical, o que se passava em Coimbra. Este testemunho mostra a estranheza peculiar a alguns passos das entrevistas para quem n�o era de Coimbra (o Conge, os IBM, etc,), e revela uma idiossincrasia especial do movimento. Em Coimbra, havia a universidade, centralizada, sem fragmenta��o associativa, - a AAC � o centro e quase tudo anda � volta do centro , mesmo quando outras entidades, como o Conselho das Republicas o substitui ou complementa por necessidade - permeado por um cultura estudantil local antiga, com a praxe, as �rep�blicas�, e uma hierarquia entre veteranos e caloiros, que seria absurda em Lisboa e Porto. No movimento estudantil de Coimbra s�o muito fortes, a cidade, a �cidade universit�ria�, e a mem�ria sob forma de tradi��es, umas vezes usadas, outras recusadas pelo movimento dos estudantes.

Com este livro avan�a-se para perceber como o movimento estudantil nacional era diversificado por detr�s da sua aparente unidade. Mas falta estudar tudo o resto no movimento estudantil nacional, em particular Lisboa depois de 1962, onde s� o epis�dio da morte de Ribeiro Santos � razoavelmente conhecido e praticamente tudo sobre o Porto, cujo movimento era mais parecido com o de Lisboa, mas mais clandestinizado pela escassez de associa��es legais . O interesse de relevar estas omiss�es, de que os seus autores n�o t�m responsabilidade, � porque assim seria poss�vel colocar a crise de Coimbra fora de Coimbra, fora dos quadros narrativos e interpretativos internos a um movimento estudantil muito peculiar.

Esta dificuldade � acentuada, aqui j� por escolha dos seus autores, pela falta da dimens�o esquerdista, - os �contestas� como depreciativamente eram classificados pelo n�cleo comunista, - sem a qual a partir de 1969 n�o se percebe o movimento estudantil. Esta �ltima op��o � mais contest�vel, porque mant�m uma vis�o ortodoxa, �propriet�ria� da crise de Coimbra, que ganharia em ser medida com os seus limites e com epis�dios de que pouco se fala, como o �pedido de desculpas� posterior de alguns dirigentes associativos a Am�rico Tom�s que gerou grande indigna��o em Lisboa e Porto. Como diria um �contesta�.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM GABROVO, BULG�RIA



(S�lvia Mota)
 


EARLY MORNING BLOGS / BIBLIOFILIA

877 - The bookworm

There is a sort of busy worm
That will the fairest books deform,
By gnawing holes throughout them;
Alike, through every leaf they go,
Yet of its merits naught they know,
Nor care they aught about them.

Their tasteless tooth will tear and taint
The Poet, Patriot, Sage or Saint,
Not sparing wit nor learning.
Now, if you'd know the reason why,
The best of reasons I'll supply;
'Tis bread to the poor vermin.

Of pepper, snuff, or 'bacca smoke,
And Russia-calf they make a joke.
Yet, why should sons of science
These puny rankling reptiles dread?
'Tis but to let their books be read,
And bid the worms defiance.

(J. Doraston)

*

Bom dia! Sem Lepisma saccharina, claro.

28.9.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM RUIV�ES, PORTUGAL



O regresso do rebanho de ovelhas a casa, aguardando que a sua dona abra o port�o.
Vila de Ruiv�es, h� minutos atr�s.

(Paulo Miranda)
 


ESTADO DO ABRUPTO

O Abrupto atingiu cinco milh�es de pageviews e tr�s milh�es e novecentas mil visitas. Na realidade, os n�meros s�o um pouco mais altos, mas devido �s rupturas dos contadores ocorridas no seu primeiro ano e ao epis�dio de pirataria (embora haja elementos sobre esse epis�dio para que aceitei confidencialidade, posso revelar que ele foi resolvido directamente pelos engenheiros do Google, depois de v�rias tentativas falhadas anteriores do Blogger) os registos n�o s�o exactos. Os n�meros de hoje do Sitemeter d�o-lhe uma m�dia de 4537 visitas e 5128 pageviews. Todos os anos o Abrupto tem tido mais leitores e mais pageviews do que no ano anterior, da ordem das dezenas de milhar como se pode ver neste gr�fico de Setembro a Setembro (e ainda faltam alguns dias). Podia acrescentar-se qualquer outro indicador, que os resultados s�o muito animadores.



O Abrupto est� de boa sa�de e recomenda-se. Muito obrigado a todos.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM ROUSSE, BULG�RIA



(S�lvia Mota)
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

�TOMOS E BITS

de 28 de Setembro de 2006


Nenhuma cadeia de televis�o nacional, nenhuma esta��o europeia de "servi�o p�blico", nenhuma esta��o s�ria em todo o mundo passou o document�rio Loose Change com excep��o da RTP, a julgar pelas refer�ncias no artigo da Wikipedia sobre a divulga��o do "document�rio" conspirativo (*). V�rias se lhe referiram, mas sempre dentro de um contexto infomativo sobre teorias da conspira��o, como por exemplo fez a BBC. Na lista fica apenas a RTP, um canal de cabo australiano e outro paquistan�s. � bom que se perceba, no meio da desinforma��o e dos baixos crit�rios de exig�ncia deontol�gica do canal p�blico, politicamente motivados, por que raz�o h� um problema jornal�stico e editorial na forma como o Loose Change foi tratado. J� agora ser� que a RTP financia um document�rio a mostrar que foram homenzinhos verdes que descobriram o caminho mar�timo para a �ndia? Tenho provas que o governo sempre ocultou...

  • (*)Portuguese public TV Station RTP showed the documentary on the 10 of September, 2006 in prime time hours, and again in RTP2 on September 17th 2006.
  • Australian Pay TV Channel, The History Channel, showed it during prime time hours on September 11 2006.
  • A Pakistani channel, Geo TV, showed Loose Change - dubbed into Urdu - on the fifth aniversary of 9/11.
*
Eu bem sei que a esmagadora maioria daqueles que dizem acreditar em teorias como a exposta no Loose Change est� predisposta, devido aos seus preconceitos e sectarismo, a engolir todo esse tipo de lixo. Mas de qualquer modo deixo aqui um link para um site onde poder�o ver desmascaradas as teorias conspirativas acerca do 11/9:.

Tudo isto me faz lembrar a maior ind�stria de teorias conspirativas do Mundo - a que se ocupa do atentado a John Kennedy, e que foi profusamente servida pelo famigerado filme "JFK", de Oliver Stone. A este prop�sito dizia um saud�vel c�ptico: "a acreditar nas v�rias teorias mirabolantes acerca da morte de Kennedy mais de 500 pessoas estiveram envolvidas na conspira��o, o que faz desta o segredo mais bem guardado do Mundo, pois at� hoje nenhuma delas deu com a l�ngua nos dentes".


(Alexandre Burmester)

*

A tradi��o de se acreditar que o governo, em particular o dos EUA , sonega informa��o, tem tecnologias incr�veis e escondidas em remotos locais como a famosa base 51 guardada por fan�ticos e mais um sem n�mero de disparates � recorrente mas sempre capaz de divertir o mais sisudo.
Carl Sagan num dos seus �ltimos livros escreve longamente sobre este fen�meno, para mim um dos mais fascinantes da ra�a Humana, a capacidade aparentemente infinita para se acreditar em coisas fant�sticas e pouco prov�veis deitando fora todo o sentido cr�tico, aceitando religiosamente todos os factos como verdadeiros e vendo as cr�ticas feitas por pessoas mais c�pticas um disparate de quem n�o se apercebeu da evid�ncia dos factos. No seu livro ele explica como surgiu nos meados do s�culo passado a ideia de que o governo dos EUA �escondia� �coisas�.
Resumindo uma leitura fascinante, pelos vistos os relat�rios dos servi�os secretos, s�o divulgados ao p�blico de x em x anos numa tentativa de tornar o processo mais transparente e desta forma afastar este tipo de ideias conspirativas. No entanto os que cont�m men��es a pessoas vivas ou informa��o confidencial cruzada na altura da divulga��o aparecem cortados a marcador preto nos locais sens�veis, dando um aspecto de censura e de mist�rios t�o estimados aos seguidores da Teoria. Este procedimento aliado � teimosia de n�o divulgar alguns relat�rios sobre o incidente de Roswell, recentemente desclassificados e onde se pode verificar que se tratava de bal�es atmosf�ricos e sondas, transformou a tradicional desconfian�a em rela��o ao estado na suspeita de pr�ticas de actividades ilegais e criminosas com um caracter sinistro e mal�volo, desde a captura e oculta��o de OVNIS e dos seus ocupantes at� esta teoria macabra em que se coloca um n�mero elevado de pessoas em lugares chave do governo a orquestrar a morte de milhares de civis inocentes. Nunca compreendi muito bem qual seria o m�bil do crime, mas de facto h� mist�rios que mais vale nem perceber.
Para acabar de vez com a teoria do atentado ao Pent�gono existe um site que tem tudo bem explicado , desde o motivo do desaparecimento do avi�o at� outras resposta a perguntas dos famosos �c�pticos� da vers�o oficial.

Fica o link para quem tiver curiosidade de descobrir as diferen�as entre uma explica��o bem feita e que estranhamente convence � primeira e uma atabalhoada tentativa de fazer com que a ignor�ncia bata certa com a realidade distorcendo a realidade na medida da ignor�ncia.
Mas toda a gente sabe que s� se percebe � primeira porque o site � financiado pela CIA em liga��o com o ex-KGB e atrav�s da frequ�ncia do monitor envia sinais telep�ticos ficando-se sem sentido cr�tico, a famosa lavagem cerebral mas � dist�ncia. Parece que tem funcionado muito bem por essa net fora....
De notar que o site tamb�m tem uma s�rie de curiosidades sobre outros mitos que v�o sempre aparecendo pela net, um excelente bar�metro da histeria geral.

(RMR)

*

Escrevo este email, motivado essencialmente pelo debate associado ao document�rio "Loose Change" e �s teorias da conspira��o a ele associadas, como uma esp�cie de desabafo a que est� tb associada uma quest�o, que � a seguinte:

"Como � que um ocidental politicamente moderado, com um n�vel de
intelig�ncia razo�vel, forma��o acad�mica de topo, cat�lico, aberto � teoria da evolu��o, admirador dos Estados Unidos, e da sua capacidade de desenvolvimento tecnol�gico, a n�vel universit�rio e empresarial, �mpar em todo o mundo, e igualmente da sua sociedade livre e aberta, que apoiou sem questionar a interven��o no Iraque, e que se encontra numa zona do mundo (China), onde no di�logo do dia-a-dia os argumentos utilizados s�o de n�vel civilizacional, isto � cultura ocidental (Greco-Romana) versus cultura oriental (Chinesa), mas dizia eu, como � que essa pessoa em face de, document�rios como o "Fog of War - Eleven Lessons from the life of Robert S. McNamara", "Fahrenheit 9/11", "Loose Change", ou ent�o de um livro como "20 Grandes Conspira��es da Hist�ria", de Santiago Camacho, pode defender sem d�vidas uma civiliza��o que est� em franca decad�ncia e est� a perder diariamente e de forma acelerada qualquer autoridade moral para se afirmar no di�logo mundial?"

Para al�m de todos os "image&sound-bytes" que circulam pelo planeta � velocidade da luz, esta � que creio ser a quest�o principal. Os argumentos apresentados no "Loose Change", podem ser pouco cient�ficos e nalguns casos at� pouco inteligentes na forma como s�o descritos, mas como � que os mesmos se podem combater, nomeadamente no caso do ataque ao Pent�gono, atrav�s da disponibiliza��o de uma imagem de uma c�mara, que n�o esclarece nada ainda adensa mais as d�vidas que possam existir...

Apresento as minhas desculpas pelo desabafo, mas na realidade s� podemos
ser cred�veis quando conseguimos apresentar provas cient�ficas que
confirmam sem d�vidas aquilo que afirmamos, e neste caso do 11 de Setembro e subsequente guerra ao terrorismo, as perguntas sem resposta s�o tantas e t�o diversificadas, que temo pelo futuro da nossa civiliza��o ocidental...

(Rui Martins)


*


Gostava apenas de partilhar consigo a mensagem abaixo, que recebi no meio de muito lixo da Internet. Repare-se na desinforma��o, nas mentiras, no disparate. Repare-se como tudo se faz passar como se fosse o acordar de algum l�cido que de repente viu a luz em rela��o � verdade (como se de repente tudo "encaixasse"). Repare-se como se fala da RTP e da BBC (!) para confirmar a verdade da coisa. Repare-se ainda como isto circula na Internet, vindo de funcion�rios de empresas, de amigos, de pessoas em quem confiamos. Quem passa o mail nem pensa bem no assunto e muito menos verifica o que quer que seja. � passar e j� est�. Assim se transmite uma estranha falta de discernimento ( i.e., estupidez) disfar�ada de intelig�ncia e lucidez.


(Marco Neves)


---------- Forwarded message ----------
From: xxx
To: xxx
Date: Mon, 18 Sep 2006 12:21:26 +0100
Subject: As mentiras dos americanos - para pensar....

>Ontem a RTP transmitiu uma reportagem feita pela BBC sobre a verdade do
>atentado do 11 de Setembro. Nos v�deos que transmitiram a minha reac��o
>foi de espanto ao reparar em pequenos detalhes que inicialmente nos
>escaparam, nestes v�deos os rep�rteres conseguem provar varias
>situa��es atrav�s das filmagens do atentado que nos deixam a pensar:
>
>- Os avi�es utilizados nos atentados ainda continuam a voar (foram
>utilizados 2 "clones"), num dos filmes v�-se um dos avi�es no aeroporto
>ao meio-dia e meio do dia do atentado, pois tinha aterrado as 10:30
>devido a uma denuncia de atentado a bomba, o filme mostra bem a
>matricula do avi�o, os referidos avi�es continuam no activo e nunca foi
>dado baixa deles na FAA (entidade que controla os voo civis e militares)
>
>- 9 dos supostos terroristas ainda est�o vivos e de boa sa�de pois
>foram contactados pela BBC, mais de metade queixou-se de lhes terem
>roubado os passaportes.
>
>- O filme onde mostra o Bin laden a assumir a autoria do atentado �
>falso, pois o Bin laden � canhoto e no filme aparece a escrever com a
>direita e com um anel de ouro, coisa que o islamismo n�o permite.
>
>- O Bin Laden esteve num Hospital americano 3 dias antes do atentado.
>
>- A explos�o no p�ntagno tinha 5 metros e meio de di�metro antes da
>parede ruir, um 757 tem uma envergadura de asa de 38 metros, e o motor
>de avi�o encontrado nos destro�os da explos�o nunca poderia ser de um
>Boeing, o avi�o � equipado com 2 motores de 6 toneladas cada e nunca
>poderia ter feito uma descida aquela velocidade pois teria se
>despenhado antes, afirma��o feita pela Boeing e Rollys Royce
>(fornecedor de motores para o avi�o em causa), as
>caixas negras nunca foram encontradas o que � in�dito na hist�ria da
>avia��o.
>
>- Existiam 200 mil milh�es de d�lares em barras de ouro por baixo do
>World Trade Center, at� agora ningu�m explicou a sua origem
>
>- Foram descobertas provas por uma empresa alem� de que ficou de
>recuperar o conte�do de alguns discos dos pc's que estavam no WTC onde
>se efectuaram transfer�ncias de valores astron�micos minutos antes do
>atentado.
>
>- O v�deo das torres a ruir mostra uma explos�o controlada nos pisos
>inferiores ao embate do avi�o, segundos depois a torre cai.
>
>- Bombeiros, policias e pessoas que estavam nas torres, ouviram mais
>que uma explos�o em cada torre.
>
>- A teoria do a�o das torres ter cedido � mentira, a temperatura do
>fogo foi de 1600 graus, o a�o das torres tinha certifica��o para
>temperaturas acima dos 2000 graus.
>
>- Todos os especialistas que contaram a verdade dos factos foram
>despedidos dos seus cargos.
>
>E muito mais situa��es, se pretenderem podem ver os v�deos em:
>
> www.loosechange911.com/
>
>Isto d� mesmo que pensar.....................

*

Em v�rias conversas tidas recentemente, apercebi-me que muita gente tomou como boa a informa��o contida no �document�rio� Loose Change. �Se a RTP o passou � porque a coisa � cred�vel� � disseram algumas dessas pessoas.

Sinceramente, penso que j� nem sequer vale a pena insistir em contrariar essas pessoas. Se at� agora ainda n�o perceberam o que est� errado, n�o creio que o venham a perceber.

E o que est� errado s�o os factos. Podemos especular sobre factos conhecidos � o que at� pode ser um exerc�cio interessante. Podemos at� duvidar dos factos que nos s�o apresentados � sobretudo quando as fontes n�o nos oferecem confian�a. N�o podemos � deturpar, manipular, omitir e falsificar factos s� para que estes encaixem nas nossas teorias. Se procedermos assim, ent�o n�o h� nada neste mundo que n�o possa ser provado/desmentido.

O mais grave neste �document�rio� n�o � o ter sido realizado. O mais grave � o ter sido transmitido pela RTP, um �rg�o de informa��o que se diz cred�vel. Tomemos um exemplo nacional. A RTP pode passar um document�rio a dizer que a morte de S� Carneiro foi um atentado. A RTP pode passar um document�rio a dizer que a morte de S� Carneiro foi um acidente. O que a RTP n�o pode fazer � passar um �document�rio� que afirme que n�o foram encontrados corpos em Camarate, que afinal S� Carneiro est� vivo, e que tudo n�o passou de uma manobra de divers�o para que ele pudesse fugir para as Maldivas com Snu Abecassis. Quem n�o consegue distinguir uma coisa da outra n�o merece ostentar uma carteira de jornalista, nem ter quaisquer responsabilidades na programa��o de uma televis�o paga por todos n�s para (alegadamente) prestar um servi�o p�blico.

J� agora: passou h� dias na SIC Not�cias um document�rio sobre o primeiro homem a conseguir engravidar. Passaram entrevistas do pr�prio e de amigos. Passaram declara��es do m�dico que lhe implantou um �tero. Mostraram fotografias do procedimento cir�rgico e creio que at� de uma ecografia. Houve mesmo um jornal que chegou a noticiar o caso. A coisa estava bem feita, e muitos teriam acreditado na hist�ria se, ao fim de largos minutos, os autores do document�rio n�o tivessem confessado o embuste. Aqui, como no Loose Change, a informa��o foi propositadamente manipulada para induzir em erro os espectadores. S� que aqui, ao contr�rio do Loose Change, os autores fizeram-no para alertar os espectadores contra charlat�es. Uma coisa � a d�vida leg�tima, outra � a crendice cega. Uma ajuda ao desenvolvimento da sociedade, a outra empurra-a para a idade das trevas.

(Carlos Carvalho)

*

Acompanha tanto a actividade da NASA que suponho que estar� a par de que ... � tudo mentira. A come�ar pela ida � Lua. Evid�ncia aqui e aqui (este ainda n�o li todo, mas parece-me que nos ilumina tamb�m de sabedoria) ou ent�o aqui (este � maravilhoso, pois segundo percebi, os Russos nunca mentiram, nem falharam, as naves deles atingiram sempre o seu destino, embora saibamos hoje que esconderam todos os seus fracassos. Os americanos pelo contr�rio, pelos vistos, inventaram todos os seus sucessos). Raz�o tinha o meu av� que n�o acreditava naquilo.
Portanto, cuidado, aquelas fotografias de Marte e Saturno que nos anda a mostrar no Abrupto, tamb�m devem ser do deserto do Nevada ou vis�o de algum artista Nova Vaga.

(M�rio Almeida )

PS: Vou mandar os nomes dos sites para a RTP. Talvez esta revela��o chocante seja noticia de abertura do Telejornal �s 20:00.

PS2: Aqui , pelos vistos temos a verdade sobre tudo. Uma verdadeira B�blia. Extraordin�rio.

*

Reformulo palavras suas: �J� agora ser� que a RTP financia um document�rio a mostrar que havia armas de destrui��o maci�a que justificaram um atoleiro? Tenho provas que o governo sempre ocultou...�

Julgo que nesta quest�o um pouco mais de bom senso valeria a pena [a Wikipedia, que pode ser administrada e "actualizada" por qualquer um, agora j� n�o levanta eventuais reservas ideol�gicas sobre os factos que apresenta?, isto apenas para recordar uma discuss�o antiga que, se n�o me falha a mem�ria, tamb�m por aqui passou]. N�o sou nenhum mentecapto que n�o saiba "ler" para al�m do document�rio. Mas tamb�m sei seguir outros links do artigo da Wikipedia que ajudam a compor outro retrato: os �rg�os de comunica��o social que falaram do document�rio (e que n�o o podem "publicar") incluem a Time, a Vanity Fair ou a Salon. E outras televis�es, como a ABC [que disponibiliza mesmo no seu site um link para o filme!], comentaram o filme (com excertos e dando voz ao realizador)
Nisto tudo, estou com Bruno Sena Martins : �Sem avalia��es insultuosas � capacidade intelectual de quem quer que seja , vale lembrar que o negacionismo e o voluntarismo inconsequente se irmanam na hist�ria da barb�rie.�

(Miguel Marujo)
 


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: VIT�RIA!

http://marsrovers.jpl.nasa.gov/gallery/press/opportunity/20060927b/site_B76_264_navcam_CYL_L-B952R1_br.jpg

As primeiras imagens da cratera Victoria, a que chegou a "Oportunidade", quase mil sols depois de estar em Marte. Velha "Oportunidade" que j� devia estar morta h� muito tempo e continua a ver por n�s, devagar, devagarinho, mas a passo muito seguro. Vamos agora ter a festa cient�fica e a t�o importante "propaganda" que, a cada fotografia destas, aumenta a curiosidade criadora do p�blico e "faz" novos cientistas entre os jovens.
 


EARLY MORNING BLOGS

876 - A bookworm

The image �http://www.bodley.ox.ac.uk/dept/preservation/training/pests/damage.jpg� cannot be displayed, because it contains errors.

A moth devoured words. When I heard of that wonder
It struck me as a strange event
That a worm should swallow the song of some man.
A thief gorge in the darkness on a great man's
Speech of distinction. But the thievish stranger
Was not a whit the wiser for swallowing words.

And the answer: A Bookworm.

(Kevin Crossley-Holland , a partir do Old English of The Exeter Book, musicado por Arthur Bliss com o subt�tulo de "Hommage modeste � Maurice Ravel")

*

Bom dia!

27.9.06
 


INTEND�NCIA

Por iniciativa do IND�STRIAS CULTURAIS foram colocados em linha dois fragmentos em video da interven��o feita no Instituto Cervantes ( aqui e aqui no YouTube) parcialmente transcrita em O PASSADO � UM PA�S ESTRANGEIRO.

Actualizadas as notas COISAS DA S�BADO: BATALHAS DE RETAGUARDA - OS BELGAS E O GOOGLE e RETRATOS DE TRABALHO EM SINTRA, PORTUGAL.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM TROYAN, BULG�RIA



(S�lvia Mota)
 


O PASSADO � UM PA�S ESTRANGEIRO

(Fragmento do texto O Passado � um Pa�s Estrangeiro - Mem�ria pessoal da Guerra Civil Espanhola nos anos sessenta, lido na sess�o de encerramento, no Instituto Cervantes, do Simp�sio "Guerra Civil de Espanha: cruzando fronteiras 70 anos depois" organizado pelo Instituto em conjunto com a Faculdade de Ci�ncias Humanas da Universidade Cat�lica Portuguesa.)

[NOTA: por iniciativa do IND�STRIAS CULTURAIS foram colocados em linha dois excertos em video da interven��o, aqui e aqui no YouTube.]


(...)

Na sua biografia de Ronald Reagan, Edmund Morris escandalizou a comunidade de historiadores americanos ao se colocar ele pr�prio ficcionalmente a testemunhar eventos da vida do seu biografado. Morris, cuja biografia de Theodore Roosevelt ganhara um Pr�mio Pulitzer e um American Book Award, era considerado um s�lido praticante da hist�ria, com m�todos tradicionais, que fora escolhido para bi�grafo oficial de Reagan. Ap�s uma longa expectativa, visto que Morris se atrasou muito na entrega do original, a sua obra Dutch. A Memory of Ronald Reagan usava esse device pol�mico que, n�o afectando o rigor das fontes e dos eventos, perturbava a dist�ncia que ia da narrativa, do sujeito da narrativa, ao autor da narrativa. No seu intr�ito, numa biografia excepcionalmente bem escrita do ponto de vista liter�rio, Morris falava do impulso do bi�grafo para o biografado, do autor para o tema, nestes termos:
�Memory. Desire. (�) Before we recede to our respective darkness, I must allow these floating fragments, these dusting of myself to sparkle in his waning light�
O primeiro cap�tulo abre logo no mesmo tom no seu t�tulo: �The Land of Lost Things�, uma varia��o do in�cio do livro de L. P. Hartley The Go-Between, �The past is a foreign country; they do things differently there.

They do things differently there.�. Yes, they do. O t�tulo deste simp�sio � �Cruzando fronteiras: 70 Anos Depois�. Que �fronteiras�? As da geografia entre a Espanha em guerra e Portugal quase em paz? Ou as mais dif�ceis fronteiras do tempo, perturbado por quase dois ter�os de um s�culo de diferen�a?

As do tempo, claro, as mais dif�ceis de atravessar. Como � que eu as atravessei? Como � que na minha gera��o, gera��o - palavra que n�o quer dizer mais do que homens presos no tempo, feitos pelo tempo, - atravessamos essa fronteira da guerra espanhola, ainda t�o viva, ainda mais viva do que est� hoje, a caminho de morrer fora de Espanha e a caminho de viver em Espanha s� pelas met�foras cru�is do �destino manifesto�?

Se cada gera��o constr�i a sua mem�ria da hist�ria, como � que essa mem�ria pode ser �limpa� da hist�ria que a est� de novo a recriar? E isso � particularmente verdadeiro, quando se trata de gera��es que vivem em tempos densos e fortes. E a minha gera��o teve a sorte ou o azar (para os outros) de ter vivido os �tempos interessantes� prometidos pela maldi��o chinesa. �Que vivas tempos interessantes� , pois vivemos tempos interessantes e at� agora tivemos sorte em viv�-los do lado dos vitoriosos. N�o sei se ser� sempre assim, porque os �tempos interessantes� ainda est�o longe de acabar.

No meio do caminho da minha vida, a revolu��o do 25 de Abril e, quinze anos depois, a queda do Muro de Berlim e o fim da URSS e da �guerra fria�, � dose de �tempos interessantes� demais para que n�o paguemos, mais cedo ou mais tarde, a sua factura. De um modo perverso, � o que est� a acontecer. Ora, se a mem�ria da guerra civil espanhola estava viva dentro do caminho e da realidade do 25 de Abril, j� o n�o estava da mesma maneira quando da queda do Muro. Sem a �guerra fria�, ou se se quiser, com o fim da longa guerra civil mundial que atravessou o s�culo XX, desde 1917 at� 1989, a mem�ria da guerra espanhola mudou completamente. � hoje mais perplexa do que foi alguma vez no passado e o revisionismo dos historiadores mais jovens, tornando-a aggiornata, retirando-lhe a densidade dram�tica de uma escolha imposs�vel de se repetir, de se fazer com a clareza do passado. Ser� que na guerra de Espanha n�o h� �lado bom� nem �lado mau�, um pouco como na guerra entre o Ir�o e o Iraque em que se desejava que ambos os lados perdessem, como se isso fosse poss�vel? Ou ser� que ao se fazer esta pergunta, se est� no fundo a justificar Franco, igualando tudo, num relativismo de am�lgama, que deixa para tr�s os dilemas dos que a viveram? Ser� que os dilemas de 1936, n�o s�o poss�veis de formular do ponto de vista moral, ou se se quiser, apenas do ponto de vista das �li��es� da hist�ria, ou seja, da pol�tica? Ser� que a hist�ria cuida de dar �li��es�? Os historiadores dizem que n�o na primeira frase, mas acreditam que sim na segunda, sen�o n�o escreviam sobre hist�ria, mas sim sobre a mec�nica dos fluidos.

N�o restam d�vidas de que para a minha gera��o portuguesa, formada nos anos da d�cada de sessenta, � volta da data simb�lica do Maio de 68, cresceu a perplexidade sobre o que aconteceu em Espanha, dissolvendo-se a necessidade aguda da mem�ria da guerra entre o 25 de Abril e a queda do Muro. Porqu�? Por que � que antes nos lembr�vamos, ou melhor, por que � que antes n�o quer�amos esquecer, e hoje nos esquecemos t�o naturalmente? N�o � muito f�cil responder, mesmo quando percebemos quanto era m�tica a nossa lembran�a espanhola, porque ela nos incomoda no presente, quando j� n�o acreditamos em nenhum dos mitos que alimentamos no passado. �The past is a foreign country�.

(...)
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

�TOMOS E BITS

de 27 de Setembro de 2006

Como se faz manipula��o de uma not�cia: telejornal da hora do almo�o da RTP, noticia-se a decis�o de Bush de divulgar o relat�rio dos servi�os secretos que tem vindo a ser "soprado" para os jornais em fragmentos selectivos cuidadosamente escolhidos. Sem nos dizer uma linha sobre o que est� no relat�rio, sem dar a interven��o de Bush a n�o ser truncada, passa-se uma longa interven��o, essa sim com princ�pio, meio e fim, de um cr�tico de Bush. N�o me lembro de ver jornalistas a criticar a divulga��o integral de um documento, quando normalmente o que faziam era exigi-la. Mas agora vale tudo.

O documento desclassificado est� aqui. Cada um julgue por si, que � uma liberdade que o proselitismo de alguma comunica��o social n�o nos quer dar.
 


EARLY MORNING BLOGS

875 - Guerra de Civiliza��es

A crusader�s wife slipped from the garrison
And had an affair with a Saracen;
She was not over-sexed,
Or jealous, or vexed,
She just wanted to make a comparison.

(Ogden Nash)

*

Bom dia!

26.9.06
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

�TOMOS E BITS

de 26 de Setembro de 2006


Saber que � preciso para se acreditar em teorias da conspira��o (obrigado ao Jos� Carlos Santos).
 


RETRATOS DO TRABALHO EM PORT-LOUIS, MAUR�CIAS



Um artes�o a esculpir est�tuas de madeira, uma das principais fontes de receita da ilha.

(Ant�nio e Cristina Marques)
 


EARLY MORNING BLOGS

874 - An Old Person from Gretna

There was an Old Person from Gretna,
Who rushed down the crater of Etna;
When they said, 'Is it hot?'
He replied, 'No, it's not!'
That mendacious Old Person of Gretna.

(Edward Lear)

*

Bom dia!

25.9.06
 


INTEND�NCIA

Actualizada a nota COMPROMISSOS.
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

�TOMOS E BITS

de 25 de Setembro de 2006


Duas breves quest�es/provoca��es: uma vez que se afirma tanto que Espanha vive de costas voltadas para Portugal, como explicar que, apesar de ser leitor/espectador bastante atento, nunca tenha encontrado mat�ria muito relevante (nos m�dia portugueses) acerca das "teorias da conspira��o" que em Espanha se v�o debatendo em torno dos atentados de 11 de Mar�o? (Not�cias do El Mundo sobre o 11 de Mar�o.) Afinal, quem vive voltado de costas para quem? (...) E n�o ser� algo duplo o crit�rio que nos faz atentar apenas nos eventuais contornos cinzentos do 11 de Setembro?

(Ant�nio Delicado)

*

Pr�mio para t�tulo sem p�s nem cabe�a: "Vida poder� n�o ser melhor em 2020 mesmo com expans�o da Internet".

[NOTA: o t�tulo foi entretanto mudado para um muito mais sensato "Expans�o da Internet n�o estar� associada � melhoria da qualidade de vida".]
 


COISAS DA S�BADO: BATALHAS DE RETAGUARDA - OS BELGAS E O GOOGLE
Google

Um Tribunal belga proibiu o Google de incluir t�tulos de jornais belgas no motor de busca, a pedido de uma associa��o da imprensa local. Existe de facto um problema crescente de direitos de autor em linha e o Google revela-o e agrava-o. Tudo o que est� a mudar com a crescente passagem do mundo dos �tomos para o dos bits, vai tornar obsoleta toda a armadura jur�dica que hoje defende a posse da propriedade intelectual. S� que n�o me parece que seja esta a melhor maneira de se defrontar estas quest�es e o efeito � pura e simplesmente excluir os jornais belgas do mundo global da informa��o.

� mais uma batalha de retaguarda como as que a UE trava contra a Microsoft, os franceses contra o ITunes (e o iPod) e a digitaliza��o de bibliotecas pelo Google. O mais pat�tico exemplo � a legisla��o francesa que obriga � utiliza��o de termos t�cnicos universais, usados comummente em ingl�s, em franc�s. J� alguma vez procuraram no Google por um �logiciel� ou por um �ordinateur�?

*
Os franceses usam ainda o "octet" (em vez de "byte") e outras curiosidades semelhantes; mas a mais saborosa de todas talvez seja o "couriel" (em vez de "e-mail"), que vem de "courier �lectronique"...

(C. Medina Ribeiro)

*

Aproveito o seu post para lhe contar que a biblioteca da Universidade Complutense de Madrid (a segunda maior de Espanha depois da Nacional) vai estar dispon�vel online gra�as ao acordo a que chegou com o Google. A not�cia pode ser lida aqui.

Em rela�ao ao termos t�cnicos sou completamente contra que seja o governo a obrigar este ou aquele termo mas al�m disso nao vejo qual � o problema. Quantas vezes procurei �ordenador�. O famoso Octet tamb�m � utilizado em Ingl�s como sendo 8 bits (octeto em Espa�ol). Nao esquecer que �s vezes 1 byte nao sao 8 bits.
J� agora, espero que leia este �correo�.

(F. Bret)
 


COISAS DA S�BADO: VIOLA��O DA VIDA PRIVADA VAI DE VENTO EM POPA


Who cares? Ningu�m, a n�o ser aqueles que ainda prezam a sua privacidade e n�o sabem como defend�-la. Mais: a quem � negada a possibilidade de a defender, violando assim o direito que deveria ser concedido a cada um de viver como entende desde que tal n�o afecte os outros. Muito rapidamente a privacidade como direito vai desaparecendo e no caminho vai-se tamb�m degradando a intimidade, que tombar� a seguir.

Este caminho de deteriora��o da qualidade de vida, que nenhuma lei hoje protege com efic�cia, tem tr�s motores: o voyeurismo crescente das massas que acrescentam aos seus consumos televisivos o da �vida real� dos outros; uma fauna de intermedi�rios, jornalistas, fot�grafos, �cidad�os-jornalistas� que �s escondidas ou �s claras, de m�quina fotogr�fica ou telem�vel, tornam o espa�o p�blico e mesmo alguns espa�os que deveriam ser privados numa selva de olhares indiscretos, e por fim, o exibicionismo de alguns not�veis da pele, da roupa, do �estar�, que vivem desse pavoneio e abrem caminho a um ambiente de promiscuidade que depois, naturalmente, se cansa deles e vai para o fruto proibido dos que n�o se exibem. Who cares?
 


RETRATOS DO TRABALHO NA R�GUA, PORTUGAL



Tanoeiros numa adega na R�gua, reapertando os aros de um pipo.

(Gil Regueiro)
 


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873 - bababadalgharaghtakamminarronnkonnbronntonnerronn
tuonnthunntrovarrhounawnskawntoohoohoordenenthurnuk!

riverrun, past Eve and Adam's, from swerve of shore to bend of bay, brings us by a commodius vicus of recirculation back to Howth Castle and Environs. Sir Tristram, violer d'amores, fr'over the short sea, had passen- core rearrived from North Armorica on this side the scraggy isthmus of Europe Minor to wielderfight his penisolate war: nor had topsawyer's rocks by the stream Oconee exaggerated themselse to Laurens County's gorgios while they went doublin their mumper all the time: nor avoice from afire bellowsed mishe mishe to tauftauf thuartpeatrick not yet, though venissoon after, had a kidscad buttended a bland old isaac: not yet, though all's fair in vanessy, were sosie sesthers wroth with twone nathandjoe. Rot a peck of pa's malt had Jhem or Shen brewed by arclight and rory end to the regginbrow was to be seen ringsome on the aquaface. The fall
(bababadalgharaghtakamminarronnkonnbronntonner-

ronntuonnthunntrovarrhounawnskawntoohoohoordenenthurnuk!) of a once wallstrait oldparr is retaled early in bed and later on life down through all christian minstrelsy. The great fall of the offwall entailed at such short notice the pftjschute of Finnegan, erse solid man, that the humptyhillhead of humself prumptly sends an unquiring one well to the west in quest of his tumptytumtoes: and their upturnpikepointandplace is at the knock out in the park where oranges have been laid to rust upon the green since devlinsfirst loved livvy.

(James Joyce, Finnegans Wake)

*

Bom dia!

24.9.06
 


RETRATOS DE TRABALHO EM SINTRA, PORTUGAL



Cesariana a uma vaca em p� onde se v� ainda a m�o do vitelo a querer sair pelo s�tio normal...

(Ant�nio Castanheira)

*
Atendendo � normal fisionomia de um(a) vitelo(a) e ao elevado n�mero de nascimentos/cesarianas a que j� assisti, permita que lhe diga que n�o se trata de � a m�o do vitelo a querer sair pelo s�tio normal...�. Trata-se de n�o um mas dois....S�o, ou eram, g�meos. Um, acaba se ser �rescatado�, encontrando-se o outro ainda no �s�tio normal...�

Enfim, talvez mais um �Saber que � preciso para se acreditar em teorias da conspira��o.�

(Nelson Muga)
 


EARLY MORNING BLOGS

872 - Lights

When we come home at night and close the door,
Standing together in the shadowy room,
Safe in our own love and the gentle gloom,
Glad of familiar wall and chair and floor,

Glad to leave far below the clanging city;
Looking far downward to the glaring street
Gaudy with light, yet tired with many feet,
In both of us wells up a wordless pity;

Men have tried hard to put away the dark;
A million lighted windows brilliantly
Inlay with squares of gold the winter night,
But to us standing here there comes the stark
Sense of the lives behind each yellow light,
And not one wholly joyous, proud, or free.

(Sara Teasdale)

*

Bom dia!

23.9.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM LISBOA, PORTUGAL



Rodagem de um filme, ou novela, ou s�rie, em Lisboa.

(Andr� S�)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: TEORIAS DA CONSPIRA��O

http://www.dhs.alabama.gov/TAP/twin%20towers%20w.%20plane%20aimed.jpgTenho seguido fascinado as diversas teorias (da conspira��o e n�o s�) relacionadas com o 11 de Setembro. Fizeram-me pensar nas frases que abrem um livro muito interesante (e dif�cil de obter): �A budget of paradoxes�, de Augustus de Morgan (1806-1871). A tradu��o � minha.
�Se tivesse diante de mim uma mosca e um elefante, jamais tendo observado outra entidade com qualquer dos dois tamanhos, e se a mosca se dedicasse a convencer-me que era de facto maior do que o elefante, eu talvez me visse numa posi��o dif�cil. A criatura aparentemente pequena poderia usar argumentos relativos ao efeito da dist�ncia bem como apelar a leis relativas � vis�o e � audi��o que eu, caso n�o fosse conhecedor desses assuntos, poderia ser incapaz de rejeitar. Mas se houvesse mil moscas, todas a zumbir, tanto quanto me podia aperceber, em torno do grande animal, se cada mosca afirmasse por conta pr�pria ser maior que o quadr�pede, se todas avan�assem argumentos distintos e frequentemente contradit�rios e se cada uma desprezasse e se opusesse �s raz�es das restantes - ent�o poderia ficar descansado. Certamente diria: Minhas amiguinhas, a argumenta��o de cada uma de v�s � destru�da pelas das restantes.�

Com efeito, o que � que se pode pensar do entusiasmo que cada nova explica��o suscita, quando elas se contradizem entre si? Consideremos, por exemplo, a reac��o de George W. Bush no pr�prio dia dos atentados. As pessoas que viram as imagens do presidente americano filmadas nesse dia numa escola (que se podem ver, por exemplo, no document�rio Fahrenheit 9/11, de Michael Moore) manifestam-se geralmente impressionadas com a impress�o que ele transmitiu nessa altura de ser uma pessoa totalmente ultrapassada pelos acontecimentos. Mas ao mesmo tempo � bastante popular a teoria de que os atentados foram perpetrados pelo pr�prio governo americano! Ou seja, o homem � simultaneamente o orquestrador do golpe e fica claramente sem saber o que fazer quando este ocorre! Outra contradi��o que me impressiona neste assunto consiste em constatar que muitas pessoas defendem que o governo americano negoceie com a Al-Qaeda e defendem ao mesmo tempo que foi esse mesmo governo que levou a cabo os atentados. Mas ent�o, se a Al-Qaeda trabalha para o governo americano, o que � que pretendem? Que aquele governo negocieie consigo pr�prio?

(Jos� Carlos Santos)

*
Fico sempre espantado quando as pessoas tentam refutar com argumentos �s�rios� propostas que s�o de mera fic��o. Esta quest�o dos atentados de 11/9 faz-me lembrar a seriedade com que se argumentou contra o C�digo da Vinci. Como conclu�a o filme Wargames �a melhor maneira de ganhar certos jogos � n�o jogar� ou ainda parafraseando Marx (Groucho claro) �nunca faria parte de um clube que me aceitasse como s�cio�.

(Fernando Fraz�o)
 


EARLY MORNING BLOGS

871 - .... an Old Man of the West

There was an Old Man of the West,
Who never could get any rest;
So they set him to spin
On his nose and chin,
Which cured that Old Man of the West.

(Edward Lear)

*

Bom dia!

22.9.06
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

�TOMOS E BITS

de 22 de Setembro de 2006


Toler�ncia sem toler�ncia.

*

Guerra de civiliza��es: a estranheza do Dubai .
 


COISAS DA S�BADO: VIDA DE ARIST�TELES


A biografia de um fil�sofo muito antigo � dif�cil de fazer, por c�lebre que seja como � o caso de Arist�teles. N�o h� assim tantos testemunhos fidedignos da sua biografia, que ela se possa descrever com correnteza, sem hiatos, sem d�vidas, muitas vezes sem se saber quase nada ou com testemunhos contradit�rios. Era alto, ou baixo? Era corpulento ou magro? Gaguejava? Parece que sim. Dedicava-se ou n�o aos �prazeres l�bricos� com outros homens? Como � que escreveu a sua obra? O que � que efectivamente escreveu? O que � que sobrou do que escreveu? Como � que foi lido na �poca o que escreveu, etc., etc. A biografia de Arist�teles, de Ant�nio Pedro Mesquita, rec�m publicada pelas Edi��es S�labo, n�o � um livro para ser popular, mas � um livro para os homens que desejem ser cultos, comummente cultos. O que nela se aprende n�o � apenas sobre Arist�teles, mas tamb�m sobre a f�brica de uma biografia antiga, as fontes, os textos, os boatos, os fragmentos, as querelas de autoria e de identifica��o, as vers�es pr�ximas ou long�nquas ao original. Este aspecto, sem desmerecer a qualidade da pr�pria biografia, ensina-nos muito sobre como se investiga a partir de uma realidade que os anos fragmentaram, dispersaram e corromperam, e isso diz-nos muito sobre o que o tempo e a hist�ria fazem a uma obra e � mem�ria de um homem.
 


RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL



Trabalho no Porto: terminado o servi�o de reanima��o de um cidad�o, por uma equipa do INEM, na noite passada.

(Gil Coelho)
 


COMPROMISSOS

The image �http://dn.sapo.pt/2006/09/22/024330.jpg� cannot be displayed, because it contains errors.

H� casos em que a distin��o entre �sociedade civil� e mundo pol�tico � perversa e enganadora. Um deles, evidente como um enorme reclame de n�on, � o do Compromisso Portugal. A iniciativa � pol�tica at� ao tutano, traduzindo a politiza��o do nosso mundo de gestores (e em menor grau de empres�rios, menos representados na reuni�o), mas afirma parar � porta da pol�tica, quer-se dizer da pol�tica partid�ria, mecanismo pelo qual nas democracias se conseguem os votos para governar.

O resultado � uma sensa��o de grande irrealidade. As propostas n�o s�o novas, mas isso seria apenas uma quest�o medi�tica que em nada invalidava a sua oportunidade. A quest�o � outra: � que, sabendo-se o que se deseja, nenhuma resposta � dada � quest�o de como realiz�-lo, de como chegar l�. Que for�as sociais podem ser mobilizadas, como se traduzem esses movimentos em votos, como se organizam e expressam politicamente para terem efic�cia em democracia? Sim, porque em democracia o lobiismo de movimentos proto-pol�ticos que n�o tem express�o partid�ria, nem vai �s urnas, � apenas e s� lobiismo. E o lobiismo, o mexer das influ�ncias, quando feito em p�blico, sem sequ�ncia, nem consequ�ncia, fica mais fraco pela repeti��o. De cada vez que se repete a mesma coisa, sem acrescentar meios nem apontar instrumentos, a sensa��o de impot�ncia cresce.

Eu tamb�m penso que h� excesso de hegemoniza��o da vida pol�tica pelos partidos e que � bom que haja outros parceiros activos na vida p�blica. Mas, a n�o ser que se queira apenas ser lobiista (e � isso o que muitos destes gestores sabem fazer bem nos meandros do poder, logo convencem-se que isso pode ser transposto para os eleitores) seria melhor usar os recursos dispon�veis para intervir na sociedade civil para formar opini�o. Formar opini�o: invistam em think tanks, em estudos s�rios, em jornais e revistas, em confer�ncias, em ensino de excel�ncia n�o apenas para as empresas mas para a actividade c�vica, apoiem iniciativas modelo que mostrem a efic�cia das propostas, etc, etc. Apoiem os pol�ticos e os partidos que melhor pensam poder expressar essas propostas. �s claras, para se saber. Sem receios. Ou ent�o fa�am um partido pol�tico e concorram �s elei��es, uma solu��o que daria uma grande legitimidade ao movimento e acabaria com algumas ambiguidades sobre as naturais ambi��es de alguns dos seus proponentes. E acima de tudo d�em o exemplo, a melhor das propagandas.

� um trabalho moroso e que s� d� frutos a prazo, mas o �nico que pode ser eficaz. � que reunirem-se em fileiras cerradas, direitos e compostos, numa imagem sem qualquer modernidade e apelo, como qualquer especialista de marketing vos poder� dizer, com os jornais a divulgarem promessas com a mesma consist�ncia das promessas eleitorais dos pol�ticos, d� a pior das imagens e serve mal muitas das propostas com as quais concordo. S� que o mundo dos portugueses n�o tem a ordem ass�ptica das cadeiras do Beato e esse � que � o problema que o Compromisso Portugal n�o quer pensar, ou n�o sabe pensar, ou n�o pode pensar.

*
Escrevo-lhe a prop�sito da sua posta acerca do Compromisso Portugal. � ineg�vel que a coisa tem defeitos e que as pessoas que o promovem e que nele participam possuem interesses econ�micos e pol�ticos pass�veis de serem afectados pelas propostas que fazem. Ou seja, h� conflitos de interesses. S� que, conflitos de interesses temos todos na vida, e n�o me parece que isso seja motivo para n�o se opinar sobre determinado assunto. Julgo que as propostas do Compromisso Portugal devem ser discutidas pela proposta em si, e afastando-nos de quem as prop�e, como em qualquer discuss�o de ideias que se quer civilizada.

Em segundo lugar, a exprss�o de ideias pol�ticas n�o deve estar subordinada exclusivamente � l�gica partid�ria, e � muito bom que outras for�as se organizem e proponham ideias - novas, velhas, recicladas, isso � com quem as prop�e. Depois, que entender, pode criticar, defender ou ignorar. Parece-me at� muito saud�vel que gestores e empres�rios, sempre conotados com conspira��es e jogos de bastidores venham a p�blico dizer o que pensam e que ideias t�m para o pa�s - � mais claro e s�rio.

Se as propostas est�o incompletas, se n�o se explica como se chega l�, se s�o irrealistas, isso sim j� me parece uma discuss�o v�lida, desde que baseada nos documentos produzidos e nas declara��es feitas pelos promotores e participantes, e n�o no habitualmente indigente coment�rio jornal�stico. Pessoalmente, do que pude ler e ouvir, pareceu-me que havia umas propostas com mais consist�ncia que outras, pelo que a cr�tica gen�rica �s propostas me parece simplista.

Depois, na minha opini�o, a grande virtude de uma democracia liberal � que cada um possa dar a sua opini�o ou contribuir com as suas ideias sem que tenha obrigatoramente que arregimentar tropas e ir a votos. Se assim fosse, toda a opini�o publicada ou p�blica s� seria sempre leg�tima se efectuada pela classe pol�tica, a �nica com a responsabilidade de ir a votos e de implementar as ideias, o que tornaria o debate francamente mais pobre. Nem todas as pessoas com ideias s�o pol�ticos de profiss�o ou voca��o, e cada ideia deve ser julgada per si, e n�o por quem a tem. Ou ent�o j� estamos noutro campo de discuss�o, mais pr�prio da luta pol�tica que do debate p�blico de ideias.

Depois, julgo que a cr�tica de que estes empres�rios e gestores andam sempre em manobras obscuras a influenciar o poder pol�tico � parcialmente injusta. Num pa�s como o nosso, em que o peso do Estado na economia (e na vida dos cidad�os) � asfixiante, � obrigat�rio que haja tentativas de influ�ncia por parte das empresas junto do poder pol�tico. Claro que aqueles senhores do Compromisso Portugal n�o s�o uns anjinhos bem intencionados, coitadinhos que n�o querem nada para eles, s� para o pa�s. E claro que � errado que haja jogos de bastidores e eles sejam mestres nisso, mas o que me parece � que n�o s�o os �nicos culpados e que muitas vezes quem mais os critica � quem mant�m as coisas como est�o (e esta n�o � uma indirecta para si).

(Nuno Sousa)
 


O QUE � QUE NO DISCURSO DO PAPA INTERPELA O ISL�O?

Assistimos, hoje, � forma��o de um mecanismo de censura pr�via que se acciona sempre que se falar, seja qual for o modo de se falar, do isl�o, de Maom�, do Alcor�o. Agora foi o Papa, por ser o Papa e por ser o s�mbolo do mundo "dos cruzados". N�s estamos sempre a minimizar a dimens�o religiosa do conflito, mas n�o somos correspondidos pelos mu�ulmanos fundamentalistas. Para eles, n�s, mesmo que sejamos ateus, agn�sticos, indiferentes, n�o praticantes, ou exactamente por isso, somos "crist�os" em guerra santa. Que melhor imagem para personificar os "cruzados" do que a do Papa, queimado em ef�gie numa capital �rabe como se fosse um cavaleiro templ�rio, com a cruz de Cristo das armaduras sobre as vestes brancas? Muita hist�ria, demasiada hist�ria.

Na sua confer�ncia acad�mica de Ratisbona, o Papa sabia exactamente o que queria dizer, mas ningu�m pode hoje saber como vai ser ouvido. O ru�do �, pela sua natureza, imposs�vel de prever, ca�tico, e nem um Papa tem a omnisci�ncia dos caminhos do acaso. S� se ficar calado. Basta ler e perceber a integralidade do texto para ser claro que nada na sua subst�ncia faria prever que suscitaria as reac��es que teve. A n�o ser que se aceite que a mera men��o do nome de Maom� por um crist�o seja uma blasf�mia. Corrijo: Maom� (s.a.w.), ou seja Maom� sallallahu alaihi wa sallam, que "Al� derrame a sua b�n��o e paz sobre ele" (Maom�), n�o v� o diabo tec�-las se eu n�o usar a f�rmula can�nica.


Quando digo que o Papa sabia exactamente o que queria dizer � porque o texto da confer�ncia de Ratisbona � preciso, anal�tico e intelectualmente rigoroso. Diz sem ambiguidades o que quer dizer. Oferece poucas dificuldades de interpreta��o, a n�o ser pela sua densidade e compreende-se que, por n�o ser nem uma prelec��o com meia d�zia de anedotas e frases assassinas, nem um discurso feito por qualquer especialista de marketing ou de "comunica��o pol�tica", possa oferecer dificuldades de leitura nas redac��es, que, para o entender, salvo as devidas excep��es, o reduziram a um soundbite.

Toda a pol�mica gira � volta da frase de Manuel II Pale�logo, imperador de Biz�ncio, que diz a um seu interlocutor mu�ulmano: "Mostra-me o que Maom� trouxe de novo e encontrar�s coisas m�s e desumanas, como o direito de defender pela espada a f� que pregava." Esta � a frase que ficou como soundbite. Admitindo que tudo ficava por aqui, e poder-se-ia dizer que tal frase era redutora do isl�o e, acima de tudo, ocultava que tamb�m para os crist�os "o direito de defender pela espada a f�" foi durante muito tempo a pr�tica habitual. O Papa estaria a pecar por omiss�o e duplicidade e por isso mereceria as cr�ticas.

Mesmo que fosse assim, o Papa n�o deixaria de estar a dizer uma verdade sobre o isl�o ou sectores muito importantes e populares do isl�o que o tornaram nos dias de hoje a principal religi�o da espada. E depois? N�o �? Que organiza��es extremistas praticam hoje o terrorismo global em nome da religi�o a n�o ser grupos que se reivindicam do isl�o? Se quisermos comparar com o que acontece do outro lado do mundo, pouco mais temos que uns grup�sculos americanos que colocam bombas nas cl�nicas que fazem abortos em nome do "direito � vida". � verdade que muitos mu�ulmanos nada tem que ver com a Al-Qaeda ou com as proclama��es incendi�rias dos cl�rigos xiitas, mas � maior o seu isolamento e, de longe, mais d�bil a sua voz, quando conseguem com grande coragem efectivamente distanciar-se. Os terroristas da Al-Qaeda est�o hoje mais perto da identidade mu�ulmana do que os grupos violentos antiabortistas est�o da identidade crist�. Esta � a verdade que se esperava que os mu�ulmanos dissessem todos os dias ao mundo, para se poder afirmar que existem "moderados", classifica��o cheia de ambiguidades e mais condenat�ria da situa��o actual do isl�o do que qualquer outra. O isl�o deixou-se sitiar pelos seus extremistas, e tal pode n�o ser definitivo, pode ser uma pervers�o da religi�o, mas � bastante grave.

Voltemos ao texto do Papa para al�m do soundbite. A confer�ncia do Papa � um dos textos mais tolerantes que algum Papa fez at� hoje, e talvez tenha sido por isso mesmo que foi atacada. Eu penso que h� de facto raz�es para os fundamentalistas mu�ulmanos atacarem com viol�ncia o documento, exactamente pela sua subst�ncia e n�o pela cita��o fora do contexto. A frase que devia verdadeiramente irritar os fundamentalistas mu�ulmanos n�o � a que citaram, mas outra, do mesmo imperador: "N�o agir segundo a raz�o, n�o agir segundo o logos, � contr�rio � vontade de Deus". Esta sim, pode ser entendida como um ataque ao isl�o de hoje, porque resulta expressamente do desenvolvimento do pensamento do Papa que com ela se identifica.

O que � que o texto papal diz? Que a raz�o humana, o logos dos gregos, � um elemento indissoci�vel da voz de Deus, e que todas as tentativas de separarem raz�o e f�, colocando uma contra a outra, s�o um erro. O Papa identifica essencialmente duas correntes que cometeram esse erro: uma a que afirma a transcendentaliza��o absoluta de Deus; a outra a que resulta da separa��o iluminista entre f� e raz�o, que foi transportada para o cientismo contempor�neo.

Muito do que diz o Papa tem que ver com a percep��o que tem Manuel II Paleol�go de que a viol�ncia ao servi�o da f� � "desrazo�vel" e "contr�ria � natureza de Deus". O pr�prio Papa diz que esta constata��o � a "frase decisiva em toda a argumenta��o", e que o imperador, um erudito de cultura grega cl�ssica, estava a enunciar um dado fundamental da tradi��o cl�ssica grega, absolutamente id�ntico ao que � a "f� em Deus fundada na B�blia".

Ora, aqui o Papa critica o isl�o, n�o por causa da viol�ncia da espada de Maom�, mas sim porque "na doutrina mu�ulmana Deus � absolutamente transcendente", ou seja, dito em breve e em grosso, n�o h� verdadeira interac��o entre Deus e os homens, n�o h� necessidade da raz�o, a f� � essencialmente aceita��o e obedi�ncia. O Papa refere, "para ser honesto", que na tradi��o teol�gica crist� surgiram tend�ncias do mesmo tipo, mas condena-as na mesma cr�tica que faz ao isl�o.

Porque � que o Papa diz isto tudo? Est� l� no texto em todas as entrelinhas e nalgumas linhas: ao valorizar a fus�o plena da tradi��o grega do logos com o cristianismo, o Papa est� a enunciar a tradi��o cultural da Europa, da hist�ria tumultuosa do seu pensamento e dos fundamentos da sua identidade. Est� a falar de religi�o e de pol�tica, de cultura e de pensamento, da Uni�o Europeia e da Turquia, do cristianismo e do isl�o. Isto sim � que devia ser discutido, isto � o que o Papa esperava que fosse discutido. E isto � que interpela o isl�o, se ele se deixar interpelar.

(No P�blico de 21 de Setembro)
 


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870 - Ce qui est ferme, est par le temps d�truit

http://www.wfu.edu/~drp/17prop.gif
Nouveau venu, qui cherches Rome en Rome
Et rien de Rome en Rome n'aper�ois,
Ces vieux palais, ces vieux arcs que tu vois,
Et ces vieux murs, c'est ce que Rome on nomme.

Vois quel orgueil, quelle ruine : et comme
Celle qui mit le monde sous ses lois,
Pour dompter tout, se dompta quelquefois,
Et devint proie au temps, qui tout consomme.

Rome de Rome est le seul monument,
Et Rome Rome a vaincu seulement.
Le Tibre seul, qui vers la mer s'enfuit,

Reste de Rome. � mondaine inconstance !
Ce qui est ferme, est par le temps d�truit,
Et ce qui fuit, au temps fait r�sistance.

(Joachim Du Bellay, Les Antiquit�s de Rome )

*

Bom dia!

21.9.06
 


BIBLIOFILIA: LIVROS SOBRE LIVROS SOBRE LIVROS

http://medias.lefigaro.fr/photos/20060316.LIT000000226_1.jpg http://www.decitre.fr/pi/57/9782868534057TN.gif
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

�TOMOS E BITS

de 21 de Setembro de 2006


A caveira e t�bias � o s�mbolo dos produtos t�xicos.
� tudo t�o evidente - a maioria, a maioria esmagadora das pessoas que na imprensa comenta o discurso do Papa, nunca o leu. Conhecem quando muito a meia d�zia de transcri��es a pender para o sensacional que a imprensa divulgou. Para quem leu o texto � t�o evidente, t�o evidente... Pura neglig�ncia, � como servir comida estragada. N�s estamos muito preocupados com a "seguran�a alimentar" e bem pouco com a "comida para o c�rebro".

A diferen�a num coment�rio de quem leu: "Il faut une bonne dose de sottise, de perversit� � ou des deux �, pour trouver dans cette le�on magistrale une offense quelconque � l'�gard de quiconque." Assim mesmo: sottise e perversit�. E mais uma coisa que os europeus est�o rapidamente a esquecer - o que � uma universidade, mesmo com o Papa l� dentro.

*

Aqui est� uma boa ideia que fazia melhor pelo Parlamento que todas as reformas apressadas do estatuto dos deputados e do regime de faltas:
"O procurador-geral da Rep�blica � a pessoa que tem procura��o, incumb�ncia e mandato para representar perante a justi�a os interesses da comunidade dos cidad�os e do Estado. � um dos pilares da justi�a e o seu desempenho pode influenciar fortemente a sa�de do Estado de direito. Da� n�o ser obviamente indiferente o conhecimento ou desconhecimento geral do perfil e das ideias do procurador-geral da Rep�blica. N�o � uma quest�o de confian�a ou desconfian�a na dupla escolha da responsabilidade do Governo e do Presidente da Rep�blica. � uma quest�o de clareza e respeito pelos cidad�os-eleitores.

O processo de nomea��o obedeceu aos preceitos constitucionais. Nada a dizer da �bvia legitimidade do novo procurador. O que falta, como notou esta semana o constitucionalista Gomes Canotilho, � uma audi��o parlamentar p�blica que permita perceber melhor o seu pensamento e os seus crit�rios de actua��o. � uma tradi��o anglo-sax�nica, uma boa tradi��o que importa considerar e que tem precedentes em Portugal. O presidente da Entidade Reguladora da Comunica��o Social � ouvido pelos deputados antes da nomea��o. O mesmo acontece ao director do Servi�o de Informa��es de Seguran�a, neste caso ouvido � porta fechada. N�o est� em causa qualquer escrut�nio pol�tico, t�o-s� um conhecimento pormenorizado de um homem a quem s�o atribu�dos amplos poderes."
Insisto: "um conhecimento pormenorizado de um homem a quem s�o atribu�dos amplos poderes."
 


EARLY MORNING BLOGS

869 - Je suis l'Empire � la fin de la d�cadence...

Je suis l'Empire � la fin de la d�cadence,
Qui regarde passer les grands Barbares blancs
En composant des acrostiches indolents
D'un style d'or o� la langueur du soleil danse.

L'ame seulette a mal au coeur d'un ennui dense,
L�-bas on dit qu'il est de longs combats sanglants.
O n'y pouvoir, �tant si faible aux voeux si lents,
O n'y vouloir fleurir un peu cette existence!

O n'y vouloir, � n'y pouvoir mourir un peu!
Ah! tout est bu! Bathylle, as-tu fini de rire?
Ah! tout est bu, tout est mang�! Plus rien � dire!

Seul un po�me un peu niais qu'on jette au feu,
Seul un esclave un peu coureur qui vous n�glige,
Seul un ennui d'on ne sait quoi qui vous afflige!

(Paul Verlaine)

*

Bom dia!

20.9.06
 


RETRATOS DO TRABALHO NO FUNCHAL, PORTUGAL



Eis um s�tio original para trabalhar com o port�til: A cobertura de uma casa antiga, defrutando de uma soberba vista sobre a ba�a do Funchal. As novas tecnologias permitem este pequeno luxo, incluindo o acesso � rede "wi-fi" (gratuita) que a Governo da RAM disponibiliza em alguns "spots" da Regi�o, como � o caso. Foto capatada h� 10 minutos.

(Tiago Botelho, Economista)
 


COISAS DA S�BADO: O QUE SE PASSA EM TIMOR?
[East Timor Flag]

Continuamos sem saber, at� um dia em que qualquer coisa grave aconte�a. N�o se percebe o nexo, a sequ�ncia, os protagonistas, os eventos, os interesses. Que fazem os nossos �bons�, Xanana e Ramos Horta? Que fazem os nossos �maus�, Aikatiri e Lobato? Que fazem os invasores australianos? Que fazem os nossos GNR? Ainda h� �democracia�? Que fazem os portugueses que ficaram? Planeiam vir embora, porque n�o vale a pena? Planeiam ficar, porque n�o tem emprego c�? Querem ficar porque gostam da �causa� de Timor? Por onde anda o major Reinado e os seus militares e pol�ticas revoltosos? O que � que fazemos em Timor, se � que fazemos alguma coisa? J� h� alguma obra p�blica feita em Timor com os rios de dinheiro que os �doadores� deram, ou vai tudo para alimentar o aparelho das organiza��es internacionais e as ONG? Que � feito do dinheiro do petr�leo?

A r�dio e a televis�o p�blicas tem correspondentes em Timor pagos pelo dinheiro dos contribuintes, n�s. Onde est�o? N�o h� not�cias sobre Timor que se percebam? Que se percebam, insisto.

*
Informe-se aqui. Desde dia 16 de Maio que relatamos diariamente o que se passa em Timor-Leste, com opini�es e not�cias que traduzimos para portugu�s, visto que na nossa l�ngua s�o cada vez menos.

E poder� perceber melhor porque a imprensa fez de Mari Alkatiri um dos "maus"...

Infelizmente, espantamo-nos e envergonhamo-nos todos os dias pelos que pintaram como "bons", a quem durante anos admir�mos na luta pela independ�ncia. Essa independ�ncia, e os valores democr�ticos que entretanto se estabeleceram em Timor-Leste nos �ltimos quatro anos, s�o todos os dias amea�ados por incidentes patrocinados ao mais alto n�vel. Assistimos a um golpe de Estado palaciano, pr�prio de um monarca louco, decr�pito que n�o aparece em p�blico, n�o faz declara��es, que continua a apoiar criminosos impunemente, com a ajuda do governo australiano e indon�sio.

Timor-Leste j� perdeu o seu mito. Vai a caminho de perder a sua soberania.

Sem a coragem do Parlamento Nacional e dos Tribunais (que a tal frente dos partidos da oposi��o, membros da Igreja e os criminosos exigem dissolver), j� ser�amos governados por loiros de olhos azuis.

O manifesto deste bando inclui agora a exig�ncia da expuls�o de todos os assessores e empresas que perten�am a um pa�s da CPLP...

L�deres da Igreja cat�lica fazem missas para que o Reinado, que se evadiu da pris�o com mais 55 reclusos, com a cumplicidade dos australianos, n�o seja capturado.

A GNR � a �nica for�a que consegue manter alguma ordem e esperan�a em D�li. No resto do pa�s, n�o h� praticamente problemas.

O fundo do petr�leo, movimentado apenas com autoriza��o do Parlamento, foi este ano utilizado para alimentar o Or�amento de Estado, ronda os 500 milh�es de d�lares, e o modelo que o gere foi elogiado por muitos, como o Banco Mundial ou as Na��es Unidas,como exemplo de transpar�ncia.

O tal do desertor Reinado, provavelmente, anda de helic�ptero australiano para visitar o PR em casa, perante o fechar de olhos da miss�o das Na��es Unidas.

Uma maioria silenciosa vive sob a amea�a di�ria de um bando de terroristas, que pretende evitar a todo o custo as elei��es de 2007.

N�o cedemos ao terrorismo. N�o desistimos.

N�o temos "dificuldade em acreditar na superioridade moral da democracia e na superioridade moral da liberdade"....

(Malai Azul)
 


COISAS DA S�BADO: PACTOS E PODER POL�TICO (DO PRESIDENTE)



Independentemente da quest�o sobre o papel dos �consensos� na pol�tica democr�tica, suas vantagens e ambiguidades, o chamado pacto sobre a justi�a parece ser o �nico poss�vel e prov�vel nos tempos mais pr�ximos. O pacto fez-se na justi�a porque nessa �rea o PR tem aquilo que os anglo-sax�nicos chamam leverage ou seja vantagem posicional, com o Primeiro-Ministro enquanto n�o for escolhido o Procurador-Geral da Rep�blica. O Primeiro-Ministro sabe que sem o acordo do Presidente nenhum nome passa e este usou bem esta circunst�ncia para obrigar o Governo a entender-se com o PSD e a engolir os �n�os� que foi dizendo pelo caminho. Os benef�cios s�o m�tuos, embora s� a prazo se perceba quem vai beneficiar mais, n�o tanto do que foi acordado mas do facto de haver um acordo pol�tico p�blico.

Apenas conv�m registar que o Presidente mostrou que sempre que tem um poder o usa de forma extensiva. Mostrou que pode executar o seu programa mesmo naquilo que adv�m da �persuas�o� musculada. Obviamente, qualquer refer�ncia ao nome do pr�ximo Procurador n�o foi nunca referida a pretexto do �pacto�.

(a 14 de Setembro...)
 


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868 - Old Man of the Hague

There was an Old Man of the Hague,
Whose ideas were excessively vague;
He built a balloon
To examine the moon,
That deluded Old Man of the Hague.

(Edward Lear)

*

Bom dia!

19.9.06
 


NUNCA � TARDE PARA APRENDER: AS CINCO NA��ES CIVILIZADAS

Mark Lardas / Jonathan Smith, Native American Mounted Rifleman 1861�65, Osprey, 2006

Eu n�o sei se acontece assim com toda a gente, mas uma das minhas alegrias, sim alegrias, (pensando bem: que estranha palavra...) �, de repente, sem ser resultado de uma procura deliberada, conhecer, ficar a conhecer pela primeira vez, conhecimento novo, absoluto, total, alguma coisa de que n�o sabia nada, nada de nada. Quando muito, uma difusa e vagu�ssima ideia, mais errada do que certa nos seus muito vagos contornos. Alegria, pois, quando menos se espera.

Comprei este livro de uma popular colec��o de Militaria, mais por curiosidade do que por dedica��o. Mas, l� no meio, estava uma pequena hist�ria de que n�o sabia nada, a das Cinco Na��es Civilizadas, independentes dos EUA e, numa grande medida, independentes mesmo de facto: as cinco "na��es" Cherokee, Chickasaw, Choctaw, Creek e Seminole, reconhecidas por tratados internacionais. Nelas viviam �ndios que se organizavam como os seus vizinhos brancos, na maior parte convertidos ao cristianismo e com institui��es que inclu�am o primeiro sistema de educa��o p�blico na Am�rica. Tinham jornais e edi��o de livros, a B�blia em particular, nas l�nguas nativas em transcri��o fon�tica. O seu destino foi quebrado com o facto de, na sua maioria, terem aderido aos Confederados, tendo inclusive declarado guerra formalmente aos estados da Uni�o, numa altura em que estas coisas como as declara��es de guerra ainda existiam e tinham um papel. Daqui resultaram consequ�ncias, como o facto de o estatuto dos prisioneiros de guerra das Na��es Civilizadas ser distinto do dos sulistas, que eram entendidos como "rebeldes" enquanto que aqueles eram soldados regulares de uma pot�ncia estrangeira. A outra consequ�ncia foi o fim das Na��es Civilizadas.

http://cherokeehistory.com/standw~1.jpgComo militares, eram considerados bons guerreiros e maus soldados. Bons atiradores, bons para patrulhas de reconhecimento, maus para sentinelas ou manobras defensivas. Nas primeiras batalhas muitos usaram pinturas de guerra, mas depois consideravam-nas antiquadas e ca�ram em desuso. Ocasionalmente cortavam o seu escalpe. Estavam a meio de tudo, ficaram a meio de nada.

(Na foto o �ndio Cherokee General Stand Watie, que escrevia no Cherokee Phoenix, tinha escravos, foi o americano nativo com mais gradua��o no ex�rcito confederado e o �ltimo a render-se.)
 


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: NOMES PORTUGUESES EM MARTE



A caminho da cratera Victoria, a cratera Beagle.

*

Como o sei, tal como eu, um seguidor atento e apaixonado destes Novos Descobrimentos, destes Novos Mundos que ao Mundo se revelam, gostaria de o informar de que, ap�s sugest�o deste seu compatriota que lhe escreve, a equipa que dirige a miss�o dos rovers Spirit e Opportunity decidiu baptizar os locais a visitar na cratera Victoria, o �nico navio que concluiu a 1� viagem de circumnavega��o, com nomes de lugares onde este tenha feito escala. � assim, com inevit�vel orgulho que lhe adianto que, al�m de um Cabo Frio, j� podemos vislumbrar Cabo Verde em Meridiani e, adiante, se tudo correr como o desejado, l� teremos Timor na paisagem marciana.

Deixo-lhe a �ltima actualiza��o da parte do director de miss�o. E uma passagem do e-mail por mim recebido:

"Also, when you read the update, you'll see that we have adopted your suggestion of naming prominent features along the rim after places visited by the Victoria during the first circumnavigation of the Earth. That was a very nice idea, and it suited the situation perfectly. I really appreciate the suggestion.

Cheers, SS"

484 anos depois Magalh�es regressa ao mar.

(Rui Borges)
 


EARLY MORNING BLOGS

867 -An Old Person of Cromer

There was an Old Person of Cromer,
Who stood on one leg to read Homer;
When he found he grew stiff,
He jumped over the cliff,
Which concluded that Person of Cromer.

(Edward Lear)

*

Bom dia!

18.9.06
 


BIBLIOFILIA: UMA MONTRA DE ALFARRABISTA COM A MENINA DOS CINCO OLHOS



Na abertura do novo ano escolar, uma viagem a capas de que muitos ainda se lembram, e �s famosas palmat�rias. Mais uma grande montra do Chamin� da Mota (No Porto, rua das Flores).

(Gil Coelho)
 


BIBLIOFILIA: MUITOS E BONS LIVROS COMPRADOS

How To Read A Novelmas de todos, o que mais curiosidade para j� me suscitou, foi o de John Sutherland, How To Read A Novel, acabado de sair. As cr�ticas que tinha lido n�o lhe eram muito favor�veis, mas os ingleses s�o muito duros com o que se escreve, e podem ter raz�o. Veja-se o que escrevia D. J. Taylor no Independent, verdade seja sobre um mundo t�o distante de n�s como Marte:

"One reviewer observed of Sutherland's last book, an authorised life of Stephen Spender, that the proceedings were dominated by a soft yet insistent noise: the sound of Lady Spender breathing down the author's neck. If How to Read a Novel has a spiritual soundtrack, it is the sound of popping Chardonnay corks as, all over the country, the gangs of reading group members for whom this will make such an excellent Christmas present get down to business."

Seja como for, come�o. O livro arranca com um cap�tulo sobre o modo como se l� fic��o, antes e agora, com tempo ou sem ele, com barulho ou sem ele e, em bom rigor, com criados ou sem eles. Abre com a descri��o de Anna Karenina a ler de noite, no comboio, com a neve a bater na janela. Depois h� um di�logo do Pulp Fiction. Bom, j� me apanhou, o maldito livro. Agora, � continuar a ler.
 


INTEND�NCIA

Em actualiza��o os ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.
 


PROBLEMA DE SA�DE P�BLICA

http://web.grinnell.edu/resnet/images/biohazard.gif

"Ponham l� a� um cartaz a dizer que eu sou muito est�pido", � o que os que levam a s�rio o Loose Change, a come�ar pelos programadores da RTP que entraram agora num n�vel provocat�rio, est�o a dizer. Quem acredita que um filme que afirma que nas Torres G�meas houve uma explos�o controlada e n�o se d� ao trabalho de explicar como � que foram colocados os milhares de cargas explosivas necess�rias para o fazer sem ningu�m dar por isso (dezenas de homens invis�veis, milhares de locais armadilhados, pelos vistos tamb�m invis�veis, centenas de horas de trabalho necess�rias), e que nega que dois avi�es foram �ca�dos� sem se dar ao trabalho de explicar onde est�o os passageiros que desapareceram sem deixar rastro (est�o presos em Guantanamo? Foram levados para uma base secreta e fuzilados? Est�o na esta��o espacial?) e outras mil e uma falsifica��es rudimentares, devia usar um badge a dizer que � est�pido. Podia at� fazer-se uma vers�o politicamente correcta: �eu ainda sou mais est�pido do que o Presidente Bush�. Ah! Claro que � tamb�m poss�vel que os nefandos americanos tenham descoberto o segredo da invisibilidade, uns ecr�s de hipnose colectiva e m�quinas para "beam me up" e ent�o est� tudo explicado. E depois deram tudo isto ao Bin Laden.

O que se passa com o Loose Change mostra como o fanatismo pol�tico anti-americano leva � deteriora��o do pensamento. E � contagioso, tanto para as mentes simples como para as sofisticadas.

 


A ULTRA-EUROPA: ELEI��ES (2)



 


A ULTRA-EUROPA: ELEI��ES



 


A ULTRA-EUROPA

Bruxelas - dia sem carros. A festa do pol�ticamente correcto. Pancada no Papa em tudo quanto � media. O filme do Al Gore como Verdade Revelada. Na Waterstones uma nova sec��o: "bushisms", no humor. Est� sol. Na cidade, milhares de pessoas na rua, o que n�o � mau.

Mas n�o est�o todas na rua nos mesmos s�tios. Bruxelas � hoje uma grande metr�pole �tnica. Zairenses nas sombras do Congo belga, por detr�s da Porte Namur. Gregos, espanh�is e portugueses nas ruas de Saint-Gilles. �rabes do Magrebe por todo o lado, menos um.

Menos um. O �nico s�tio em Bruxelas em que n�o se via um �rabe, um v�u, uma djellaba, era na feira ecologista perto do metro de Louise. A�, entre os pavilh�es da "economia positiva", a apologia dos alimentos biol�gicos, a palha e os cavalos a cheirar �s remotas quintas do passado que j� ningu�m conhece, s� se viam m�es e pais de crian�as louras, milhares de filhos e filhas da burocracia europeia, entre mochilas e carrinhos de beb� de luxo e vestu�rio correcto na sua nonchalance, capacetes de bicicleta de ligas de carbono, bicicletas armadilhadas de gadgets.

Boa consci�ncia correcta, culpa face ao resto do mundo. Culpa at� �s entranhas. Mas ali n�o est�o os Outros. Ser� que ningu�m se pergunta porqu�, t�o grande era o contraste da humana geografia?
 


EARLY MORNING BLOGS

866 - An Old Man of Vesuvius

There was an Old Man of Vesuvius,
Who studied the works of Vitruvius;
When the flames burnt his book,
To drinking he took,
That morbid Old Man of Vesuvius.

(Edward Lear)

*

Bom dia!
 


RETRATOS DO TRABALHO NO GER�S, PORTUGAL



Trabalho de equipas de reportagem de duas esta��es de televis�o, no Parque Nacional da Peneda-Ger�s. no dia 13 de Agosto.

(Carla Carvalho)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM XANGAI, CHINA



Na semana passada, em Shanghai (ultrapassou em 2005 os 20 milh�es de habitantes), cenas de trabalho na Nanjing Lu (Rua de Nanjing), talvez o maior centro comercial do mundo, com mais de 600 estabelecimentos de luxo (quase todos estrangeiros) espalhados por 6 quil�metros, grande parte deles reservada a pe�es. Pode ter, num s� dia, a visita de um milh�o de consumidores. Num dos grandes armaz�ns da zona, a dar a provar e a vender ch� a estrangeiros.

(Fernando Correia de Oliveira)
 


CICLOS E MITOS (2)

"O Independente" chega ao fim

O mini-debate sobre a "refunda��o da direita", que se esbo�ou h� cerca de um m�s, parece ter-se esvanecido como as rosas de Malherbe. � natural que assim seja, porque era j� uma r�plica de uma r�plica de um pequeno tremor cujo epicentro data da funda��o do PP. O tema carece de novidade, n�o no sentido jornal�stico, o que seria menos importante, mas sim pela impossibilidade de algo de novo caber no inv�lucro da palavra, fora de alguns rearranjos, confinados � �rea pol�tica do CDS/PP, entre o bloqueamento desse partido at� ao destino do infatig�vel PND, envolvendo personagens que ficaram desirmanadas com a queda do governo Santana Lopes, e alguns projectos medi�ticos pol�tico-culturais nessa "movida".

Para al�m do Manifesto do dr. Monteiro e a sua interessante mistura de personagens � procura de um autor, sobra a coincid�ncia com o fim do Independente, que revelou a constru��o mitol�gica de uma est�ria destinada a legitimar uma hist�ria ideol�gica bem diferente da que efectivamente aconteceu. O fim do Independente foi "lido" a partir das imagens e projectos dos dias de hoje e n�o do papel que realmente teve, construindo-se assim uma nostalgia n�o do objecto perdido no passado, mas do objecto desejado para o presente. At� por isto, por este papel m�tico e on�rico, a experi�ncia do Independente foi importante na nossa hist�ria social, cultural e pol�tica.

Em que � que O Independente foi diferente? Que frutos deu o jornal? O que � que mudou? A voz do desejo diz, olhando para o presente, que "fundou a direita moderna", livre nos costumes e sem preconceitos ideol�gicos. A frase tem todas as ambiguidades, mas pode-se aceitar em parte, numa pequena parte. N�o vale a pena concentrar o debate de forma est�ril negando a pequena parte em que O Independente tamb�m deu esse fruto, mesmo aceitando com largueza de esp�rito que essa "direita" � aquilo que acha que �.

Vamos ao outro lado, ao fruto bem mais pesado e importante que nasceu do ventre do Independente, o refor�o, a "moderniza��o" se se quiser, do populismo usando novas formas medi�ticas e instrumentos mais poderosos no plano social e cultural. Esse populismo realizou todas as am�lgamas de todos os populismos, quer � "direita", quer � "esquerda", exprimindo um sentimento contra os "pol�ticos", antiparlamentar e anti-sist�mico, explorando a desconfian�a face aos poderosos, descrevendo-os como corruptos, arranjistas, motivados apenas pelo interesse pr�prio, despejando sobre eles editoriais inflamados de agressividade moral e denunciando os "esc�ndalos" uns atr�s dos outros. Muita coisa que hoje faz o 24 Horas, com mais fundamento jornal�stico mas menos legitima��o "cultural", poderia ser colocada no Independente com os mesmos t�tulos e destaques, com o mesmo efeito pol�tico e a vantagem da novidade.

Este populismo anti-sist�mico agradava a uma faixa muito vasta, que ia desde os saudosistas do salazarismo, para quem a pol�tica era a "porca da pol�tica", at� aos reformados que jogavam domin� numa sede qualquer do PCP na Margem Sul e passavam o tempo a barafustar contra os poderosos e a escrever cartas para o Correio da Manh�. Agradava tamb�m, e muito, a uma pequena burguesia urbana que come�ava a fazer com o "cavaquismo" um upgrade das suas expectativas para padr�es europeus e que nas reparti��es e escrit�rios se sentia mais solta e l�dica para achar gra�a a gozar com quem lhes dava o p�o. Era uma forma pouco subtil de irem � m�o dos chefes e de encontrar no jornal o espelho da inveja socializada que era, e �, o cerne da sua rela��o com a sociedade.

Por �ltimo, O Independente era tamb�m atractivo para os pequenos e m�dio intelectuais c�nicos, ent�o quase todos � esquerda, que estavam desiludidos da efic�cia dos pilares jornal�sticos do velho regime, O Jornal e o Expresso, que n�o tinham sido capazes de travar a maioria absoluta de Cavaco e queriam vingar-se da humilha��o que era serem governados pelos "pessed�s", essa gente provinciana e inculta que n�o lia jornais e parecia n�o precisar deles. Entre estes intelectuais, estavam muitos jornalistas, um grupo crucial na vida pol�tica dos dias de hoje, que passaram a admirar O Independente, em particular se nele n�o trabalhavam. Diante dos seus olhos c�nicos passou invis�vel o projecto pol�tico de Paulo Portas, sem nunca o terem visto, o que mostra como o cinismo dos intelectuais � bem f�cil de enganar.

Como � que O Independente conseguiu ser a express�o de todos estes sentimentos? Combinando dois factores, um, em grande parte de responsabilidade de Miguel Esteves Cardoso, que � do dom�nio do liter�rio e do l�dico; outro, de Paulo Portas e tem a ver com o "programa social" inscrito no Independente. Quanto ao primeiro, ele � reconhecido e incontestado, quanto ao segundo, nele est� a chave da efic�cia pol�tica do Independente e da natureza do populismo que ele gerou. Em tudo isto � bem menos importante a distin��o esquerda/direita do que se pensa e esta estava pouco presente nos tempos gen�ticos do jornal. Politicamente, � data da g�nese do jornal, se se quiserem usar as designa��es cl�ssicas, Miguel Esteves Cardoso tinha apoiado o PPM de Ribeiro Telles, um grupo que rompera pela esquerda com os mon�rquicos tradicionalistas, e Portas, ap�s passar pela JSD, a ala esquerda do PSD cujo jornal se chamava Pelo Socialismo, era um jovem lobo c�nico e mordaz, com tiradas inflamadas ridicularizando o poder e os pol�ticos, Portugal e os portugueses, cujas interven��es em v�rios debates televisivos circulam hoje pela Internet, com afirma��es taxativas e irrefut�veis sobre como nunca seria pol�tico, nunca estaria no poder e muito menos se imaginaria... ministro do Mar. Hoje, vendo esses v�deos, Portas pareceria um t�pico intelectual do Bloco de Esquerda, bem longe do "Paulinho das feiras" em que se veio a tornar. Junto com eles, muitos que deram ao Independente o seu prest�gio cultural, como � o caso de Vasco Pulido Valente, tinham escrito preto no branco que se havia lados, o deles era a esquerda, o lado dos meninos dos Esteiros de Soeiro Pereira Gomes.

O programa n�o-escrito do Independente era social, antes de ser pol�tico, agia na pol�tica pela cr�tica social e podia definir-se assim (repetindo o que h� muitos anos j� escrevi): O Independente atacava os "novos ricos", os pol�ticos que vinham de baixo, os parvenus da democracia e poupava sempre os pol�ticos poderosos que entendia caberem na categoria de serem do "velho dinheiro", das "velhas fam�lias", das "dinastias", como agora se diz dos toureiros. Atacava os deputados da prov�ncia do PSD, os que n�o eram advogados lisboetas importantes, nem homens de neg�cios ilustres, nem socialites reconhecidos, usando todas as suas armas, a come�ar pela ridiculariza��o social. O objectivo era torn�-los o retrato da pol�tica portuguesa com os seus v�cios, as suas pequenas corrup��es reais ou imaginadas com a casinha, com a terrinha, com o carrinho, com as suas fam�lias rurais desajeitadas, mas acima de tudo com o "mau gosto" do seu trem provinciano de vida, os deputados da "meia branca" deslumbrados pelo Rosa e Teixeira.

Vivendo obcecado pela admira��o pelo upstairs, O Independente varria os downstairs, numa atitude que um marxista ou Balzac, para o caso tanto faz, reconheceriam como t�pica da pequena burguesia urbana, a meio caminho das escadas e que pretende exorcizar a sua origem social renegando-a e fazendo-se passar por aquilo que n�o �. Por v�rias raz�es, que para a semana analisaremos, esta forma de irrequietude social � poderosa para olear o populismo em pol�tica... do downstairs.

(No P�blico de 14 de Setembro de 2006)

17.9.06
 


MAIS UMA CORRIDA. MAIS UMA VIAGEM


a terminar.

(escrito numa "boulangerie islamique", com Internet, com cabinas telefonicas - sem acentos - um cartaz que diz: "Ces numeros sont chers. 078/xxxxxx ..." e onde se ampliam e encaixilham fotografias de casamento, tudo em meia duzia de metros quadrados.)

14.9.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM MURANO - VENEZA, IT�LIA



Trabalho numa oficina de vidro na ilha de Murano em Maio �ltimo.

(Jos� Farinha)
 


EARLY MORNING BLOGS

865 - Ignorance

Strange to know nothing, never to be sure
Of what is true or right or real,
But forced to qualify or so I feel,
Or Well, it does seem so:
Someone must know.

Strange to be ignorant of the way things work:
Their skill at finding what they need,
Their sense of shape, and punctual spread of seed,
And willingness to change;
Yes, it is strange,

Even to wear such knowledge - for our flesh
Surrounds us with its own decisions -
And yet spend all our life on imprecisions,
That when we start to die
Have no idea why.

(Philip Larkin)

*

Bom dia!

13.9.06
 


CORREIO
The image �http://www.caleida.pt/filatelia/imagens/gloss/gloss01h.jpg� cannot be displayed, because it contains errors.
O correio depois do Pr�s e Contras subiu exponencialmente e tenho cerca de 300 mensagens por responder, a que se somam a muitas outras atrasadas. Vou tentar, mas n�o sei se consigo. De qualquer modo, desde j�, obrigado. E escrevam sempre, todas as mensagens fazem falta.
 


COISAS DA S�BADO: COM QUE ENT�O O BE N�O � A EXTREMA-ESQUERDA?

Uma das gentilezas com que a comunica��o social mostra as suas simpatias bloquistas � nunca tratar o BE como uma organiza��o de extrema-esquerda. A UDP, o PSR, e os outros pequenos grupos eram assim tratados no passado, mas depois da fus�o-milagre aparecem sempre com uma face mais am�vel de inovadores do discurso pol�tico e �fracturantes� imaginativos. Aquilo � velho como Trotsky e Chomsky, mas resulta sempre.

Lou�� desde a sua aventura presidencial, percebeu que o espa�o do BE encolheu, e, sempre que se sente apertado, deixa o radical chic (bom, nunca deixa inteiramente como se viu na �cow parade� para os desempregados�) e fala a linguagem pura e dura do anticapitalismo marxista da extrema-esquerda. Foi o que fez na volta do desemprego quando comparou a classe empresarial portuguesa � m�fia, e, no seu verbo f�cil, se lembrou do Padrinho (ele deve achar os Sopranos muito bushistas e suburbanos):
"Temos o Carrapatoso/Corleone, o Belmiro/Corleone e o Paulo Teixeira/Corleone", que "tal como Corleone fazia aos seus colaboradores, apresentando-lhes propostas que n�o podiam ser recusadas, sob pena de morte, tamb�m os empres�rios fazem propostas irrecus�veis de rescis�es volunt�rias aos trabalhadores".
Ora para quem � Corleone, para quem � da m�fia, s� h� uma resposta - se n�s lev�ssemos a s�rio Lou�� e o seu BE, o que num acto de bom senso n�o levamos, titular�amos o seu discurso inflamado, com caixa alta: �Lou�� quer prender os empres�rios portugueses �. Ningu�m far� isso, mas que � fiel � letra e ao conte�do do com�cio do BE, l� isso �.
 


COISAS DA S�BADO:
DUAS DITADURAS LATINO-AMERICANAS, FILHAS DO ALTERMUNDIALISMO


http://www.martinoticias.com/media/graphics/morales-chavez.jpgDuas ditaduras est�o rapidamente em constru��o na Am�rica Latina. Como n�o s�o militares de �culos escuros, ao servi�o da CIA, ningu�m diz nada. Na Bol�via, o Movimento para o Socialismo do Presidente Evo Morales, fez aprovar de forma anticonstitucional legisla��o que possibilita ao regime impor tudo o que quiser a pretexto do car�cter "origin�rio" da Assembleia Constituinte; na Venezuela, Ch�vez prepara-se para se declarar Presidente Vital�cio. O apoio pol�tico a Morales e Ch�vez tem vindo em Portugal dos que se reclamam do altermundialismo de Porto Alegre, verdadeiro cadinho pol�tico desses dois candidatos a ditadores, ou seja, o BE, Boaventura de Sousa Santos, M�rio Soares, entre outros. Seria interessante saber o que pensam sobre os seus amigos latino-americanos.

12.9.06
 


RETRATOS DO TRABALHO NA PATAG�NIA, ARGENTINA



Trabalho de paleont�logo portugu�s de dinoss�urios na Patag�nia argentina (pr�ximo de Plaza Huincul, trabalho de campo).

(Luis Azevedo Rodrigues)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM MURANO - VENEZA, IT�LIA



Trabalho numa oficina de vidro na ilha de Murano em Maio �ltimo.

(Jos� Farinha)
 


RETRATOS DO TRABALHO NO CAMBODJA



Transporte de gado no Cambodja. Consoante o tamanho as motorizadas transportam 1 porco, 2 porcos ou mesmo 3 porcos. Vivos e de patas em riste eles v�o a caminho de algures! As motorizadas s�o aut�nticas bestas de carga: galinhas, bicicletas, porcos, atrelados com bidons de �gua, leit�es, est�tuas de Budas ou 5 pessoas numa mota.

(Antonio Rebordao)
 


EARLY MORNING BLOGS

864 - Insoumission

Vivre tranquille en sa maison,
Vertueux ayant bien raison,
Vaut autant boire du poison.

Je ne veux pas de maladie,
Ma fiert� n'est pas refroidie,
J'entends la jeune m�lodie.

J'entends le bruit de l'eau qui court,
J'entends gronder l'orage lourd,
L'art est long et le temps est court.

Tant mieux, puisqu'il y a des p�ches,
Du vin frais et des filles fra�ches,
Et l'incendie et ses flamm�ches.

On na�t filles, on na�t gar�ons.
On vit en chantant des chansons,
On meurt en buvant des boissons.

(Charles Cros)

*

Bom dia, j� um pouco para o tarde!

11.9.06
 


EARLY MORNING BLOGS

863 - The Sound of the Trees


I wonder about the trees.
Why do we wish to bear
Forever the noise of these
More than another noise
So close to our dwelling place?
We suffer them by the day
Till we lose all measure of pace,
And fixity in our joys,
And acquire a listening air.
They are that that talks of going
But never gets away;
And that talks no less for knowing,
As it grows wiser and older,
That now it means to stay.
My feet tug at the floor
And my head sways to my shoulder
Sometimes when I watch trees sway,
From the window or the door.
I shall set forth for somewhere,
I shall make the reckless choice
Some day when they are in voice
And tossing so as to scare
The white clouds over them on.
I shall have less to say,
But I shall be gone.

(Robert Frost)

*

Bom dia!

10.9.06
 


NUNCA � TARDE PARA APRENDER: AS ARMADILHAS DA HIST�RIA


H� cinco anos, um grupo que variava entre duzentos e quinhentos homens fugia pelas terras do Leste de Angola, entre as nascentes dos grandes rios, mudando quase todos os dias de local de dormida, caminhando a p� e � noite. O seu principal problema era a fome. Comiam mel silvestre, restos de mandioca, larvas, plantas e frutos com muito baixo poder nutritivo. Como n�o podiam disparar para n�o serem localizados pelo barulho dos tiros, s� muito raramente tinham carne, e s� em dois ou tr�s momentos levavam consigo meia d�zia de vacas. Equipas destinadas a recolher comida andavam dez dias a apanhar o pouco que havia, para voltar quase sempre s� com mel, para tr�s dias. O roubo ou o a�ambarcamento de comida era punido com chicotadas, fosse feito por soldados ou por oficiais. Os guerrilheiros sonhavam com comida. Literalmente. Mais do que os combates, que se davam apenas nos per�metros defensivos avan�ados, a fome era a sua principal dificuldade. Passara de "t�ctica" a "estrat�gica".

Aos nossos olhos de hoje, tudo parecia trocado: pap�is, ideias, amizades pol�ticas, "esquerda - direita", geoestrat�gias. A coluna de guerrilheiros era a Coluna Presidencial, onde marchava o �nico dirigente guerrilheiro africano que n�o morreu na cama de um pal�cio, Jonas Savimbi. Savimbi, talvez o melhor produto de sempre das escolas militares chinesas, lia nos intervalos da marcha, pela en�sima vez, os livros de Mao Zedong sobre a "guerra camponesa". Numa das noites, acompanhou atentamente com os seus companheiros o debate Bush - Al Gore, torcendo por Bush. Nas reuni�es clandestinas da Direc��o da UNITA, realizadas com muita dificuldade no meio da mata, gritava-se o slogan, que era tamb�m o da revolu��o cubana, "P�tria ou Morte Venceremos" e elogiava-se o exemplo de figuras como Lumumba, Che Guevara, Nkruma, e, entre os vivos, Nelson Mandela. O comunicado final de uma dessas reuni�es era assinado com o nome de guerra "Jaguar Negro dos Jagas", e os militares guerrilheiros faziam jus a uma pan�plia de nomes program�ticos como o do general Black Power.

A maioria dos dirigentes que acompanhava Savimbi na sua Longa Marcha final, eram, como ele, um produto das miss�es protestantes que bordejavam a faixa do Caminho de Ferro de Benguela, onde esta��es e postos faziam crescer vilas com uma pequena burguesia rural arreigada �s tradi��es africanas de senioridade (Savimbi era um dos Mais Velhos), a uma profunda religiosidade e ao valor da educa��o como instrumento de promo��o pessoal. Eram protestantes, odiavam os desregramentos, a embriaguez, a devassid�o. Alguns dos �ltimos comunicados internos escritos por Savimbi continham an�temas contra esses comportamentos e n�o era apenas por raz�es pol�tico-militares. O igualitarismo maoista-campon�s, o ascetismo revolucion�rio que impregnava a UNITA e o culto de personalidade de Savimbi, entre o m�gico-supersticioso e a "autorictas" africana mais tradicional, eram tra�os �nicos. N�o importa se tudo era assim na realidade, mas a vontade de que assim fosse era completamente genu�na.

Em persegui��o da Coluna Presidencial e com o objectivo expl�cito de matar aquilo a que chamavam a "UNITA militarista" e Savimbi, ia um poderoso ex�rcito treinado por cubanos e sovi�ticos, apoiado por mercen�rios portugueses e sul-africanos, quase todos antigos aliados da UNITA, uns ligados a empresas de �seguran�a� luso-angolanas, em que se misturavam generais do MPLA e militantes da extrema-direita portuguesa. O dinheiro vinha do petr�leo angolano explorado por norte-americanos. Os avi�es que bombardeavam a coluna eram Migs e Sukoy, os avi�es de observa��o eram Tucanos brasileiros pilotados por brasileiros. No plano internacional, o mais activo opositor da UNITA e que tinha sido, com os sul-africanos, o seu mais poderoso aliado eram os EUA da Administra��o Clinton.

A hist�ria que o livro de Alcides Sakala relata, para al�m do seu testemunho pessoal �nico*, � a hist�ria da Hist�ria como armadilha. Nada parecia estar no seu �s�tio� e, no entanto, nada estava fora do s�tio. O mundo p�s-guerra fria apanhara nos interst�cios da sua mudan�a homens, organiza��es, pa�ses. A UNITA e a figura �pica de Savimbi, eram e s�o um dos casos mais exemplares do que � ser-se apanhado pelas voltas da hist�ria. Completamente apanhado.
* Eu conheci a maioria dos personagens deste livro, a come�ar pelo Alcides Sakala, de quem tenho as melhores recorda��es, nos bons e nos piores momentos. Por isso n�o li com indiferen�a as quase 450 p�ginas do seu livro, que ganharia muito em ter um mapa e reflecte algumas vezes o car�cter repetitivo da narra��o da "vida", at� porque esta era mesmo repetitiva - dormir, acordar, tentar comer, estar sempre pronto para fugir, frio, calor, humidade, doen�as. Mas estes s�o pequenos defeitos para aquele que � um dos melhores testemunhos publicados sobre a nossa hist�ria mais contempor�nea.
 


EARLY MORNING BLOGS

862 - "Je suis homme et j'ai fait des livres..."

Je suis homme et j'ai fait des livres ; j'ai donc fait aussi des erreurs [Exceptions, si l'on veut, les livres de g�om�trie et leurs auteurs. Encore s'il n'y a point d'erreurs dans les propositions m�mes, qui nous assurera qu'il n'y en ait point dans l'ordre de d�duction, dans le choix, dans la m�thode ? Euclide d�montre, et parvient � son but mais quel chemin prend-il ? Combien n'erre-t-il pas dans sa route ? La science a beau �tre infaillible ; l'homme qui la cultive se trompe souvent.]. J'en aper�ois moi-m�me en assez grand nombre : je ne doute pas que d'autres n'en voient beaucoup davantage, et qu'il n'y en ait bien plus encore que ni moi ni d'autres ne voyons point. Si l'on ne dit que cela j'y souscris. Mais quel auteur n'est pas dans le m�me cas, ou s'ose flatter de n'y pas �tre ? L�-dessus donc, point de dispute. Si l'on me r�fute et qu'on ait raison, l'erreur est corrig�e et je me tais. Si l'on me r�fute et qu'on ait tort, je me tais encore ; dois-je r�pondre du fait d'autrui ? En tout �tat de cause, apr�s avoir entendu les deux parties, le public, est juge, il prononce, le livre triomphe ou tombe, et le proc�s est fini. Les erreurs des auteurs sont souvent fort indiff�rentes ; mais il en est aussi de dommageables, m�me contre l'intention de celui qui les commet. On peut se tromper au pr�judice du public comme au sien propre ; on peut nuire innocemment. Les controverses sur les mati�res de jurisprudence, de morale, de religion tombent fr�quemment dans ce cas. N�cessairement un des deux disputants se trompe, et l'erreur sur ces mati�res important toujours devient faute ; cependant on ne la punit pas quand on la pr�sume involontaire. Un homme n'est pas coupable pour nuire en voulant servir, et si l'on poursuivait criminellement un auteur pour des fautes d'ignorance ou d'inadvertance, pour de mauvaises maximes qu'on pourrait tirer de ses �crits tr�s cons�quemment mais contre son gr�, quel �crivain pourrait se mettre � l'abri des poursuites ? Il faudrait �tre inspir� du Saint-Esprit pour se faire auteur et n'avoir que des gens inspir�s du Saint-Esprit pour juges.

(Jean Jacques Rousseau, Lettres �crites de la montagne)

*

Bom dia!

9.9.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM S. PEDRO DO SUL, PORTUGAL



(...) um casal de agricultores "rogou" um tractorista para lhes transportar as ab�boras, acabadas de colher, da "terra" para casa (em Sul - S�o Pedro do Sul).

(Jos� Manuel de Figueiredo)
 


CICLOS E MITOS (1)



Quem c� anda h� mais tempo j� percebeu os ciclos de sobe e desce, da fama e do esquecimento, o eterno retorno de ideias velhas apresentadas como ideias novas. Isto contraria a tenta��o ad�mica de muitos, cuja mem�ria � demasiado curta, ou a ignor�ncia demasiado longa, e que acham que o mundo come�ou com eles, dedicando-se com estr�pito a arrombar portas que muitos outros antes deles abriram com mais dificuldades. O espect�culo de os ver voar direitinhos � porta e passar sem dar por isso pelo imenso espa�o aberto devia ser uma li��o de humildade, mas normalmente n�o �.

Um destes ciclos recorrentes � a fortuna do par "esquerda-direita" como classifica��o dominante e moda identit�ria. Contrariamente ao que se pensa, o retorno actual do par � relativamente recente, data do per�odo posterior ao fim do comunismo, que permitiu voltar a categorias manique�stas, logo aparentemente mais simples, de an�lise. Onde antes era comunista-anticomunista, fascista-antifascista, democrata-antidemocrata, passou a ser esquerda-direita, uma classifica��o mais gen�rica e mais vasta, essencialmente hist�rica antes de ser pol�tica. Facilita a vida aos jornalistas e ao pensamento semijornal�stico em que estamos mergulhados e por isso faz o seu caminho, embora cada vez menos sirva para classificar qualquer realidade contempor�nea, num mundo complexo e com quest�es distintas do mundo p�s-Revolu��o Francesa e p�s-Revolu��o Industrial, onde a distin��o foi gerada e sobreviveu com altos e baixos.

Ora, o que poucos v�em � que o retorno do debate "esquerda-direita", agora transvertido de "fundacional da direita" � mais um sintoma de crise da classifica��o do que da sua pujan�a. Sendo antes de mais um remake sem a frescura nem originalidade do debate original, cujo primeiro acto acompanhou a funda��o do PP versus CDS, e a do BE, a discuss�o actual �, na verdade, um reflexo da crise pol�tica que se vive na pequena gal�xia do CDS-PP, incluindo a� uma ala minorit�ria do PSD que cresceu nos anos Barroso-Lopes e tem como objectivo consertar um p�ssimo resultado eleitoral e os problemas de interven��o pol�tica do grupo ligado a Paulo Portas. S�o os impasses pol�ticos desse grupo que est�o na origem do actual debate, embora nalguns aspectos este os ultrapasse.

Voltemos atr�s, � hist�ria ideol�gica, lexical e taxion�mica p�s-25 de Abril. Basta revermos os debates pol�ticos na televis�o, r�dio e jornais, durante quase duas d�cadas depois do 25 de Abril para entender que mais do que no dualismo ideol�gico direita-esquerda, a identidade estava centrada nos nomes da identidade partid�ria: ser-se centrista, social-democrata, socialista ou comunista era a mais comum e suficiente forma de identidade. Se se caminhasse para o dualismo - e n�o se caminhava por regra -, as dificuldades de posicionamento apareciam de imediato. Nesses anos, apenas pequenos grupos ideol�gicos � direita se nomeavam como tal, embora preferissem classificar-se de "nacionalistas revolucion�rios" e alguns mesmo n�o desdenhassem assumir-se como tribut�rios de v�rias tradi��es do pensamento autorit�rio incluindo o fascismo.

A pouca fluidez do nosso sistema partid�rio tamb�m n�o corria por esses canais duais: por exemplo, o PRD, os "renovadores" ligados ao General Eanes, n�o se colocavam no espectro dualista, mas demarcavam-se atrav�s de issues, atrav�s de linguagens e atrav�s de personalidades. O debate absurdo, mas que existiu, sobre se o PCP era de esquerda ou de direita, numa altura em que era vital a demarca��o dos socialistas dos comunistas, � outro exemplo. Ent�o os socialistas nem sequer permitiam a perten�a � "casa comum" da esquerda dos comunistas e vice-versa, o que mostrava as dificuldades operacionais da nomenclatura. Com excep��o do Movimento da Esquerda Socialista e da Uni�o da Esquerda para a Democracia Socialista, e a excep��o precursora do Clube da Esquerda Liberal, que usava a "esquerda" para contrabalan�ar o "liberal", a palavra "esquerda" n�o entrou no sistema pol�tico desde a "Esquerda Democr�tica" na Primeira Rep�blica. O mesmo acontecia � direita.

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Tal n�o significava que o dualismo esquerda-direita n�o fosse importante como factor de identidade pol�tica, em particular como manifesta��o de perten�a afectiva, biogr�fica, geracional, hist�rica, nem que, se perguntados, os portugueses n�o se identificassem dentro dele e considerassem que cada lado definia um campo, um territ�rio. S� que, depois, na pr�tica, usavam outros nomes para classificar as entidades pol�ticas e tal lhes bastava. Necessitavam de tanta adjectiva��o ("esquerda socialista", "esquerda revolucion�ria", "esquerda liberal", "direita revolucion�ria", etc.) que se percebia que eram mais um ponto de partido do que de chegada. A classifica��o esquerda-direita era poderosa como posicionamento biogr�fico e factor de identidade, mas permanecia por nomear, permanecia sem explicitude, e, quando tal acontecia, remetia mais para os extremos do que para o mainstream. Quem se dizia de direita aparecia como sendo de extrema-direita e quem se afirmava de "esquerda-qualquer coisa" j� se sabia que n�o era nem socialista soarista, nem comunista cunhalista. Com o tempo, � medida que o eleitorado se "soltava" e esbatia no seu comportamento a identidade partid�ria, alternando o voto "ao centro" entre o PS e o PSD, o fen�meno da demarca��o ideol�gica tamb�m perdeu for�a.

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Foi neste contexto que a apari��o desse outro par de g�meos, o PP e o BE, nos extremos do espectro pol�tico, ambos muito influentes na comunica��o social, tornou de novo dominante a classifica��o direita-esquerda. A ambos interessava uma classifica��o identit�ria forte e que fizesse simultaneamente a ruptura e a integra��o. Vinham das margens, mas desejavam a integra��o no mainstream pol�tico em categorias reconhecidas, em que cada um parecesse como guardi�o da identidade do seu "lado" - o PP da direita, o BE da esquerda. Cada um se definia como sendo a encarna��o da verdadeira identidade do seu lado: o PP como a verdadeira direita face ao CDS e o BE como a verdadeira esquerda face ao PS. Devido � hist�ria do sistema pol�tico portugu�s depois do 25 de Abril, a mec�nica era diferente em cada um dos extremos: o PP radicalizava � direita e o BE desradicalizava � esquerda; o PP pretendia ocupar um espa�o que considerava vazio, o da direita, o BE pretendia deslocar-se da extrema-esquerda, para se afirmar como a esquerda face ao PS. A novidade do BE em rela��o aos grupos de extrema-esquerda que o constitu�am era essencialmente essa, a de se definir como a "esquerda" do PS e n�o a "esquerda" do PCP.

Um dos mitos a que hoje se atribui papel "fundacional" na vers�o actual da distin��o "esquerda-direita" � ao jornal O Independente. � em grande parte uma reconstru��o a posteriori, porque aquilo a que o jornal deu origem, mais do que a uma nova direita foi a um populismo agressivo, antiparlamentar, anti-sist�mico que tanto serviu o PP como o PCP, tanto serviu o radicalismo do PP de Manuel Monteiro-Paulo Portas e a sua variante bo�al do "Paulinho das Feiras" como o justicialismo esquerdizante dos que desejavam uma "rep�blica dos ju�zes" em Portugal. Ambos foram filhos de O Independente, irmanados no combate aos mesmos inimigos, aliados que se reconheciam mais do que se pensa e do que a hist�ria revisionista e m�tica dos dias de hoje quer reconhecer. Do papel dos mitos de O Independente no ciclo destes ciclos, falaremos a seguir.

(P�blico, 7/9/2006)
 


EARLY MORNING BLOGS

861 - What If a Much of a Which of a Wind

what if a much of a which of a wind
gives the truth to summer's lie;
bloodies with dizzying leaves the sun
and yanks immortal stars awry?
Blow king to beggar and queen to seem
(blow friend to fiend: blow space to time)
--when skies are hanged and oceans drowned,
the single secret will still be man

what if a keen of a lean wind flays
screaming hills with sleet and snow:
strangles valleys by ropes of thing
and stifles forests in white ago?
Blow hope to terror; blow seeing to blind
(blow pity to envy and soul to mind)
--whose hearts are mountains, roots are trees,
it's they shall cry hello to the spring

what if a dawn of a doom of a dream
bites this universe in two,
peels forever out of his grave
and sprinkles nowhere with me and you?
Blow soon to never and never to twice
(blow life to isn't: blow death to was)
--all nothing's only our hugest home;
the most who die, the more we live

(e.e. cummings)

*

Bom dia!

8.9.06
 


EARLY MORNING BLOGS

860 - Sagesse I - I

Bon chevalier masqu� qui chevauche en silence,
Le malheur a perc� mon vieux coeur de sa lance.

Le sang de mon vieux coeur n'a fait qu'un jet vermeil
Puis s'est �vapor� sur les fleurs, au soleil.

L'ombre �teignit mes yeux, un cri vint � ma bouche
Et mon vieux coeur est mort dans un frisson farouche.

Alors le chevalier Malheur s'est rapproch�,
Il a mis pied � terre et sa main m'a touch�.

Son doigt gant� de fer entra dans ma blessure
Tandis qu'il attestait sa loi d'une voix dure.

Et voici qu'au contact glac� du doigt de fer
Un coeur me renaissait, tout un coeur pur et fier.

Et voici que, fervent d'une candeur divine,
Tout un coeur jeune et bon battit dans ma poitrine.

Or, je restais tremblant, ivre, incr�dule un peu,
Comme un homme qui voit des visions de Dieu.

Mais le bon chevalier, remont� sur sa b�te,
En s'�loignant me fit un signe de la t�te

Et me cria (j'entends encore cette voix) :
" Au moins, prudence ! Car c'est bon pour une fois. "

(Paul Verlaine)

*

Bom dia!

7.9.06
 


RETRATOS DO TRABALHO NO FUNCHAL, PORTUGAL


Dois homens executam a arriscada tarefa de subsitui��o de cartazes publicit�rios no gigantesco bal�o de h�lio que se encontra na ba�a do Funchal. Foto tirada h� minutos (17h15). Este bal�o tem um cesto na base para levar os turistas aos c�us da Madeira, de onde se contempla uma magn�fica vista, pela m�dica quantia de 15 euros. A foto documenta o in�cio dos trabalhos, altura em que nenhum sistema de seguran�a protegia os audazes trabalhadores.

(Tiago Botelho)
 


F�RIAS / FIM DE F�RIAS
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Por todo o lado j� se nota uma nova agita��o. Temas e quest�es come�am a aparecer todos os dias, o deserto comunicacional de Agosto d� lugar a uma crescente agita��o nos blogues, nos jornais, na televis�o. Est� tudo mais que dispon�vel para uma nova pol�mica, uma nova irrita��o, uma nova exig�ncia, um novo protesto. A coisa � curiosa porque n�o h� verdadeiramente nada de diferente entre Agosto e Setembro a n�o ser no n�mero de pessoas que est�o na praia ou nos seus empregos. O pa�s � o mesmo, o mundo � o mesmo, os problemas s�o os mesmos. J� estamos � viciados pela excita��o e, passado o m�s terap�utico de abstin�ncia, precisamos de barulho para meter nas veias. R�pido. Forte. De boa qualidade.
 


INTEND�NCIA

Actualizada a nota UM DIA DE COM�CIO.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM BARCELONA, ESPANHA



(...) foto do tipo de trabalho que fiz em Barcelona. penso que seria interessante ter esta foto (...) , pois mostra um tipo de trabalho diferente dos trabalhos tradicionais. Para al�m de fazer um pouco de bricolage projectei a parte mec�nica desse Robot humanoide que v� na imagem. A pessoa que est� na foto n�o sou eu, mas sim o meu chefe (Davide Faconti).

(Alcides Strecht Monteiro)
 


EARLY MORNING BLOGS

859 -The Fascination of What's Difficult

The fascination of what's difficult
Has dried the sap out of my veins, and rent
Spontaneous joy and natural content
Out of my heart. There's something ails our colt
That must, as if it had not holy blood
Nor on Olympus leaped from cloud to cloud,
Shiver under the lash, strain, sweat and jolt
As though it dragged road-metal. My curse on plays
That have to be set up in fifty ways,
On the day's war with every knave and dolt,
Theatre business, management of men.
I swear before the dawn comes round again
I'll find the stable and pull out the bolt.


(W.B. Yeats)

*

Bom dia!
 


UM DIA DE COM�CIO

Hoje, viveu-se um dia de permanente com�cio em muitos �rg�os de comunica��o social. Desde a TSF pela manh�, at� � "Opini�o P�blica" da SIC Not�cias de tarde, culminando no Clube dos Jornalistas na 2, sem qualquer esfor�o de "edi��o", sem sequer qualquer esbo�o de controv�rsia, assistiu-se a uma diatribe propagand�stica completamente � solta, como se estiv�ssemos em Cuba ou na Venezuela de Chavez e fossem o PCP e o BE a mandar nas televis�es. Corrijo: hoje mandaram nas televis�es, diante do sil�ncio comprometido e das deser��es de muitos. Todo o discurso, pesado e denso, de m�ltiplas proclama��es, grandes indigna��es, grandes adjectivos, grandes diaboliza��es, foi desde o anti-americanismo obcecado, que n�o hesita nas maiores inverdades e mentiras, at� � proclama��o indignada contra as tenebrosas viola��es dos direitos humanos, por esse Novo Estado Fascista que s�o os EUA.

O Clube dos Jornalistas sintetizou tudo quando, a pretexto do 11 de Setembro de Nova Iorque e Washington, passou imagens do golpe chileno de Pinochet, "dizendo-nos" com as imagens que este � o facto original e puro, o resto s�o manipula��es �mpias. Isto aconteceuThe image �http://redescolar.ilce.edu.mx/redescolar/act_permanentes/historia/html/11_sep_73/mone.gif� cannot be displayed, because it contains errors., isto n�o. Isto deve-se pensar, isto serve apenas para nos manipular, para cercear as nossas liberdades, para servir os obscuros interesses militares e econ�micos do Imp�rio. A realidade do terrorismo dissipa-se, o terrorismo torna-se invisivel, hipot�tico, "pretextual" como nas melhores teorias conspirativas. Num notici�rio da SIC referia-se de passagem que, no Ir�o, milhares de volunt�rios se ofereceram, em resposta ao apelo de alguns parlamentares iranianos, para servir de suicidas. Mas como era poss�vel sequer reparar nesta not�cia, incorpor�-la no discurso? N�o era. O terrorismo, mesmo ali diante dos nossos olhos, desaparecia, esbatia-se, dissolvia-se, normalizava-se. Tornava-se impens�vel. S� o Monstro americano existe, o resto s�o tamb�m imagens espelhares do mesmo Monstro. Estamos feitos.

*

Como se indignou com programa do clube de jornalistas queria perguntar-lhe se viu a edi��o sobre o recente conflito Israel-Hezbollah. N�o creio que tenha visto, caso contr�rio teria achado este bastante benigno.

Se n�o viu pe�a a cassete a algu�m (infelizmente n�o gravei), acredito que n�o dar� o seu tempo por perdido. Foi a maior ac��o de propaganda anti-sionista que alguma vez vi numa televis�o, e falavam como se de justiceiros se tratassem face ao favorecimento de Israel por parte dos m�dia. Foram feitas acusa��es graves ao jornal P�blico e ao seu director. E tudo isto sem qualquer contradit�rio: todos os convidados eram enviesadamente e fanaticamente anti-sionistas. A ver.

(paulo salvador)

*

S�o tantos os exemplos de informa��o tendenciosa e manipula��o noticiosa que o tema come�a a estar estafado. Mas nunca � demais denunci�-lo. No dia da paralisa��o dos avi�es em Londres, a jornalista Alberta Fernandes apresentou a not�cia repetindo v�rias vezes �a alegada amea�a terrorista� sempre com um trejeito nos l�bios para que algu�m mais distra�do notasse o seu cepticismo esclarecido. No dia em que a televis�o transmitiu a reportagem da CNN com o membro do Hezbollah hist�rico a mostrar os pr�dios de �civis� atacados em Beirute, Jos� Alberto Carvalho tamb�m se revelou consternado e solid�rio para com o �civil�. S�o apenas alguns exemplos e muitos mais haver� que desconhe�o porque passei a exercer o �inalien�vel direito de carregar no OFF� ou de ver o canal Panda.

(Helena Mota)

*

Estes �ltimos coment�rios sobre os EUA e Israel fazem reaparecer na minha cabe�a uma sensa��o que n�o posso deixar partilhar. Vou usar o exemplo dos EUA mas refiro-me a isto de uma forma geral em rela��o �s suas posi��es publicas. Note-se ent�o o exemplo: h� hoje numa grande parte da sociedade um sentimento anti-americano. JPP op�e-se a ele. Tudo natural. Mas a sensa��o com que fico � que para se opor ao extremismo de um lado, JPP tende a tomar partido do outro. O facto de n�o estar de acordo com a perspectiva que muitos europeus t�m dos EUA ou, de achar que a comunidade internacional n�o ajudou Israel como devia, n�o pode (n�o deve) fazer com se torne complacente para com o que h� a criticar. Nunca o ouvi criticar de forma clara, o facto de terem morrido mais civeis inocentes do que "combatentes irregulares" (j� o ouvi a usar a express�o e acho-a adequada). Eu n�o acho que JPP considere isso irrelevante, o que acho � que esteve demasiado ocupado a defender Israel das cr�ticas que lhe eram feitas. Ficou t�o mentalmente t�o ocupado nisso que o resto n�o... surgiu. Imagine algu�m acusa um seu conhecido por mentir em determinada situa��o em que sabe que ele n�o mentiu, � natural que o defenda. N�o se pode � definir por oposi��o aos acusadores, perdoando futuras mentiras.
Os coment�rios e actos pol�ticos Respons�veis n�o podem ser como o aquele jogo em que 2 grupos de pessoas puxam uma corda pelas suas pontas... tentando vencer o outro grupo ao extremar a sua posi��o. Se acha exageradas e irrespons�veis certas posi��es sobre os EUA, critique-as e exponha-as, mas n�o deixe que isso tolde o seu ju�zo. Eu tamb�m n�o gosto da onda de anti-americanismo de esquerda, mas julgo que o melhor � tentar n�o tomar partido de um lados s� para me opor ao outro. Acho que compreende bem o que estou a dizer. "N�o gosto do que este lado diz, por isso vou defender (quase) incondicionalmente o outro"...
Outra hip�tese � que eu, talvez por "wishufull thinking", esteja enganado e que (por exemplo) JPP ache mesmo que os EUA t�m muito pouco para se lhes criticar, e que a guerra recente, teve custos civis perfeitamente razo�veis. Tanto nisso como em outras situa��es em que define a sua posi��o como oposta � de outros.

(Filipe Gr�cio)

*

� uma verdadeira avalanche de propaganda. Da TSF j� n�o se espera objectividade , ainda mais de um qualquer programa como �O F�rum TSF� cujos participantes parecem ser �nicos em Portugal ( s�o sempre os mesmos�parece a Bancada Central nesse aspecto � e curiosamente todos baldeados � Soeiro P. Gomes) .Mas enfim s� ouve quem quer e fala quem pode. Vale a denuncia e a indigna��o.
Quanto ao � Clube de Jornalistas� da 2 de ontem , que falaria do 11 de Setembro , no �mbito de uma semana na 2 acerca desse acontecimento que mudou o Mundo, sinceramente quando soube que era este o programa sobre o 11 de Setembro e n�o outro qualquer , temi pela objectividade do mesmo at� pelo facto de na apresenta��o do mesmo aparecia a sombra de um tal de Jos� Goul�o , �cidad�o honor�rio� da Palestina , o que se n�o confirmou, quem l� estava era o Dr. Rui Pereira , e os jornalistas Luis Costa Ribas e Ces�rio Borga. Quando apurei que era sobre o papel do jornalista no 11 de Setembro e 11 de Mar�o e sua cobertura, com aquele painel fiquei logo desconfiado ( tirando o Dr Rui Pereira ) �ainda mais quando o moderador se p�s inicialmente a fazer umas considera��es tendenciosas. Acabei por ouvir cinco minutos�chegou.
Quando � cobertura do 11 de Setembro�do mais ir�nico que me lembro de cobertura jornal�stica e propagandistica no meio daquele terror todo � o Hissam Besseisso representante da AP em Portugal acolitado pelo Lu�s Fazenda e Jos� Goul�o, a dizer e a transpirar abundantemente que o 11 de Setembro era obra da Mossad ou dos judeus. Paralelamente ia-se apreciando a reac��o da rua �rabe, com aquela senhora de len�o na cabe�a a dar � l�ngua a gritar , ao estilo das mulheres sudanesas a cortar as partes intimas dos prisioneiros da for�a brit�nica do General Gordon nos idos dos sec XIX.

(Ant�nio Carrilho)

*

Partilho inteiramente do seu ponto de vista. Tamb�m vi o Clube de Jornalistas, e fiquei arrepiado! Sob a coordena��o do pivot, de cujo nome n�o me recordo, o programa foi um aut�ntico com�cio do PCP-BE (com a participa��o expecial da eurodeputada Ana Gomes, a nova Passionaria). A exalta��o desse mesmo pivot quando, por exemplo, Costa Ribas se atreveu a dizer que a n�o exist�ncia de legisla��o espec�fica ou carteira de jornalista nos EUA era uma boa coisa, fez lembrar as imagens do PREC. A deturpa��o da hist�ria atinge n�veis preocupantes: qualquer dia dir-se-� que o 11 de Setembro aconteceu por causa da invas�o do Iraque.


Poder-se ia, a prop�sito de terrorismo e de jornalismo, ter referido a presen�a de membros das FARC - organiza��o reconhecida pela UE como terrorista - na festa do Avante, sem qualquer refer�ncia, que eu tenha visto, na televis�o; ou tamb�m o facto de o presidente Bush ter admitido a exist�ncia de pris�es "ilegais", pris�es essas muito provavelmente criadas pelos seus antecessores, o que revelou um acto de grande coragem; ou a pura e simples "adivinha��o" do que foram as miss�es supostamente da CIA, por parte de grande n�mero de comentadores da nossa Esquerda, etc.

Para finalizar, como explicar as aspas na palavra "todos" no seguinte t�tulo de uma not�cia do Di�rio Digital, que transcrevo de seguida?
-------------------------------------------

EUA: Pent�gono pro�be tortura a �todos� os prisioneiros

O Pent�gono publicou esta quarta-feira uma nova directiva determinando que os militares norte-americanos respeitem o artigo 3 das Conven��es de Genebra, que pro�be a tortura, no tratamento de �todos� os prisioneiros.
�Todos os detidos devem ser tratados humanamente e de acordo com as leis norte-americanas, as leis da guerra�, refere a directiva.

A directriz � publicada no mesmo dia em que o presidente George W. Bush vai propor uma nova legisla��o para julgar os prisioneiros de Guantanamo.

Segundo a directiva, os militares norte-americanos �devem aplicar, qualquer que seja o estatuto legal do prisioneiro, as regras contidas no artigo 3 das Conven��es de Genebra de 1949�.

O artigo 3 das Conven��es de Genebra pro�be �os tratamentos cru�is e a tortura�. Determina igualmente que os soldados capturados devem �em qualquer circunst�ncia ser tratados humanamente sem distin��o de ra�a, cor, religi�o, sexo, origem, rendimento ou qualquer outro crit�rio�.

Segundo respons�veis norte-americanos, o novo manual do ex�rcito pro�be algumas t�cnicas de interrogat�rio de prisioneiros utilizadas pelos Estados Unidos desde os atentados de 11 de Setembro e acrescenta algumas que o Departamento de Defesa considera necess�rias.

As regras aplicam-se a todos ramos das for�as armadas e n�o apenas ao ex�rcito, n�o incluindo a CIA, que tamb�m foi investigada por maus-tratos de prisioneiros no Iraque e no Afeganist�o e por alegadamente manter suspeitos em pris�es secretas em v�rios locais do mundo desde 11 de Setembro de 2001.

Desde pouco depois destes ataques que se t�m registado protestos acerca dos direitos dos prisioneiros.

Organiza��es de direitos humanos e alguns pa�ses t�m pressionado a administra��o Bush para fechar a pris�o na base naval norte-americana em Guantanamo Bay, Cuba, quase desde que ela foi aberta em 2002 para prisioneiros da campanha contra a Al-Qaeda no Afeganist�o.

O escrut�nio ao tratamento dos prisioneiros pelos Estados Unidos aumentou em
2004 com a revela��o de fotografias de soldados norte-americanos agredindo, intimidando e abusando sexualmente de detidos em Abu Ghraib no Iraque.

Em Julho, o secret�rio adjunto da Defesa norte-americano, Gordon England, publicou uma nota interna afirmando que o ex�rcito dos Estados Unidos trataria os prisioneiros da �guerra contra o terrorismo� de acordo com o artigo 3 das Conven��es de Genebra.

A nota seguiu-se � decis�o, no final de Junho, do Supremo Tribunal dos Estados Unidos de invalidar os tribunais de excep��o de Guantanamo. O Supremo Tribunal considerou que o artigo 3 das Conven��es de Genebra se aplicava ao conflito com a Al-Qaeda.

Guantanamo tem actualmente cerca de 450 prisioneiros da �guerra contra o terrorismo�, mas apenas 10 foram at� agora acusados.

A Casa Branca anunciou hoje que o presidente George W. Bush vai propor, num discurso previsto para as 13:45 (18:45 em Lisboa), uma nova legisla��o para julgar os prisioneiros de Guantanamo.

O presidente dever� enviar ao congresso o projecto de lei da sua administra��o ainda hoje, precisou o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow.

Segundo Snow, trata-se de reagir � decis�o de 29 de Junho do Supremo Tribunal, mas a legisla��o n�o prev� a �mudan�a de estatuto de Guantanamo�.

Di�rio Digital / Lusa

06-09-2006 19:17:17
(Ricardo Peres)

*

Esta leitora tem toda a raz�o. Lembra-me que nem todos vivem no mesmo cont�nuo comunicacional e, por isso, tudo o que se escreve pode parecer cr�ptico, abstracto e alheio. Lembra tamb�m limita��es da escrita nos blogues que t�m a ver com as caracter�sticas do meio. N�o � um problema facilmente resol�vel para quem escreve nos blogues que t�m mecanismos de imediaticidade e refer�ncia que podem torn�-los incompreens�veis fora do mesmo espa�o de comunica��o, mas pode e deve ser tido em conta. A carta da leitora vai publicada sem a habitual cor azul para que se percebam os seus coment�rios que vinham originalmente tamb�m em azul.

Para quem, como eu, n�o vive em Portugal e apenas tem acesso � RTP Internacional o que hoje conta no seu post n�o se percebe. Este �, em meu entender, um dos grandes problemas dos weblogs. N�o existindo edi��o outra que a feita em causa pr�pria, raramente se encontra a preocupa��o de contar uma "hist�ria" com cabe�a, tronco e membros. Quem est� de fora e, como � o meu caso, ainda mais de fora, os weblogs parecem um mundo estranho onde tudo o que � escrito parece come�ar a meio. Bem sei que o weblog funciona num registo que vai do di�rio confessional ao mero registo de uma impress�o em modo de fragmento. No entanto, para quem, como o Jos� Pacheco Pereira faz do weblog um espa�o diverso do convencional, parece-me que muitas vezes as suas palavras mais se assemelham a recados internos, private jokes ou simplesmente estilha�os como �, afinal, a pr�tica comum deste tipo de comunica��o.

O exemplo do seu post de hoje � o paradigma do que acima descrevi e que me deixou e continua a deixar em branco. Junto lhe envio as suas palavras para que a minha opini�o fa�a ainda mais sentido. Ora siga-me:

Hoje, viveu-se um dia de permanente com�cio em muitos �rg�os de comunica��o social. Desde a TSF pela manh�, at� � "Opini�o P�blica" da SIC Not�cias de tarde, culminando no Clube dos Jornalistas na 2, sem qualquer esfor�o de "edi��o", sem sequer qualquer esbo�o de controv�rsia, assistiu-se a uma diatribe propagand�stica (at� aqui n�o consegui ainda compreender de que diatribe nos fala) completamente � solta, como se estiv�ssemos em Cuba ou na Venezuela de Chavez e fossem o PCP e o BE a mandar nas televis�es. (continuo na mesma. com a mesma pergunta: que diatribe?) Corrijo: hoje mandaram nas televis�es, diante do sil�ncio comprometido e das deser��es de muitos. (que muitos? que sil�ncio comprometido?) Todo o discurso, pesado e denso, de m�ltiplas proclama��es, grandes indigna��es, grandes adjectivos, grandes diaboliza��es, foi desde o anti-americanismo obcecado, que n�o hesita nas maiores inverdades e mentiras, at� � proclama��o indignada contra as tenebrosas viola��es dos direitos humanos, por esse Novo Estado Fascista que s�o os EUA. (aqui percebo que devem, mas repare que � um devem, ter falado dos Estados Unidos da forma como descreve. O que ter�o dito? Um exemplo? Continuo a ler... querendo perceber do que nos fala mas sem nada que o sustente)

O Clube dos Jornalistas sintetizou tudo quando, a pretexto do 11 de Setembro de Nova Iorque e Washington, passou imagens do golpe chileno de Pinochet, "dizendo-nos" com as imagens que este � o facto original e puro, o resto s�o manipula��es �mpias. (compreendo aqui que se passou alguma coisa num programa da RTP2 mas, em concreto, continuo na mesma. Foram, eventualmente?! passadas duas imagens, estas? e relacionadas da forma como... mas qual forma? o que foi dito? Eram realmentes estas as duas imagens passadas??) Isto aconteceu The image , isto n�o http://www.reformation.org/evil-twin-towers.jpg. Isto deve-se pensar, isto serve apenas para nos manipular, para cercear as nossas liberdades, para servir os obscuros interesses militares e econ�micos do Imp�rio. A realidade do terrorismo dissipa-se, o terrorismo torna-se invisivel, hipot�tico, "pretextual" como nas melhores teorias conspirativas. (o que disseram nesse programa foi, penso estar a perceber mas o texto � t�o falho de informa��o que n�o garanto nada, penso que nesse programa ter�o dito que n�o houve 11 de Setembro ou que um acontecimento decorreu do outro ou ainda que, o qu�?) Num notici�rio da SIC(uma vez aqui chegada julgo compreender que fez zapping. da RTP2 passou para a SIC.) Referia-se de passagem que, no Ir�o, milhares de volunt�rios se ofereceram, em resposta ao apelo de alguns parlamentares iranianos, para servir de suicidas. Mas como era poss�vel sequer reparar nesta not�cia, incorpor�-la no discurso? (era imposs�vel incorporar esta not�cia da SIC em que discurso? No da RTP2? no seu? no da SIC? Ainda n�o percebi, at� aqui, o que sucedeu ao certo) N�o era. O terrorismo, mesmo ali diante dos nossos olhos, desaparecia, esbatia-se, dissolvia-se, normalizava-se. (Aqui est� a falar da SIC ou da RTP2?) Tornava-se impens�vel. S� o Monstro americano existe, o resto s�o tamb�m imagens espelhares do mesmo Monstro. Estamos feitos.

Para mim torna-se cada vez mais insustentavel ler jornais ou weblogs. Sobretudo os portugueses, � destes que falo. Parecem-me sa�dos do mesmo caldeir�o de equ�vocos e enganos e/ou dificuldades de comunica��o. Uns, creio, de causa prosaica e outros nem por isso. Uma coisa � certa, para quem se dedica apenas a ler o que outros escrevem a vida n�o est� nada f�cil. Enfim, para ser menos dura... e para o citar: "estamos feitos!"

(Teresa Santos)

*
Sobre o coment�rio da Sr� D. Teresa Santos, devo dizer-lhe que contr�riamente n�o acho que ela tenha alguma raz�o, nem mesmo atenuante, j� que vivendo no estrangeiro (vago), tem acesso a not�cias, como confessa atrav�s da RTP-I que apesar dos muitos eventuais defeitos deve relatar minimamente o que se passa em Portugal, al�m do mais vivendo no estrangeiro e dando de barato ao tempo a que isso dura, dever� falar a l�ngua de acolhimento, acedendo assim a uma generalidade de fontes noticiosas atrav�s dos meios de comunica��o local (a menos que estejamos a falar de um estrangeiro algures saariano, amaz�nico ou quejando).

N�o vi o programa citado, nem mesmo televis�o nesse dia e contudo entendi perfeitamente todo o seu post, bem como as inten��es e intencionalidades que se percebem do texto.

Quanto � Sr� D. Teresa Santos��..al� Marte !

(Castello Branco)

6.9.06
 


BIBLIOFILIA: LIVROS SOBRE LIVROS



 


LENDO
VENDO
OUVINDO

�TOMOS E BITS

de 6 de Setembro de 2006


Na SIC Not�cias no "opini�o p�blica" est� em pleno um com�cio do PCP e do BE (mais do PCP do que do BE) a pretexto dos "voos da CIA".

*

De manh�, ao pequeno almo�o, muita gente a ler jornais. Os jornais eram o Metro e o Destak, dois gratuitos. O problema bem grave para a imprensa que custa dinheiro, � que a leitura dos dois gratuitos, que tamb�m fiz, me d� o essencial das not�cias com mais do que um m�nimo de qualidade. Leio o Destak e o Metro e posso dizer que li os jornais.

Partilho a sua opini�o acerca do jornal Metro. No meu caf� matinal costumo encontrar os jornais "comuns" ocupados, pelo que me habituei a ler o Metro que, por ser distribuido gratuitamente, encontram-se sempre bastantes exemplares disponiveis. A qualidade das not�cias nacionais, internacionais e at� de algumas colunas de opini�o, ultrapassam, n�o poucas vezes, a dos nossos jornais comerciais.
A quem nunca leu, aconselho.

(Luis Vaz de Carvalho)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM S. MARTINHO DO PORTO, PORTUGAL



Vendedora de bolos.

Desconfio que h� por a� gente que quando vir esta fotografia n�o deixar� certamente de sorrir. H�-de lembrar-se das bolas de Berlim, dos past�is de nata, das tran�as e de tantos outros bolos que ter� comido em muitos Ver�es de S. Martinho.
Noutros tempos, a vendedora (quase todos a tratam pelo nome) trazia a caixa branca � cabe�a. Com o peso dos anos veio o peso da caixa e h� uns anos apareceu com este carrinho. A bola de Berlim n�o precisa da buzina para se fazer anunciar. A roupa branca e as crian�as a correr para o carro chegam muito bem para ver a lata ao longe. A muitas conhece-lhes o nome, como j� conheceu o dos pais. Pacientemente, vai puxando os tabuleiros e mostrando os bolos: "Areia n�o, meninos!". Despedimo-nos dela no final da praia, quase sempre "at� para o ano".

(Isabel Goul�o)

5.9.06
 


EARLY MORNING BLOGS

858 - Poema manuscrito nas folhas brancas de um livro e l� esquecido

N�o teimes, n�o insistas, n�o repitas,
mas vive como quem, teimando, insiste,
e, porque insiste, como que repete.
Esse das sombras o sil�ncio fluido
escoando-se por ti quando n�o passas,
parado que ouves, n�o mais � que o tempo
de hoje em que vives s� alheias vidas,
de ti alheadas qual de ti vividas.

Por outro tempo te criaste impuro,
difuso e firme, no clamor de versos
que os tempos de hoje reconstroem como
delidas cartas um fogacho acendem.
Outro que seja, � teu, pois o escutaste
na dor de apenas ser, na dor de ouvir
qu�o desatentos menos homens s�o
os homens todos. Teu, sem que teu seja,
que destes e dos outros se far�
serena ci�ncia de possu�rem tudo
o que juntares para ser roubado,
quando, parado no sil�ncio fluido,
se escoava nele o pr�prio estar na vida,
atento como estavas, poeta como eras
daquele ser n�o-sendo que eram todos
em ti, dentro de ti, � tua volta.

(Jorge de Sena)

*

Bom dia!

4.9.06
 


INTEND�NCIA

Actualiza��o em curso dos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.
 


TRABALHO DE LOUCOS


H� coisas que ningu�m com bom senso faz, e uma delas � escrever uma enciclop�dia ou um dicion�rio. �, pela sua natureza, um trabalho colectivo e mesmo o c�lebre Dr. Johnson tinha uns "negros" para o ajudar. Eu, que estou a escrever um dicion�rio que na pr�tica � uma enciclop�dia, sei bem at� que ponto � do dom�nio da loucura meter-me nisto. Acho que n�o vai acabar bem, as "entradas" ganham vida pr�pria e um dia assaltam-me � esquina de qualquer estante. Nenhum software comercial para mortais comuns verdadeiramente suporta o tamanho, a conjuga��o entre dados formatados e texto livre e o hardware, de centenas de gigabites (n�o, ainda est� longe dos terabites, mas l� chegar�...) que sai da caixa electr�nica e passa para livros e fichas colocados por ordem alfab�tica (das entradas) , serpenteia das estantes para caixas e livros e pilhas de artigos e jornais. Distantes patronos para quem olho com rever�ncia e humildade? Lineu, Humboldt, o dr. Johnson, os enciclopedistas...

H� pelo menos um dilema que n�o tenho: n�o tenho que escolher nada, � suposto que l� esteja tudo, nomes, organiza��es, jornais, eventos, factos e fact�ides, palavras, jarg�o, cruzando-se entre si numa rede quase infinita. A rede d�-me quase tanto trabalho como as entradas. Cada uma faz o milagre da multiplica��o dos p�es e gera muitas outras, logo tudo cresce exponencialmente. � biol�gico, n�o � qu�mico, nem mec�nico. Quanto mais se sabe, mais falta saber, como naquelas hist�rias borgeanas sobre o mapa perfeito, que tem o tamanho do territ�rio a representar ou o olhar dos fractais para a linha da costa, do conforto da fotografia a�rea, com a costa talhada a rigor, para passar para a terra, rocha a rocha, e depois duna a duna, areia a areia...



(Pequena parte da letra M, entre Maio 68, Marcuse e M�sica.)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: NADA DE NOVO SOBRE A TERRA

-Mire vuestra merced -respondi� Sancho- que aquellos que all� se parecen no son gigantes, sino molinos de viento, y lo que en ellos parecen brazos son las aspas, que, volteadas del viento, hacen andar la piedra del molino.

-Bien parece -respondi� don Quijote- que no est�s cursado en esto de las
aventuras: ellos son gigantes; y si tienes miedo, qu�tate de ah�, y ponte
en oraci�n en el espacio que yo voy a entrar con ellos en fiera y desigual
batalla.
(...)

-�C�mo dices eso? -respondi� don Quijote-. �No oyes el relinchar de los caballos, el tocar de los clarines, el ruido de los atambores?

-No oigo otra cosa -respondi� Sancho- sino muchos balidos de ovejas y carneros.
(...)

Y, diciendo esto, puso las espuelas a Rocinante, y, puesta la lanza en el ristre, baj� de la costezuela como un rayo. Diole voces Sancho, dici�ndole:

-�Vu�lvase vuestra merced, se�or don Quijote, que voto a Dios que son carneros y ovejas las que va a embestir! �Vu�lvase, desdichado del padre que me engendr�! �Qu� locura es �sta? Mire que no hay gigante ni caballero alguno, ni gatos, ni armas, ni escudos partidos ni enteros, ni veros azules ni endiablados. �Qu� es lo que hace? �Pecador soy yo a Dios!

(foto e transcri��o do Quixote por Fernando Igreja.)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM CABANES - VILA POUCA DE AGUIAR, PORTUGAL



Desfolhada,2 de Setembro de 2006.

(Fernando Igreja)
 


EARLY MORNING BLOGS

857 - Reading Moby-Dick at 30,000 Feet

At this height, Kansas
is just a concept,
a checkerboard design of wheat and corn

no larger than the foldout section
of my neighbor's travel magazine.
At this stage of the journey

I would estimate the distance
between myself and my own feelings
is roughly the same as the mileage

from Seattle to New York,
so I can lean back into the upholstered interval
between Muzak and lunch,

a little bored, a little old and strange.
I remember, as a dreamy
backyard kind of kid,

tilting up my head to watch
those planes engrave the sky
in lines so steady and so straight

they implied the enormous concentration
of good men,
but now my eyes flicker

from the in-flight movie
to the stewardess's pantyline,
then back into my book,

where men throw harpoons at something
much bigger and probably
better than themselves,

wanting to kill it,
wanting to see great clouds of blood erupt
to prove that they exist.

Imagine being born and growing up,
rushing through the world for sixty years
at unimaginable speeds.

Imagine a century like a room so large,
a corridor so long
you could travel for a lifetime

and never find the door,
until you had forgotten
that such a thing as doors exist.

Better to be on board the Pequod,
with a mad one-legged captain
living for revenge.

Better to feel the salt wind
spitting in your face,
to hold your sharpened weapon high,

to see the glisten
of the beast beneath the waves.
What a relief it would be

to hear someone in the crew
cry out like a gull,

Oh Captain, Captain!
Where are we going now?

(Tony Hoagland)

*

Bom dia!

3.9.06
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

�TOMOS E BITS

de 3 de Setembro de 2006


http://z.about.com/d/hartford/1/0/q/cow11.jpgA julgar por uma "ac��o" do BE em Pevid�m, a prop�sito do desemprego, percebe-se como o BE conhece mal o pa�s, os oper�rios e os desempregados. Um dos desempregados de Pevidem quando viu uns meninos a saltarem dentro de umas vacas de cart�o, numa "cow parade" de "vacas magras", sentiu-se ridicularizado e protestava alto e bom som contra as "fantochadas". Para ele, que n�o vivia em Lisboa nem em Bruxelas, que n�o fazia ideia do que seja uma "cow parade", o bailado das vacas s� podia ser "gozo" com a sua condi��o e dificuldades. O BE, urbano e, na propaganda, infanto-juvenil, est� bem para a actual era dos engra�adinhos, mas n�o sabe nada do pa�s real. A n�o ser que o objectivo tenha sido umas imagens garantidas para o telejornal, para competir com o futebol e a Festa do Avante!, com os desempregados como pano de fundo, cen�rio, massa de manobra, rebanho.
 


EARLY MORNING BLOGS

856 - L' �ternit�

Elle est retrouv�e!
Quoi? L' �ternit�.
C est la mer m�l�e
Au soleil

Mon �me �ternelle,
Observe ton voeu
Malgr� la nuit seule
Et le jour en feu.

Donc tu te d�gages
Des humains suffrages,
Des communs �lans!
Tu voles selon...

� Jamais l' �sperance.
Pas d' orietur
Science et patience,
Le suplice est sur.

Plus de lendemain,
Braises de satin,
Votre ardeur
C' �st le devoir.

Elle est retrouv�e!
� Quoi? � L' �ternit�.
C' est la mer m�l�e
Au soleil.

(Arthur Rimbaud)

*


Bom dia!

2.9.06
 


RETRATOS DO TRABALHO NA NAZAR�, PORTUGAL



Vendedora de peixe seco. Ela mesma exp�e o peixe ao sol - Nazar�. Agosto de 2006.

(sandra costa)
 


BIBLIOFILIA: GRANDES CAPAS DE QUANDO O MUNDO ERA SIMPLES


Elei��es coloniais.
 


FONTES PARA A HIST�RIA DO ENGRA�ADISMO NACIONAL



Ordinariamente, chamam-se, � francesa � espirituosos - uns sujeitos dotados de g�nio motejador, aplaudidos com a gargalhada, e aborrecidos �queles mesmos que os aplaudem. S�o os caricaturistas da graciosidade. 0 "espirituoso", � moderna, abrange os variados of�cios que, antes da nacionaliza��o daquele estrangeirismo, pertenciam parcialmente aos seguintes personagens, uns de casa, outros importados:

Chocarreiro � trejeiteador � arlequim � palha�o � proxinela � polichinelo � maninelo � tru�o � jogral � goliardo �histri�o � farsista � farsola � vegete � bobo � pierrot � momo � buf�o � foli�o, etc.


Esta riqueza de sinon�mia denota que o Bobo medieval bracejou na Pen�nsula Ib�rica verg�nteas e enxertias em tanta c�pia que foi preciso dar nome �s esp�cies.
Ora, o "espirituoso" tem de todas. A antiga jogralidade, que era mester vil, acendrada nos secretos cris�is do progresso social, chegou a n�s afidalgada em "espirito", e com o foro maior de faculdade poderosa, ca�stica, implac�vel. Ainda assim o estreme espirito portugues, por mais que o afiem e agucem, � sempre rombo e lerdo: n�o se emancipa da velha escola das farsas: � chala�a.

(Camilo Castelo Branco, Novelas do Minho)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM BOCAREY, FILIPINAS



Fotografia tirada em Abril de 2006.
In�cio da constru��o de um castelo de areia. Normalmente � um trabalho quase familiar, com muitas crian�as a ajudar (trabalho infantil?...). O castelo pode ser "encomendado" ou, se � feito sem encomenda, � pedida uma contribui��o se se quiser tirar uma fotografia ( de noite o castelo � "enfeitado"com velas e o resultado � muito bonito).

(Daniela Silva)
 


EARLY MORNING BLOGS

855 - Memento homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris.


O p� futuro, em que nos havemos de converter, � vis�vel � vista, mas o p� presente, o p� que somos, como poderemos entender essa verdade? A resposta a essa d�vida ser� a mat�ria do presente discurso.

Duas coisas prega hoje a Igreja a todos os mortais, ambas grandes, ambas tristes, ambas temerosas, ambas certas. Mas uma de tal maneira certa e evidente, que n�o � necess�rio entendimento para crer: outra de tal maneira certa e dificultosa, que nenhum entendimento basta para a alcan�ar. Uma � presente, outra futura, mas a futura v�em-na os olhos, a presente n�o a alcan�a o entendimento. E que duas coisas enigm�ticas s�o estas? Pulvis es, tu in pulverem reverteris: Sois p�, e em p� vos haveis de converter. - Sois p�, � a presente; em p� vos haveis de converter, � a futura. O p� futuro, o p� em que nos havemos de converter, v�em-no os olhos; o p� presente, o p� que somos, nem os olhos o v�em, nem o entendimento o alcan�a. Que me diga a Igreja que hei de ser p�: In pulverem reverteris, n�o � necess�rio f� nem entendimento para o crer. Naquelas sepulturas, ou abertas ou cerradas, o est�o vendo os olhos. Que dizem aquelas letras? Que cobrem aquelas pedras? As letras dizem p�, as pedras cobrem p�, e tudo o que ali h� � o nada que havemos de ser: tudo p�.

(Padre Ant�nio Vieira)

*

Bom dia!

1.9.06
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

�TOMOS E BITS

de 1 de Setembro de 2006


O Jornal de Letras � muitas vezes o mais aborrecido dos jornais, retrato dos gostos culturais da gera��o de 1962 e de um establishment cultural em implos�o, cada vez com menos influ�ncia e "vida". O jornal vive de subs�dios indirectos do Estado, atrav�s de compras institucionais que o tornam o jornal oficioso dos leitorados e do Instituto Cam�es por todo o mundo e, em Portugal, um jornal para professores. Acontece, o tempo � sempre cruel.

No fio dos seus dedos encontram-se �s vezes, coisas �nicas, coisas que s� poderiam estar ali. O �ltimo n�mero dedicado � guerra civil de Espanha (o jornal n�o est� em linha e nunca pareceu interessar-se sequer em ter um m�nimo de informa��es na rede, com excep��o de uma liga��o secund�ria no lugar da Vis�o) inclui um interessante ensaio de Ant�nio Pedro Pita sobre o papel da guerra na arte e literatura portuguesas, de leitura obrigat�ria para quem s� acede a estas quest�es atrav�s do revisionismo hist�rico que hoje faz moda.

Mas este n�mero tem outro m�rito, um artigo de Luisa Dacosta sobre a morte de Manuel Lopes, que conheci sempre como o "senhor Manuel da P�voa". O senhor Manuel da P�voa foi o respons�vel pela Biblioteca da P�voa e o animador de muitas iniciativas locais, como a constru��o e lan�amento da lancha poveira, a que dedicou muitas das suas prec�rias energias. Era daquelas raras pessoas que se n�o existisse l�, onde viveu e morreu, tudo seria diferente. Estava condenado � morte muito tempo antes de morrer, tinha mau feitio e uma dedica��o sem limites �s suas m�ltiplas obras. Tinha tudo contra ele, porque o senhor Manuel da P�voa era an�o. S� o Jornal de Letras se lembrou dele numa publica��o nacional. H� algo de errado nas famas de hoje. Muito errado.

[Actualizado: por gentileza de Isabel Goul�o, acrescento mais algumas refer�ncias a Manuel Lopes: de Jos� Milhazes, e de uma not�cia do P�blico em que se refere a doa��o da sua casa e dos seus livros � C�mara da P�voa do Varzim.]
 


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: QUANDO AS SOMBRAS ILUMINAM

http://marsrovers.jpl.nasa.gov/gallery/press/spirit/20060830a/P2763_L4_montage-A945R1_br.jpg

O mesmo s�tio e o passar do tempo. O passar dos dias (dos sols, neste caso), o passar da luz, o passar das sombras. O "Esp�rito" tamb�m l� est� olhando, no frio do Inverno marciano, as outras sombras. Que guarda ele no seu interior el�ctrico a n�o ser a luz passageira do sol de Marte, pousada nas suas asas agora quietas para n�o se gastarem? O "esp�rito" claro, meia d�zia de prec�rios fot�es, o pequeno fio de vida que o alimenta. Para ver as sombras.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM BUDAPESTE, HUNGRIA



Poda de uma �rvore num jardim p�blico no centro de Budapeste h� dois dias.

(Lu�s Miguel Reino)
 


COISAS DA S�BADO: O MANIFESTO DA DIREITA E UM DEUS IR�NICO


Manuel Monteiro e o PND divulgaram um documento a que chamaram Proposta para um Manifesto da Direita em Portugal. O documento foi recebido com a habitual comisera��o com que as iniciativas de Manuel Monteiro s�o recebidas, mas merece uma aten��o mais cuidada. A come�ar, porque essa comisera��o � um reflexo comunicacional do banimento com que o PP de Portas pretende ostracizar Monteiro, mais do que uma considera��o do real m�rito do documento.

Se n�o fosse Monteiro o autor, mas sim Portas, o documento teria certamente outro tratamento e seria saudado de outra maneira, em vez de ocultado. O que �, em primeiro lugar, interessante no manifesto � que ele � uma s�ntese das ideias que deram origem ao PP, e que circulam nos corredores de uma �nova direita� ligada ao grupo de Portas no CDS-PP (Grupo parlamentar, blogues, revista Atl�ntico, etc.), e que Paulo Portas n�o pode hoje enunciar, mas Monteiro pode. � um caso de puni��o divina em que um Deus cruel e ir�nico misturou protagonistas e ideias, dando a cada um a fala do outro, e a impossibilidade de falar a pr�pria.

Monteiro diz aquilo que disse (e pensa) Portas, porque ele, Monteiro, nasceu com essa fala a que deu o seu corpo pol�tico. Portas n�o pode dizer aquilo que diz Monteiro porque o uso daquela fala, com que fez o PP, era para ele instrumental em rela��o a uma ambi��o maior, a de tomar conta do PSD. Enquanto para Monteiro o PND � a encarna��o actual e virgem do projecto do PP, que ele tomou e toma a s�rio, para Portas o PP servia para demarcar-se do velho CDS e do PSD e para colocar na ordem os dirigentes do PSD que se opunham a uma �frente de direita�, os �cavaquistas� que foram o seu alvo preferencial no Independente, o cadinho do PP.

Para prosseguir esse objectivo, Portas vendeu o seu corpo pol�tico a tudo, - ao PS, ao PSD, � Constitui��o Europeia, ao estatismo anti-liberal, �, mas n�o o conseguiu e ficou num limbo de onde n�o sabe sair. Tem um partido na m�o, mantendo Ribeiro e Castro numa teia de que n�o se consegue livrar, mas hesita em querer ou n�o o CDS-PP porque n�o sabe o que lhe � mais �til, a �nica considera��o que conta. Por isso, a Proposta para um Manifesto da Direita em Portugal lhe � particularmente incomoda e tudo far� para que n�o seja levada a s�rio. � como se uma parte do passado se recusasse a ir embora e viesse todos os dias para morder o presente.

Como esse banimento aqui n�o se aplica, voltaremos ao Manifesto.

*
Portas, Monteiro e Conan Doyle

Uma troca de identidades (como a que JPP refere para Paulo Portas e Manuel Monteiro) � descrita num dos poucos contos de teor humor�stico que Conan Doyle escreveu - �A grande experiencia de Keinplatz� (inclu�do no livro �O p� do Diabo�, colec��o Argonauta N� 399):

Von Baumgarten, um austero professor de Psicologia, auto-hipnotiza-se depois de ter induzido em transe um irreverente aluno (que acedeu sujeitar-se � experi�ncia em troca da promessa da m�o da filha do mestre).

Ao fim de algum tempo de absoluto sil�ncio, as duas almas regressam aos corpos, mas trocadas - tudo se passando na presen�a dos mais distintos s�bios da Europa que ficam at�nitos com a sabedoria do pretenso jovem e com os dislates do "grande mestre"...

(C. Medina Ribeiro)
 


EARLY MORNING BLOGS

854 - The Unknown Citizen


(To JS/07/M/378/ This Marble Monument Is Erected by the State)

He was found by the Bureau of Statistics to be
One against whom there was no official complaint,
And all the reports on his conduct agree
That, in the modern sense of an old-fashioned word, he was a saint,
For in everything he did he served the Greater Community.
Except for the War till the day he retired
He worked in a factory and never got fired
But satisfied his employers, Fudge Motors Inc.
Yet he wasn't a scab or odd in his views,
For his Union reports that he paid his dues,
(Our report on his Union shows it was sound)
And our Social Psychology workers found
That he was popular with his mates and liked a drink.
The Press are convinced that he bought a paper every day
And that his reactions to advertisements were normal in every way.
Policies taken out in his name prove that he was fully insured,
And his Health-card shows he was once in hospital but left it cured.
Both Producers Research and High-Grade Living declare
He was fully sensible to the advantages of the Installment Plan
And had everything necessary to the Modern Man,
A phonograph, a radio, a car and a frigidaire.
Our researchers into Public Opinion are content
That he held the proper opinions for the time of year;
When there was peace, he was for peace: when there was war, he went.
He was married and added five children to the population,
Which our Eugenist says was the right number for a parent of his generation.
And our teachers report that he never interfered with their education.
Was he free? Was he happy? The question is absurd:
Had anything been wrong, we should certainly have heard.

(W.H. Auden)

*

Bom dia!

� Jos� Pacheco Pereira
In�cio
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